A despeito da suntuosa produção em cenários e efeitos especiais, a atual novela das sete segue uma história bem tradicional, com mocinhos e vilões definidos. E isso não é um demérito. Deus Salve o Rei possui um enredo simpático e uma condução correta, embora não tenha tido muitos acontecimentos. E um dos seus principais nomes herdou um dos tipos mais interessantes da trama de Daniel Adjafre e vem fazendo por merecer todos os elogios: é Johnny Massaro, que vive o lunático Rodolfo.

O irresponsável, inconsequente e vaidoso príncipe de Montemor, herdeiro da rainha Crisélia (Rosamaria Murtinho) e irmão mais novo de Afonso (Rômulo Estrela), nunca teve interesse pelas questões do reino, preferindo aproveitar a boa-vida que sua situação de nobre lhe confere. Até que, ao ver o mais velho se apaixonar pela plebeia Amália (Marina Ruy Barbosa), natural do reino vizinho, Artena, e abdicar do trono em favor deste amor, o caçula se vê pela primeira vez diante da responsabilidade que a monarquia exige – como exemplo, sua mobilização para resgatar os soterrados do desabamento de uma mina de ferro, ocorrido há algumas semanas.

Em meio a um conjunto, de certa forma, maniqueísta (embora não tão extremo), Rodolfo é o personagem mais ambíguo do enredo de Adjafre. Reúne características fortes como o cinismo, a vaidade e sua natural inaptidão para o trono. Um conjunto que o torna mais real e rico em relação aos protagonistas, vendidos como justos e corretos, mas com falhas que não condizem com a imagem proposta pelo enredo – vide a recusa de Amália em viver como nobre, porém, sem se importar que Afonso deixe a nobreza em favor dela, além do próprio renunciar em favor de uma pessoa até então sem a menor capacidade para o posto.

E a densidade do perfil ganha ainda mais vida e veracidade através da interpretação acertada de Johnny Massaro. O ator, que começou a se destacar em meados da década passada em novelas juvenis como Floribella (2005-06, Band) e a temporada de 2008 de Malhação, tem feito de Rodolfo o maior destaque da trama, mesmo em meio à presença de nomes jovens de maior peso midiático, como Marina Ruy Barbosa e Bruna Marquezine (que vive a vilã Catarina).

Massaro soube dosar os tons cômicos e dramáticos de Rodolfo logo que apareceu e protagonizou ótimas sequências ao lado de Rômulo Estrela (que honra o posto de protagonista, na pele de Afonso), retratando muito bem o medo do caçula ao herdar o trono com a desistência do irmão. O cinismo e a personalidade lunática do atual rei de Montemor têm garantido momentos divertidos, desfazendo a impressão de que Rodolfo seria um clone de Geraldinho, personagem anterior de Massaro na série Filhos da Pátria (2017). E a parceria com Tatá Werneck, que chegou à novela nesta sexta-feira (2), dá indícios de valorizar ainda mais o talento do ator.

Em um elenco que chama atenção pela ausência quase total de veteranos – uma vez que Rosamaria Murtinho deixou a novela ainda na primeira semana e Marco Nanini também está prestes a sair do enredo -, Johnny Massaro merece os elogios por sua ótima composição do inconsequente Rodolfo. Sua trajetória como rei de Montemor ainda levará muito tempo, já que a novela está ainda em seu primeiro mês. Ainda assim, o intérprete disse a que veio logo de cara e tem tudo para fazer do monarca um de seus melhores papeis.


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