Com quase dois meses de sua estreia, A Força do Querer resgatou o prazer de se acompanhar uma boa novela das 21h. Em seu retorno à principal faixa da Rede Globo, Glória Perez se reinventa ao adotar um elenco mais reduzido (acabando com um problema constante em algumas de suas novelas anteriores), tramas envolventes e concisas, a direção ousada de Rogério “Papinha” Gomes e uma ótima interligação entre núcleos.

Suas protagonistas trazem tramas e personalidades ricas e complexas, favorecendo o talento de suas intérpretes. E um dos maiores acertos da novela é o seu melhor casal romântico: a policial Jeiza (Paolla Oliveira) e o caminhoneiro Zeca (Marco Pigossi).

Jeiza é uma policial do Batalhão de Ações com Cães da Polícia Militar do Rio de Janeiro e sonha em ser lutadora de MMA. Ela acredita no poder da mulher de ser e fazer o que quiser, sabe se defender sozinha, tem personalidade forte e quer que seu parceiro entenda e respeite suas escolhas e sonhos. Zeca, um caminhoneiro paraense, tem uma criação oposta, calcada no machismo: acha que a mulher tem que servir ao homem e dar satisfação a ele. Inicialmente casado com Ritinha (Isis Valverde), se afasta dela de forma traumática, ao vê-la com Ruy (Fiuk).

À primeira vista, o casal parece totalmente improvável. O primeiro encontro dos dois ocorreu de forma tensa, em uma operação policial, em que a major abordou o motorista devido a suspeita de um caminhão transportando drogas. Irritado e intimidado, ele antipatiza com a moça porque a postura de comando dela vai contra tudo que ele acredita.

Pouco depois, eles se reencontram e uma forte atração surge – dois personagens tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes. A amizade logo vira um namoro, que chega a ser interrompido quando Jeiza descobre que Zeca não prosseguiu com seu divórcio. Porém, o relacionamento é retomado quando ele salva a policial de um assalto e ela se dá conta de que está apaixonada pelo ex-caminhoneiro (que se tornou motorista de ônibus).

Chamado carinhosamente de “Jeizeca” (fusão dos nomes Jeiza e Zeca) nas redes sociais, o par logo conquistou o público e se tornou um dos maiores pontos positivos da história de Glória Perez. O mérito deste sucesso se deve, em grande parte, à avassaladora química mostrada por Paolla Oliveira e Marco Pigossi, cuja sintonia explosiva é repleta de sensualidade – fato que se comprovou na primeira noite de amor do par, após o filho de Abel (Tonico Pereira) pedir a filha de Cândida (Gisele Fróes) em casamento.

Uma belíssima sequência, em que o casal se entrega de vez ao desejo intenso que sentem um pelo outro, complementada pela primorosa interpretação de Alcione para Olha, sucesso de Roberto Carlos. Também caíram como luva as outras músicas que embalam os personagens: Se Você Pensa, outra canção de Roberto Carlos, regravada por Pitty, combina muito bem com Jeiza, enquanto Coração Machucado, de Wesley Safadão, se mostra adequada para a trajetória de Zeca.

Analisados separadamente, Jeiza e Zeca também funcionam perfeitamente. O caminhoneiro tinha tudo para ser mais um mocinho insuportável na carreira de Marco Pigossi, muito em função de tipos como Bento (de Sangue Bom), Rafael (de Boogie Oogie) e Dante (de A Regra do Jogo). Porém, contrariando a impressão inicial deste colunista, Pigossi investiu em um tom divertido e humorístico para o jeito turrão e marrento de Zeca.

O machismo do personagem, apesar de irritar, enriquece sua personalidade e evidencia o caminho que o motorista tem a percorrer, revendo suas posições para ficar ao lado da policial. Ainda merecem elogios as boas parcerias de Pigossi com Tonico Pereira – com quem já havia trabalhado em A Regra do Jogo – e Isis Valverde, cuja química em Boogie Oogie permanece intensa, apesar de a história de Zeca com Ritinha ter tomado um rumo desfavorável.

Jeiza, segura de si e de personalidade forte, mas tão marrenta quanto o namorado, é um papel mais que bem-vindo para a carreira de Paolla Oliveira. A atriz, que em certo ponto de sua trajetória ficou conhecida por mocinhas insossas (Marina de Insensato Coração e Paloma de Amor à Vida são os maiores exemplos), deu uma grande virada em sua carreira após interpretar a sedutora prostituta Danny Bond em Felizes Para Sempre e a megera Melissa de Além do Tempo.

Agora, Paolla novamente brilha vivendo uma policial que não abre mão de seus sonhos por causa de nenhum relacionamento, e que não deixa de ser feminina mesmo estando em ambientes considerados masculinos. Ela ainda faz uma boa dobradinha com Gisele Fróes – que vive sua mãe, Cândida – e tem feito divertidas cenas com Zezé Polessa (Edinalva, mãe de Ritinha), nos momentos em que Jeiza percebe a malandragem da mãe da sereia.

Ao longo da trajetória da novela, o casal passará por vários conflitos. Zeca se verá novamente envolvido com Ritinha, que vem manipulando a família de Ruy e os fazendo acreditar que seu filho é herdeiro do rapaz (e não do caminhoneiro). Jeiza, por outro lado, deve se interligar ainda mais com as protagonistas, pois fará o parto de Ritinha (o que a faz se sentir madrinha da criança) e travará uma guerra aberta com Bibi (Juliana Paes), após prender Rubinho (Emílio Dantas) durante o combate a uma quadrilha de tráfico de drogas.

Ela ainda se envolverá com Caio (Rodrigo Lombardi), ex de Bibi, que vai se tornar secretário estadual de segurança, sofrer ameaças e contratar a major para fazer sua segurança pessoal. Os dois se encantarão um pelo outro, como no filme O Guarda-Costas, protagonizado por Kevin Costner e pela cantora Whitney Houston.

Apesar disso, a torcida por Jeiza e Zeca é crescente e o casal já se tornou o melhor par de A Força do Querer. Paolla Oliveira e Marco Pigossi vêm conquistando o público com o relacionamento de seus personagens tão diferentes, mas ao mesmo tempo tão iguais. A química explosiva entre os dois atores e os bons entrechos elaborados por Glória Perez se mostram atraentes e alimentam a torcida para que os dois fiquem juntos ao final da trama.


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