Segundo Sol está apenas no começo, mas João Emanuel Carneiro não vem guardando trama. O autor vem proporcionando vários acontecimentos e muitos perfis já demonstram um ótimo potencial. Um deles é Rosa, prostituta interpretada por Letícia Colin. A personagem entrou na segunda fase da história, dirigida por Dennis Carvalho e Maria de Médicis, e está sendo defendida com imenso brilhantismo pela intérprete, cujo último papel foi um verdadeiro divisor de águas na carreira.

Afinal, Novo Mundo foi exibida ano passado e ainda está fresca na memória do público. A excelente novela de Alessandro Marson e Thereza Falcão proporcionou para a atriz seu melhor momento na carreira. Ela simplesmente ganhou de presente dos autores a Princesa Leopoldina, esposa de Dom Pedro I (Caio Castro), e teve um grande destaque no enredo, crescendo ainda mais graças ao talento de Letícia, que imprimiu um tom doce e até cômico para a imperatriz. Um perfil importante da história do Brasil que ficou bem mais conhecido graças a esse caprichado folhetim.

Um dos maiores acertos da composição da atriz foi o sotaque da princesa austríaca. O que poderia se tornar uma caricatura virou a característica mais cativante da personagem, que todas as vezes se preocupava em falar um bom português, mesmo tropeçando nas palavras em algumas situações.
Após vários papéis menores em novelas anteriores, Letícia mostrou que era capaz de protagonizar qualquer produção. E vale lembrar sua marcante participação em Chamas da Vida (2008), na Record, vivendo Viviane, além de seu admirável desempenho em Sete Vidas (2015), na pele da delicada Elisa.

Agora a intérprete já vem se destacando com sua desbocada Rosa, protagonizando boas cenas na trama das nove. E novamente há um cuidado com o sotaque, sobressaindo a precisa composição de Letícia. A Áustria cedeu lugar para a Bahia. Ela realmente parece uma baiana ‘raiz’ e suas falas saem tão naturalmente que nem parece algo ensaiado. Um desavisado diria que a produção escalou uma atriz de Salvador para o papel. O melhor é o tom muitas vezes jocoso da personagem, deixando seus diálogos ricos em ironia e sempre falando verdades, enfrentando todos que a afrontam. É uma mulher que não teme nada, apesar da família problemática e da vida difícil.

Rosa entrou na prostituição por pura necessidade, após ter sido abordada por um capanga de Laureta (Adriana Esteves). A vilã logo viu “potencial” na menina e não precisou se esforçar muito para convencê-la a virar garota de programa. Ambiciosa, a personagem topou o novo emprego e logo virou uma das principais profissionais da cafetina. Ainda conheceu Ícaro (Chay Suede), outro recém-contratado da casa, e logo se interessou pelo rapaz. Os dois rapidamente iniciaram um caso às escondidas e a relação transborda química. Letícia e Chay repetem a ótima parceria de Novo Mundo e agora formam um casal de tirar o fôlego – bem diferente do relacionamento da trama das seis, onde Joaquim e Leopoldina eram grandes amigos.

Vale destacar também as cenas delicadas protagonizadas com Nanda Costa, intérprete da retraída Maura, irmã de Rosa. As personagens têm uma bonita cumplicidade que vem sendo mostrada aos poucos. Os embates da garota de programa com o grosseiro Agenor (Roberto Bonfim) é outro ponto de conflito interessante, expondo o lado corajoso da menina, que não se intimida com a agressividade do pai. Fica claro que é um perfil de importância, ao contrário da última personagem que João Emanuel Carneiro deu para a intérprete: a deslumbrada Patrícia, cuja participação em A Regra do Jogo (2015) durou poucos capítulos.

Letícia Colin tem tudo para crescer ainda mais com sua Rosa em Segundo Sol e esse início de novela vem expondo uma profissional que está apenas colhendo merecidos frutos pela sua incontestável dedicação ao longo da carreira. Já está roubando a cena. A prostituta conquistou rapidamente Ícaro e o público.


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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor