Apocalipse foi um dos maiores fracassos da Record. Repleta de problemas, incluindo a intervenção da filha de Edir Macedo no roteiro (desagradando a autora Vivian de Oliveira), a novela fez jus ao seu título. Realmente representou um cataclismo na programação da emissora, perdendo constantemente de Carinha de Anjo e depois de As Aventuras de Poliana, do SBT, amargando um incômodo terceiro lugar de audiência. Foi o folhetim bíblico menos visto do canal, que demorou demais para escolher uma trama substituta, expondo a surpresa com o fiasco da história que custou uma fortuna em efeitos especiais e escalação de mais de 100 atores. A saída, então, foi a produção de uma minissérie.

A Record resolveu produzir apressadamente Lia, que terá apenas 15 capítulos, servindo como tapa-buraco da grade enquanto as gravações iniciais da novela Jesus não são concluídas. A trama estreou nesta terça-feira (26/06), na mesma faixa de Apocalipse. Escrita por Paula Richard e dirigida por Juan Pablo Pires, a trama conta a vida da bondosa Lia (Bruna Pazinato), jovem batalhadora que nunca deixou de acreditar no amor, mesmo diante de todos os percalços. É a primeira história bíblica da emissora vista sob o ponto de vista de uma mulher, embora se passe 2000 anos antes de Cristo.

A protagonista cresceu cuidando da irmã Raquel (Graziela Schmitt), desde a morte da mãe, e sofreu várias humilhações da madrasta Laila (Suzana Alves). Lia se apaixona por Jacó (Felipe Cardoso), mas o rapaz só tem olhos para sua irmã, que só se preocupa com riquezas e ama seduzir homens. No entanto, Raquel cede aos cortejos de Jacó somente para fazer a irmã sofrer e a relação das duas fica cada vez mais conturbada.
O homem, então, faz um acordo com o pai das moças, Labão (Theo Becker), para trabalhar sete anos em troca da mão de Raquel. Porém, no dia do casamento, sete anos depois, Jacó descobre que a mulher dada pelo pai em matrimônio é Lia, logo após a protagonista retirar o véu que cobria seu rosto.

Labão afirma que a tradição é a filha mais velha se casar primeiro, mas propõe mais sete anos de trabalho para se casar com a outra. Obcecado pela sensualidade de Raquel, Jacó aceita e acaba se casando com as duas irmãs. Lia sofre com o constante desprezo do marido, enquanto a sua irmã exige cada vez mais regalias e presentes em troca de pequenos gestos de carinho com o esposo, que faz todas as suas vontades. Jacó ainda se envolve com as duas serviçais da casa: Bila (Cacá Ottoni) e Zilpa (Thais Muller). Para culminar, o homem só demonstra amor pelo único filho que tem com Raquel: José (Bruno Peixoto). Já os filhos que Lia teve com o marido – Rubem (Leandro Lima), Simeão (Brenno Leone), Levi (Maurício Pitanga) Judá (Bru Malucelli), Issacar (Marcus Bessa) e Zebulom (Igor Fernandez) – são ignorados por ele, com exceção de Diná (Júlia Magessi), a única mulher.

O intuito do enredo é mostrar a batalha de Lia para conquistar seu marido e provar que é a mulher certa para ele. Ou seja, um contexto inadmissível hoje em dia, ainda mais diante de todas as humilhações sofridas por ela. É um romance que não desperta qualquer tipo de torcida. Portanto, a propaganda feita pela Record nos programas da emissora, tentando vender uma “produção com temais atuais e carregada de “força feminina” é irreal. Até porque nem poderia ser diferente em uma história bíblica. Então, o telespectador tem que acompanhar a trama sem esperar personagens ‘à frente do tempo’, como costuma ocorrer em algumas produções de época da Globo, por exemplo. E isso não é uma crítica ou um elogio, é apenas uma constatação.

O primeiro capítulo explorou a vida de Lia na família, que perdeu a mãe e precisou lidar com o desprezo da madrasta. Ao longo dos anos, Lia até consegue ganhar um certo carinho de Laila, embora sua relação com a irmã siga péssima. Aliás, a passagem de tempo deixou o contexto pouco crível em se tratando das idades. Theo Becker e Suzana Alves não passaram por um processo de envelhecimento e ver o ator pai de Graziella e Bruna, por exemplo, é surreal. Mas, deixando essa questão um pouco de lado, a história vem sendo bem desdobrada pela autora. Pena que várias cenas sejam narradas pela protagonista, o que acaba cansando. Não precisava. Já o segundo capítulo começou a focar no enredo em torno de Jacó e na rivalidade entre as irmãs, que chegam a trocar tapas. É preciso elogiar o desempenho da novata Bruna Pazinato. Uma boa surpresa do elenco, segurando bem o protagonismo.

Lia é uma boa produção da Record. Ao contrário de Apocalipse, não apresenta efeitos especiais exagerados e nem uma estrutura pretensiosa, cujo objetivo é doutrinar o telespectador. É uma minissérie até simples, cuja história consegue despertar a atenção de quem aprecia o gênero.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor