Parte da equipe do Jornalismo da RedeTV! decidiu vir a público para protestar contra mais um corte salarial promovido pela emissora. Em uma carta aberta, os profissionais revelam ter sido alvo de ameaças para assinar um documento aceitando a redução de seus vencimentos.

A publicação, que é endossada pelo sindicato dos jornalistas de São Paulo e do Distrito Federal, diz que a emissora deixou de fazer o depósito mensal do FGTS para os colaboradores e que a situação no canal está “no limite do caos”.

De acordo com os colaboradores, a RedeTV! não está em crise financeira. Eles citam “contratações milionárias” feitas pela diretoria, casos de Sikêra Jr. e Luís Ernesto Lacombe, além de marcas vinculadas ao Governo Federal que passaram a anunciar nos programas da casa e “aumentaram os lucros da empresa”.

A nova crise no jornalismo da RedeTV! acontece exatamente um ano depois da greve deflagrada no setor por uma determinação que proibia que os profissionais fizessem horas extras. Na época, a mudança representava uma série de jornalistas ganhando menos que o piso salarial da categoria, que era de R$ 2.528,27.

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Com a exibição dos telejornais da casa, RedeTV! News e Leitura Dinâmica, prejudicada, a direção da emissora teve que abortar a proibição e liberou novamente as horas extras. Porém, os executivos da casa já haviam alertado que estavam em busca de “alternativas visando sua necessária reestruturação financeira”.

A reportagem do TV História teve acesso a íntegra do protesto assinado pelos jornalistas que trabalham na redação da RedeTV!. Confira:

“Nós jornalistas da RedeTV!, por decisão aprovada por maioria em assembleia realizada na quarta-feira, em 14 de outubro, nos recusamos a assinar os novos contratos de redução de vencimentos e jornada de trabalho, impostos pela direção da empresa, pelo oitavo mês consecutivo.

É importante frisar e denunciar que nós temos nos sentido coagidos a assinar esses aditivos contratuais sob a ameaça e aceno de que quem não o fizer será demitido.

Não podemos aceitar mais esse corte nos vencimentos sob pena de passarmos quase o ano inteiro com rendimentos reduzidos e, o que é pior, corrermos o risco de terminar 2020 com o décimo terceiro bem menor (pois dezembro costuma servir de base para o décimo terceiro). Ou seja, seriam nove salários com uma redução de 25%, com impacto sobre a contribuição ao FGTS, que nem está sendo depositado pela emissora.

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Perder parte do décimo terceiro é um absurdo ainda maior porque não há qualquer compensação ou troca mínima por essa diminuição como há em relação a redução do salário mensal, em que o trabalhador tem também, ao menos em teoria, redução de jornada.

Se aceitarmos mais essa redução, ao final de 2020, a RedeTV! terá deixado de pagar R$ 6.860,16 para cada um dos jornalistas que ganha em média com as duas horas extras o piso de R$ 3.375,59 por mês, mas passa a receber R$ 2.613,35 durante oito meses de redução, com mais um décimo terceiro também menor. Esse número será maior para quem ganha acima do piso.

Muitos de nós profissionais, já no vermelho pelos cortes anteriores nos salários, ficaremos ainda mais endividados com as reduções agora de novembro, dezembro e, eventualmente, do décimo terceiro. Aumentará a dificuldade para comprar alimentos, roupas, medicamentos aos filhos, esposas, maridos ou mesmo pais. O décimo terceiro é o ordenado que ajuda no final do ano e início do ano seguinte a pagar material escolar, matrícula e a colocar as contas em dia.

Fatos notórios, muitos publicados na internet, como contratações milionárias, entre as quais as de Luís Ernesto Lacombe e Sikera Jr., demonstram que a empresa não apresenta prejuízo, e não há nenhuma razão para prejudicar os trabalhadores. A verdade é que a receita em 2020 deve ficar igual ou até maior do que a do ano passado. Recentemente, o colunista Ricardo Feltrin escreveu que o “faturamento da RedeTV! em 2019 deve ter ficado entre R$ 250 milhões a R$ 300 milhões”.

Sorteios do RedeTV! Plus e da Caixa Econômica Federal e campanhas importantes, como anúncios do Banco do Brasil, do Ministério da Saúde e do Banco Central, são só alguns exemplos de inserções publicitárias que aumentaram os lucros da empresa neste ano e que não existiam no ano passado. Há ainda anúncios do setor privado que engordaram mais o faturamento da emissora, tais como Vivo, Casas Bahia, Sky Pré-Pago, Bigtrail, Bradesco, Ultrafarma e Cartão de Todos. Fora a publicidade, tem ainda os merchants e os horários vendidos para igrejas neopentecostais.

O portal da RedeTV! é outro setor que chama a atenção. Graças ao trabalho dos jornalistas que alimentam a internet, a RedeTV! já é a maior emissora no YouTube no mundo. Além disso chegou ao número de 10 milhões de seguidores no Facebook. A própria empresa postou o desempenho na internet: “De novembro de 2017 a julho deste ano, são mais de 6,8 bilhões de visualizações de vídeos e mais de 9,8 bilhões de minutos visualizados no canal principal da emissora, o facebook.com/RedeTV!.” Tudo isso significa dinheiro em caixa.

A RedeTV!! é a única grande rede de televisão do país a usar o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda do governo federal, pois, ao contrário de outros setores, o jornalismo em meio televisivo, em geral, até cresceu durante a emergência sanitária, com parte do público ficando em casa e acessando os telejornais em busca de informação.

A emissora nunca apresentou qualquer justificativa financeira que demonstrasse a necessidade de ingressar no Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda.

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Nós, jornalistas da RedeTV!, frequentemente, lutamos para manter a nossa função social de garantir informação à população brasileira, e muitas vezes nos desdobramos, com a situação no limite do caos e da falta de infraestrutura, com falta de equipamentos, jornadas reduzidas e equipes muito menores, para informar a população durante a pandemia.

Nós nos posicionamos contra e recusamos qualquer nova redução que coloque ainda mais em risco a nossa função social de informar e que ameace o cumprimento do dever constitucional e da responsabilidade com a população que tem uma emissora, com concessão pública, como a da RedeTV!.

É importante frisar e denunciar, reiteradamente, que os contratos individuais de redução de salário e jornada anteriores só foram aceitos, porque, diferentemente do que está escrito na cláusula 1ª das minutas de redução distribuídas pela emissora (“este aditivo decorre de expressa manifestação de vontade do (a) EMPREGADO (A) em prorrogar por 60 (sessenta) dias o 1º aditivo individual […] Por livre e espontânea vontade firmam o presente aditivo de prorrogação individual para redução proporcional de jornada e salário…”), nós jornalistas estamos sendo coagidos a assinar sob ameaças veladas de que quem não o fizer será demitido”.

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