Muitas vezes, a dramaturgia surpreende o público, trazendo para a tela do cinema ou da televisão jovens anônimos, que nunca atuaram na vida, mas acabam emocionando os espectadores com sua atuação. Alguns desses desconhecidos ganham uma nova oportunidade em outros trabalhos e se tornam atores de fato. Mas nem toda história tem um final feliz.

Pixote

Fernando Ramos da Silva morava em uma favela de Diadema (SP) e tinha apenas 13 anos quando trabalhou no filme Pixote, a Lei do Mais Fraco, dirigido por Hector Babenco.

A trama desvendava o cotidiano de jovens delinquentes, de forma nua e crua, no submundo das ruas, abordando a violência e a prostituição. Marília Pêra, Jardel Filho, Rubens de Falco, Elke Maravilha, entre outros, fizeram parte do elenco desse grande sucesso do cinema nacional, que faturou inúmeros prêmios mundo afora.

A atuação do jovem Fernando foi elogiada, levando o garoto a ser entrevistado por vários veículos de imprensa. Com o sucesso, o ator enxergou a oportunidade de entrar na profissão e tirar sua família da favela de Diadema.

Chance em novela

Em 1981, ele foi convidado para fazer parte do elenco de O Amor é Nosso, novela de Roberto Freire e Wilson Aguiar Filho, exibida no horário das 19 horas.

Fernando viveu o garoto Pingo, menino travesso que foi adotado por Gilda (Tônia Carrero) e se tornou a alegria da casa. Contudo, o ator tinha dificuldades em decorar os textos pelo fato de ser semi-alfabetizado, o que criou uma barreira para o seu trabalho.

O Amor é Nosso

Além disso, a produção foi um verdadeiro fiasco, sendo classificada como uma das mais problemáticas já exibidas pela emissora.

Depois do fim da novela, o contrato de Fernando não foi renovado, mas ele ainda atuou em outros dois filmes: Eles Não Usam Black-Tie, de 1981, e Gabriela, de 1983.

Prisão e morte

Fernando Ramos da Silva

Nos anos seguintes, ficou isolado, já que não conseguia mais trabalhos na TV ou no cinema, e voltou para a sua antiga casa em Diadema.

Ele voltaria a ser destaque na imprensa, desta vez, não como ator, mas como detento, por ter sido acusado de roubo. Graças à ajuda de amigos, ele voltou a atuar, desta vez, no teatro e fez parte do grupo do ator e diretor Carlos Lyra, viajando pelo Brasil com a companhia.

Ainda assim, sua carreira e vida chegariam ao fim no dia 25 de agosto de 1987, na Rodovia dos Imigrantes. Segundo a Polícia Militar, ele foi autuado roubando uma pessoa, fugindo favela adentro, subindo por telhados e correndo por vielas.

Fernando se escondeu em um quartinho, mas foi descoberto e morto com oito tiros à queima-roupa. Segundo a PM, o ator atirou contra os soldados. Entretanto, testemunhas afirmaram que ele estava desarmado. Mas fato é que o ator tinha apenas 19 anos e deixou a esposa e uma filha.

A história de Fernando Ramos da Silva foi retratada no filme Quem Matou Pixote?, de 1996. Nesse caso, a arte imitou a vida, de uma forma cruel e com um final que representa a vida de milhares de garotos espalhados pelas periferias do Brasil.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor