Ex-mulher do apresentador Jô Soares e musa da televisão nas décadas de 1970 e 1980, Sylvia Bandeira fez história com papéis de mulheres elegantes e ricas.

Sylvia Bandeira
Reprodução / YouTube

No entanto, o perfil sofisticado da atriz acabou afetando a escalação dela para o remake de Selva de Pedra, produzido pela Globo em 1986.

A atriz foi dispensada às vésperas da estreia da novela, após as gravações de vários capítulos, e substituída por Maria Zilda Bethlem.

[anuncio_1]

Grã-fina demais

Selva de Pedra - Maria Zilda Bethlem e Walmor Chagas
Divulgação / Globo

Em Selva de Pedra, Sylvia iria interpretar Laura, a fútil e interesseira esposa de Aristides Vilhena (Walmor Chagas). A atriz, depois de dois meses envolvida com o remake, foi substituída em cima da hora por Maria Zilda – que teve apenas dois dias para refazer todas as cenas filmadas por Bandeira.

Produção e elenco ficaram surpresos com a troca. Contudo, Walter Avancini, responsável pela direção dos 20 primeiros capítulos da regravação, não se mostrou nem um pouco abalado com a mudança.

“Para uma novela, 20 capítulos não é nada. Ela não teve culpa, mas não nos sobrava tempo para trabalhar com ela”, declarou ele em entrevista ao Jornal do Brasil, em 23 de fevereiro de 1986.

Nos bastidores da novela, o comentário era de que Sylvia Bandeira foi dispensada da trama por ser “grã-fina demais” para Laura, que era rica, porém vulgar.

Elenco descontente

Selva de Pedra - Fernanda Torres e Tony Ramos
Divulgação / Globo

Na mesma publicação, alguns nomes do elenco se mostraram inconformados com a saída de Sylvia. Tony Ramos, intérprete do protagonista Cristiano, disse à reportagem que não entendeu a razão que levou os diretores a tomarem tal decisão, que “Sylvia era uma presença forte e que representa bem” e que o melhor para o folhetim era que situação não tivesse acontecido com ninguém.

“Minha preocupação foi de ordem artística. Para mim, tanto faz gravar o capítulo 7 ou o capítulo 77, mas é claro que muda a linha do meu personagem se contraceno com uma ou outra atriz”, explicou Walmor Chagas, revelando que chegou a pensar numa “revisão” da decisão dos diretores em prol de Bandeira.

“Nessas horas a gente percebe que é uma migalha no meio de uma engrenagem. Não adianta nem se chatear”, disparou o veterano.

Fernanda Torres, que interpretou a heroína romântica Simone, relatou ao jornal que a dispensa da colega criou um clima estranho nas gravações:

“É claro que foi uma coisa ruim, mas os diretores devem saber o que estão fazendo. Não é a primeira vez que isso acontece. Em qualquer desentendimento de trabalho a gente quer sumir. Mas a vida leva em frente e vai dar em dobro para a Sylvia”.

Sem discussão

Selva de Pedra - Henri Pagnoncelli, Kleber Drable, Márcia Rodrigues e Maria Zilda Bethlem
Divulgação / Globo

Maria Zilda Bethlem preferiu não se pronunciar sobre o afastamento de Sylvia. Ela apenas se declarou “pronta para cumprir com a sua função”.

“Eu estava convocada para gravar a minissérie ‘Anos Dourados’, com Roberto Talma, em abril, e logo depois a novela ‘Cambalacho’, de Silvio de Abreu”, contou.

“Não adianta ficar nervosa porque o meu personagem é bem humorado”, refletiu Maria Zilda, em meio à correria para gravar tantas cenas em tão pouco tempo.

Papéis de destaque

Sylvia Bandeira
Reprodução / Instagram

Assim que Selva de Pedra chegou ao fim, em agosto de 1986, Sylvia Bandeira pode ser vista em Roda de Fogo, novela que sucedeu o remake no horário das oito. Outros trabalhos de destaque da veterana na Globo foram Bebê a Bordo (1988), Lua Cheia de Amor (1990), Zazá (1997), Suave Veneno (1999) e Vila Madalena (1999).

Nos anos 2000, a atriz atuou em produções da Record, incluindo A Escrava Isaura (2004), Vidas Opostas (2006), Amor e Intrigas (2007), e Vidas em Jogo (2011). Seu último trabalho na televisão, até o momento, foi na novela Sol Nascente (Globo, 2016). Hoje, aos 73 anos, Sylvia segue atuando, voltada especialmente para o teatro.

Em entrevista ao jornal O Globo, em 2021, ela fez uma reflexão sobre a passagem do tempo:

“Tenho energia imensa e a coisa da joie de vivre (alegria de viver). Não tem como dizer que lido super bem, que é maravilhoso, mas a outra opção é pior. Não aparento o visual de uma anciã. Quando estou bem, vou chegar chegando. Tenho uma boa genética, minha tia está com 103 anos, lúcida. […] Vejo mulheres assumindo os fios brancos e acho lindo. Mas eu sou cabelo, não vou ficar de repente com a cabeça branca. Ainda estranho isso”.

Compartilhar.
Avatar photo

Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor