No dia 12 de agosto de 2019, o Brasil perdia o talento de João Carlos Barroso. O ator, que há anos vinha se dedicando a papéis secundários em novelas da Globo, chegou a ser protagonista e galã da emissora nos anos 1970 e no início dos anos 1980, antes de perder espaço no canal.

João Carlos Barroso e Denise Dumont em Marron Glacê
João Carlos Barroso e Denise Dumont em Marron Glacê

De acordo com o amigo e também ator Mário Cardoso, Barroso lutava contra um câncer no pâncreas há algum tempo e enfrentou complicações da doença.

Normalmente, o câncer no pâncreas é detectado quando já se encontra em estágio avançado, uma vez que não apresenta sintomas específicos. O tumor se desenvolve na glândula do aparelho digestório, atrás do estômago e na parte de cima do abdômen, responsável por produzir enzimas para digerir os alimentos. Em muitos casos, existe metástase para outros órgãos.

“É com imensa tristeza que recebo esta notícia. Nosso grande amigo. João Carlos Barroso – Barrosinho -, colega de profissão e de grandes lutas, parceiro de futebol dos artistas inúmeras vezes, nos deixou. Que Deus o receba em seu reino de luz. Meus sentimentos à família”, publicou Mário.

Início da carreira

Barroso nasceu em 28 de fevereiro de 1950, no Rio de Janeiro. Ainda criança, foi descoberto por produtores argentinos enquanto jogava futebol na calçada da rua Bolívar, em Copacabana. Sua estreia na carreira artística foi aos 11 anos de idade, atuando no filme Tercer Mundo (1961) ao lado de nomes como Francisco Cuoco, Jardel Filho e Jece Valadão.

Foi Francisco Cuoco quem enxergou no garoto um ator em potencial e o encaminhou para o teatro, onde participou do espetáculo O Homem, a Besta e a Virtude, de 1962, ao lado de Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Cláudio Corrêa e Castro, entre outros.

Ainda criança, dublou o personagem Wart na animação A Espada e a Lei, da Disney, em 1965. Ele também foi garoto propaganda de diversas marcas no período.

Sua estreia na TV foi no humorístico Chico Anysio Show, transmitido pela TV Rio em 1962. Ele atuaria nas principais emissoras de TV da década de 1960, como TV Tupi, Excelsior e Globo, quando esteve na série Rua da Matriz, em 1965.

Galã da Globo

A partir da década seguinte ele despontaria como um dos galãs da TV Globo. Seu primeiro papel de destaque foi o Eustórgio, filho de Zeca Diabo (Lima Duarte) em O Bem Amado (foto acima), de 1973. Aliás, foi com Lima Duarte que João mais contracenou em novelas do canal, vivendo pai e filho nos folhetins Pecado Capital (1975) e Marron Glacé (1979).

Em seguida, o ator esteve no ar nas produções Os Ossos do Barão (1973) e Estúpido Cupido (1976), onde interpretou o rebelde sem causa Caniço, outro tipo marcante na sua carreira. No ano seguinte, deu vida a outro galã, o Paulo de Locomotivas (1977) e, em 1978, esteve no ar em três produções diferentes: O Pulo do Gato, Te Contei? e Pecado Rasgado.

Roque Santeiro

Em 1982, João Carlos transferiu-se para a Bandeirantes, onde fez a última fase de Os Imigrantes – Terceira Geração. De volta à Globo, viveu o Benedito de Pão Pão, Beijo Beijo (1983) e, em seguida, esteve presente em Livre Para Voar (1984), duas novelas de Walther Negrão.

Altos e baixos

Em 1985, interpretou outro tipo marcante na sua carreira, o Toninho Jiló, guia turístico de Asa Branca na novela Roque Santeiro (foto acima). Depois, vieram o Danilo de Direito de Amar (1987) e o Fidélis de O Salvador da Pátria (1989).

Ele chegou a falar publicamente sobre sua insatisfação por este último trabalho no jornal O Dia, em 23 de abril de 1989.

“Aceitei fazer o Fidélis porque é como se eu estivesse dando uma novela para a casa. Amanhã a casa me dá uma novela que esteja à minha altura. Meu contrato está sendo cumprido e meu trabalho feito com a maior dignidade. Não me dá alegria fazer o personagem, mas também não me dá tristeza. (…) Espero que as pessoas não computem O Salvador da Pátria como um trabalho realizado por mim. Foi uma colher de chá que o Barroso deu pra Globo. Amanhã posso precisar dela. Foi uma troca carinhosa”, disse.

[anuncio_5]

Papéis secundários

Nos anos 1990, o artista iria fazer diversos trabalhos na emissora, mas sem o destaque de antes. Vieram Mico Preto (1990), Pedra Sobre Pedra (1992), Mulheres de Areia (1993), Tropicaliente (1994) e Era Uma Vez (1998). Na década seguinte, esteve em Uga Uga (2000), Malhação (2001), O Clone (2001) e Sítio do Picapau Amarelo (2002).

Em 2002, João Carlos Barroso fez parte do elenco fixo do humorístico Zorra Total, onde permaneceu até 2016. Paralelo a este trabalho, o ator continuou no ar em outras participações nas minisséries A Casa da Sete Mulheres (2003), JK (2006) e na novela Sol Nascente (2016), como delegado Mesquita, seu último trabalho na televisão.

Em seu site oficial, ele chegou a se manifestar sobre o desprezo da superficialidade da fama.

“Fazer sucesso é estar bem com a família, com os amigos, com os colegas e também com o trabalho”, disse. “Este é o meu verdadeiro patrimônio existencial. O resto é passageiro. O resto não me faz falta”, escreveu.

João Carlos Barroso foi casado com a atriz Zaíra Bueno (1981-1982) e depois com a atriz e dubladora Sheila Dorfman (1983-1989).

Compartilhar.
Avatar photo

Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor