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A reprise de “Laços de Família” vem fazendo sucesso no “Vale a Pena Ver de Novo”. O clássico de Manoel Carlos completou 20 anos em 2020. A reexibição veio em boa hora. E uma das personagens mais marcantes da história foi a Íris, o primeiro papel de grande destaque de Deborah Secco na televisão. Na verdade, foi seu melhor momento da carreira. A menina era o perfil mais complexo do enredo, alternando traços claros de vilania com momentos de bastante sofrimento.
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Em uma olhar raso, Íris seria classificada como uma vilã. Mas não era. A personagem, inicialmente, tinha pouca relevância na novela, mas ao longo dos meses foi crescendo até tomar conta da trama e protagonizar cenas emblemáticas no núcleo principal. A virada da filha de Ingrid (Lília Cabral) acontece quando o pai, Aléssio (Fernando Torres), falece em um dos momentos mais dramáticos e sensíveis do folhetim. Isso porque a garota é irmã de Helena (Vera Fisher), a protagonista, e sempre almejou sair do sul do país para conhecer o Rio de Janeiro e ainda ficar perto de seu amor platônico, o grosseiro Pedro (José Mayer).
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O objetivo de Íris é alcançado quando Helena a convida para passar uns tempos em seu apartamento, no Leblon. E é a partir da mudança, antes temporária e depois definitiva, que ocorre o crescimento da personagem. Isso porque passa a representar a voz do público. A menina chega justo em um momento de grande conflito entre mãe e filha, que entram em guerra por Edu (Reynaldo Gianecchini). Enquanto Camila (Carolina Dieckmann) transborda grosseria com a mãe porque não sabe lidar com o amor que sente pelo padrasto, Helena sofre sem saber como se portar diante das constantes agressões da filha. Não demora para a irmã da protagonista perceber o que acontece diante de seus olhos.
E Íris compra a briga da irmã sem pensar. Na verdade, une o útil ao agradável. Afinal, Íris nunca foi com a cara de Camila e vice-versa. A personagem também sempre invejou os privilégios de Camila. Mas o amor que sente por Helena é verdadeiro. Tanto que gostou da irmã assim que a conheceu e ambas se apoiaram muito após o falecimento de Aléssio. Mas, diante de Helena, Íris se porta como uma menina meiga e ingênua. Já com os demais não esconde seu jeito provocativo. Tanto que não perde a oportunidade de tirar a ‘sobrinha’ do sério com seu deboche.
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É justamente através da ironia que Íris vomita as verdades que o telespectador quer dizer a Camila. Helena engole a seco muitos dos ataques de Camila porque é sua filha. E a protagonista praticamente se anula pela felicidade da herdeira. Já Íris não se conforma e parte cada vez mais para o ataque. O apelido que deu para Camila até hoje é lembrado pelos fãs da trama: Judas. A cena em que escreve no espelho do banheiro (com um batom vermelho) o xingamento, para o choque de Camila, é uma das mais marcantes. E os embates são brilhantemente interpretados por Deborah Secco e Carolina Dieckmann. As duas crescem quando estão juntas. A grande ironia do núcleo é a aparente “vilã” ganhar torcida do público por defender a protagonista, quando na maioria dos folhetins a situação é oposta —– a vilã é odiada e por prejudicar a protagonista. A filha acaba virando a “vilã”, mesmo não sendo.
Claro que Camila ter sido a única odiada nos anos 2000 expõe o machismo da época. Afinal, Edu é tão canalha quanto a filha de Helena. Ele a cortejou descaradamente e ela também não quis evitar em momento algum. Praticamente se enfiou na mansão de Alma (Marieta Severo) de forma bem descarada. Mas, há 20 anos, o telespectador só crucificava Camila. E Íris era essa voz.
Caso a novela fosse produzida em 2020, provavelmente, a irmã de Helena atacaria Edu tanto quanto ataca Camila. O que seria bem mais justo. O fato é que a personagem seguiria sendo amada por grande parte da audiência. Mesmo com suas atitudes controversas. Vale lembrar que a forma como trata Ingrid, sua mãe, é cruel e seu comportamento diante da então esposa de Pedro, a amargurada Silvia (Eliete Cigarini), também provoca repulsa. Mas com Camila esse jeito combativo cai nas graças de quem assiste. E tem sido um prazer rever a trajetória de Íris em “Laços de Família”. A melhor personagem de Deborah Secco, que brilhou absoluta.