Quem está acompanhado a reprise de Chocolate com Pimenta tem visto Dália, uma garota doce e sonhadora que trabalha na fábrica de chocolates. Intérprete da personagem, Carla Daniel é filha de uma atriz famosa que passou por uma grande tragédia em sua vida.

Dorinha Duval começou sua carreira como vedete do teatro de revista nos anos 1950, sendo eleita três vezes consecutivas uma das Certinhas do Lalau, lista criada por Stanislaw Ponte Preta. Depois de atuar em filmes de sucesso, ela fez sua estreia na TV na novela Verão Vermelho (1969).

A irmã Cajazeira

Após a estreia, Dorinha esteve presente em Irmãos Coragem (1970), Minha Doce Namorada (1971) e Selva de Pedra (1972). O grande sucesso veio em O Bem-Amado (1973), novela de Dias Gomes. Ela viveu Dulcinéia, uma das três irmãs da família Cajazeira.

Moralista, ela mantinha um caso secreto com o prefeito Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo). Ela acaba ficando gravida e se casa com Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz), que pensa ser pai da criança.

O Espigão (1974), Cuca Legal (1975), O Feijão e o Sonho (1976), Maria Maria (1978), Sinal de Alerta (1979) e Sítio do Picapau Amarelo, entre 1977 e 1980, foram algumas das produções em que a atriz esteve presente. Mas sua vida ficou marcada por uma grande tragédia.

Um crime que chocou o Brasil

No dia 5 de outubro de 1980, Dorinha pegou uma arma e disparou várias vezes contra o seu marido, Paulo Sérgio Garcia de Alcântara, que acabou morrendo.

Segundo reportagens da Revista Manchete, Paulo era viciado em jogos, deixando as dívidas para a atriz. Além disso, ele muitas vezes agia de forma violenta, agredindo verbalmente Dorinha. Ela também sofria com crises de ciúme, pois o marido trabalhava em uma agência de modelos.

Segundo a atriz, no dia do crime ela teria sido rejeitada pelo marido, que a teria humilhado.

“Você está velha, feia, gorda. Você já era. Porque eu não quero nada com uma velha como você. Vê se olha no espelho! Você acha que eu vou querer alguma coisa contigo?”, teria dito o marido.

Em seu livro Em Busca da Luz – Memórias de Dorinha Duval Narradas a Luiz Carlos Maciel e Maria Luiza Ocampo, lançado em 2002, ela contou detalhes do assassinato de Paulo.

“O Paulo me deu vários tapas e pontapés, eu ameacei me matar e ele disse que seria uma ótima ideia e que a arma estava na gaveta. Após ser atingida por um tapa na região da cabeça, fugi dele, peguei a arma e disparei. Daí tudo ficou escuro na minha frente. Só me lembro de ver o Paulo caído, ensanguentado”, contou.

Um julgamento de idas e voltas

O caso foi levado à justiça e a atriz respondeu o processo em liberdade. Em novembro de 1983, o júri decidiu, por cinco votos a dois, que Dorinha Duval tinha agido em legítima defesa. Mas acabou sendo condenada por excesso culposo, ou seja, por se ter excedido nos meios empregados na sua legítima defesa. A pena foi fixada em um ano e seis meses de prisão.

Mas desembargadores anularam o julgamento alegando suspeição dos jurados e deficiência nas perguntas feitas na sala secreta. Em 11 de março de 1989, Dorinha foi novamente julgada e condenada a seis anos de prisão por homicídio sem agravantes. A atriz cumpriu nove meses em regime semiaberto e depois ficou em regime aberto.

Uma vida longe das câmeras

Carla Daniel e seus pais

Afasta da TV, ela passou a investir na carreira de artista plástica. Em entrevista à Folha de S. Paulo em 2001, disse que ainda era contratada da Globo, mesmo estando longe da emissora desde a década de 1980.

“Sou muito grata à Globo pelo salário e plano de assistência médica, que inclui até a cremação de meu corpo. Vou vivendo até quando Deus permitir”, disse Dorinha.

Hoje, com 93 anos, vive reclusa no Rio de Janeiro. Já Carla Daniel, filha de seu relacionamento com Daniel Filho, está longe da TV desde que participou da série Brasil a Bordo, de 2018.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor