Lembra dele? João Leite Neto: “A Globo é ótima, mas paga mal. A Record paga bem para quem interessa”

João Leite Neto é um baluarte do jornalismo brasileiro. Em 2017, completa 50 anos de carreira, muito bem vividos na imprensa escrita, no rádio e, principalmente, na televisão.

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Após se destacar na Rádio Globo, em 1969 foi para a TV e começou como repórter especial do Jornal Nacional em São Paulo. Por conta da popularidade, saiu para deputado estadual de São Paulo, sendo eleito. Voltou à TV na Record, ainda na época de Paulo Machado de Carvalho, para apresentar um programa policial pioneiro, o Boletim de Ocorrências.

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Mas, com apenas três meses, atendeu um chamado de Silvio Santos, que lhe perguntou se conhecia um programa argentino de noticiário popular. Foi até o país vizinho, viu o programa e deu umas dicas. Desse formato, surgiu o Aqui Agora, onde João Leite foi repórter, fazendo coberturas clássicas – uma delas, a filiação do próprio Silvio no antigo PFL, hoje DEM.

Depois do fim do policial que batia de frente com o Jornal Nacional, ele foi para outro policial, o Cidade Alerta, onde antecedeu a entrada de José Luiz Datena. O contrato foi até 2000, quando Leite foi para o interior de São Paulo e ficou recluso no interior paulista comandando programas de rádio local.

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Nos últimos tempos, João se dedica ao seu canal no YouTube, o MilkNewsTV, onde comenta o mundo da política prioritariamente.

Nesta entrevista exclusiva ao TV História, João dá detalhes de sua carreira, critica a política nacional, fala das negociações para sua contratação em todos os canais, e afirma, categoricamente, que Silvio Santos foi seu melhor patrão, que a Globo não paga bem e a Record não respeita os funcionários.

“O melhor patrão que eu tive, sem dúvida, foi Silvio Santos. A Globo é ótima para vitrine, para te promover, mas o salário mesmo é bem fraco, pagam mal mesmo. A Record paga bem para quem interessa, no momento que interessa, mas quando coloca o cara na geladeira, não paga nem metade do combinado”, afirma o jornalista.

Leia a entrevista na íntegra:

TV História – Como você começou sua carreira e entrou na Globo, João? Já são 50 anos…

João Leite Neto – Venho da imprensa escrita para falar a verdade. Mas comecei tudo muito cedo, com 16 anos eu era repórter. Tinha lugares que não podia entrar, era barrado por causa da pouca idade. Uma vez fui cobrir um baile de carnaval e fui barrado na porta (risos). Depois da imprensa escrita, fui para o rádio. Fiquei numa rádio de São Paulo, quando, de repente, alguém me convida para fazer um teste na Rádio Nacional, que hoje é a Rádio Globo. Achei estranho e disse: ‘eu tô tão bem aqui e você quer que eu vá fazer teste? Eu não gosto de teste’.

Mas deu tudo certo para ir na Rádio Globo?

Passados uns dias, o mesmo cidadão me liga e disse que ele queria que eu fosse lá na rádio pra gente conversar. Aí fui lá na Rua das Palmeiras, onde até hoje é a Rádio Globo, e fiquei na rádio uns três meses. Naquele ano, era 1969, as emissoras da Organização Victor Costa, em São Paulo, tinham sido vendidas para a Globo. Então, eu fui o primeiro contratado na capital paulista para o Jornal Nacional, que estrearia naquele ano. Fui o primeiro repórter especial do JN em São Paulo.

E onde entra a carreira política nisso?

Éramos apenas o Hélio Costa em Minas Gerais, eu em São Paulo e o Antônio Brito em Porto Alegre. Curiosamente, o Brito foi governador, o Hélio Costa foi senador e eu fui deputado e candidato a senador. Engraçado que esses três foram para uma política, mas graças a Deus, todos nós, nos livramos dessa doença. Tomamos um remédio e nos livramos disso. Só fazendo um adendo: política é coisa de desocupado e mau caráter, porque tem desocupado e bom caráter. Conheço um monte de vagabundo boa gente, mas, para ser político, tem que ser vagabundo e mau caráter.

Forte isso que você me diz… Mas depois disso, você passou por três emissoras, isso mesmo? E aí surgiu o Aqui Agora…

Quando eu saí, em 1979, recebi um convite do Franco Montoro para me candidatar a deputado em São Paulo. Mas nunca deixei a profissão. Quando fui deputado, saía da Câmara e ia fazer o meu programa na Rádio Capital. Depois fui para a Band, dei um tempo na política e tive um convite da Record, antes do Bispo, quando ainda era a família Machado de Carvalho e Silvio Santos. Na época, o Guga de Oliveira, irmão do Boni, foi dirigir a emissora. Fiquei três meses, num programa chamado Boletim de Ocorrências, que era bem agressivo, policial, estourou. O programa ia bem e recebi uma ligação dizendo ‘ligue para tal número’. Fiquei com medo, era tudo estranho. Mas fui descobrir que era um emissário do Silvio Santos, que não queria se identificar. Ele queira que eu fosse lá na Vila Guilherme e tal. Fui, o Silvio me recebeu e perguntou qual era a multa do meu contrato. Eu disse que não tinha contrato com a Record, que eles estavam me enrolando, era uma desorganização. Então, na época, peguei meu cavalo e fui.

Mas na época a Record estava falida… E o Aqui Agora foi um estouro. Como você foi parar de volta na Record?

Chego na sala do Silvio, ele me pergunta se eu conhecia um programa argentino chamado Aqui Ahora. Já tinha ouvido falar e achei bastante legal. Fomos todos fazer o programa. E o Aqui Agora, com todas as críticas que se pudesse fazer, chegou a bater o Jornal Nacional durante 15 minutos, e aquilo foi sensacional. Acabou o meu contrato, falei com a diretoria se eles queriam continuar e o Guilherme Stoliar disse ‘isso eu não me meto, resolvam-se vocês’. Nisso a Record me ligando, todo santo dia. Não consegui resolver e fui para lá apresentar o Cidade Alerta em 1997.

Com quem você conversou para ir para a Record?

Quem me contratou foi o Honorílton Gonçalves, que hoje está na África. Mas eu negociei com outro bispo, que veio me falando ‘olha, eu sei quanto você ganha, eu sei tudo, e estou autorizado a oferecer o dobro’. Eu saí do SBT ganhando R$ 30 mil, naquela época era ótimo. E o bispo disse que o limite dele era R$ 80 mil. Disse para ele que era o dobro, mas isso provou que ele não sabia quanto eu ganhava (risos). Parei, disse que ia pensar, mas por dentro já estava aceitando. Ele estava meio nervoso e tudo, mas disse que tinha um adendo, que era o contrato com a empresa do 0900, chamada ABBA. E no Cidade Alerta eu sorteava um prêmio por dia e ganhava 0,3% por ligação. No fim do mês, a média era de 120 mil ligações por programa. Na época, eu dava 13 pontos de Ibope. Hoje em dia, o Datena dá 5 ou 6 pontos e é uma boa audiência, o Rezende dá 8 ou 9 pontos. Na época, a Record era forte, além de mim chegou o Boris Casoy, tinha a Ana Maria Braga, o Ratinho… Enfim, com isso, passei a ganhar R$ 120 mil reais. E a ABBA ficou tão contente no fim daquele ano que deu uma S10 zero para mim e para a Ana Maria Braga.

Mas com tanta coisa boa, porque você saiu da Record? Voltou para a política, não é?

Eu saí porque o Mário Covas, que eu tiro daquela fala porque era honesto e decente, me chamou para ser candidato a senador. Sem estrutura nenhuma, tive quase três milhões de votos. Como apoiei, o Covas achava que eu deveria participar do governo. Fui presidente da Consesp, mas depois decidi que era hora de cuidar das minhas coisinhas.

E como você viveu nos últimos tempos?

Fui para o interior de São Paulo, onde tinha raízes, minha família é toda de lá. Fiquei fazendo rádio no interior, que era uma delícia. Mas aí voltei para São Paulo e surgiu isso que vocês fazem atualmente, que é a internet, onde tenho um canal no YouTube, o MilkNewsTV, e também participo na rádio Showtime.

Qual foi o melhor patrão que você teve em todos esses 50 anos de carreira?

O melhor patrão que eu tive, sem dúvida, foi Silvio Santos. A Globo é ótima para vitrine, para te promover, mas o salário era bem fraco, pagavam mal mesmo. A Record paga bem para quem interessa, no momento que interessa, mas quando coloca o cara na geladeira não paga nem metade do combinado. O único que respeita, o único que realmente valoriza o profissional é o Silvio Santos.

Você apresentou um policial percursor, fez o Aqui Agora e também o Cidade Alerta. Como você tem visto os programas policiais hoje em dia? Gosta deles?

Acho que está muito desgastado. Fiz isso ainda na Record, em 1990, lá atrás. Antigamente, estes programas eram campeões de audiência. E acho que ultimamente não tem nenhum diferencial. Deveriam ir para um lado mais jurídico, tentando explicar e ajudar a mostrar porque as leis estão atrasadas. Além disso, batem demais no bandido, esquecem que ele tem família, que tem algo por trás. Ele ainda não foi julgado, se for um roubo, é artigo 157, explica a pena. Mas é isso. Acho que a fórmula está muito desgastada e deveria se renovar.


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