Vinte anos atrás, o autor Manoel Carlos ousou ao colocar um casal de lésbicas em Mulheres Apaixonadas, novela em reta final no Vale a Pena Ver de Novo. No entanto, o novelista enfrentou resistência na Globo e viu uma pesquisa determinar o futuro das personagens.

Paula Picarelli e Alinne Moraes em Mulheres Apaixonadas
Paula Picarelli e Alinne Moraes em Mulheres Apaixonadas (Reprodução / Globo)

Na trama, Rafaela (Alinne Moraes) e Clara (Paula Picarelli) viveram um romance lésbico, mas tiveram que ficar no “armário”. Apesar de indicarem o relacionamento homossexual com troca de carinhos e cenas de ciúmes, elas não puderam avançar para algo mais. Um beijo entre as duas ficou fora de cogitação na época.

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Autor rejeitou tragédia

Manoel Carlos
Autor Manoel Carlos (Reprodução / IMDB)

Em entrevista à Folha de S.Paulo, em março de 2003, Manoel Carlos rejeitou a possibilidade de eliminar as lésbicas, como aconteceu com Christiane Torloni (Rafaela) e Silvia Pfeifer (Leila) em Torre de Babel (1998). Ele, no entanto, não descartou dar um novo rumo às personagens.

“Não as cortarei da trama simplesmente por vontade do grupo [de pesquisa]. É preciso que junto com a opinião e a reprovação do grupo ocorra uma proibição (ou sugestão persistente) da empresa”, declarou.

“Estou abordando o tema com cuidado. Não quero ter de matar ou afastar as atrizes, cancelando a história. Prefiro resolver de um outro modo, caso me impeçam de prosseguir”, explicou o autor.

 

Destino nas mãos do público

Mulheres Apaixonadas - Alinne Moraes, Leonardo Miggiorin e Paula Picarelli
Divulgação / Globo

Na época, a Globo avaliou as personagens em um grupo de discussão sobre Mulheres Apaixonadas e deixou o destino do casal de lésbicas nas mãos dos telespectadores.

A pesquisa apontou que o público aprovava o romance entre Rafaela e Clara, mas que rejeitava um possível beijo entre elas.

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Lésbicas comportadas

Em entrevista à Folha, Manoel Carlos afirmou que não “provocaria” os telespectadores com um beijo entre o casal.

“Sei que existem limites. Se as pesquisas aprovam o relacionamento das duas e se a audiência não cai quando elas aparecem, isso se deve a uma abertura maior, mas também à forma delicada com que estou tocando a história”, disse.

“Então, longe de mim qualquer provocação. Um beijo na boca entre dois homens ou duas mulheres, numa novela, seria perder a história. Viriam todos para cima de mim”, disparou o escritor.

Mulheres Apaixonadas foi exibida originalmente entre 17 de fevereiro e 10 de outubro de 2003, com um total de 203 capítulos. A primeira reprise da trama aconteceu em 2008, no Vale a Pena Ver de Novo. A novela voltou ao ar em 2020 no Viva e, desde maio, está sendo novamente reprisada nas tardes da Globo. A trama dividirá horário com Paraíso Tropical (2007) a partir de 27 de novembro, deixo a tela da emissora no dia 1 de dezembro.

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Publicitário e roteirista, escreve sobre televisão desde 2013. Com passagem por diversos sites, atuou como redator, editor e repórter, função que proporcionou entrevistar grandes nomes. Um apaixonado por televisão, que ama novelas desde que se entende por gente.