Nos últimos dias, a novela Sol Nascente, produzida em 2016, voltou à mídia. Mas a imprensa e o público não estão destacando os feitos da trama, mas sim a confusão entre Danni Suzuki e Giovanna Antonelli por causa do papel de protagonista da trama.

No entanto, Sol Nascente teve outro deslize da Globo. Que Luís Melo é um baita ator não há discussão. Mas deu o que falar a escalação dele para interpretar o japonês Kazuo Tanaka nessa novela.

Entretanto, engana-se quem pensa que foi a primeira vez que a emissora usou desse expediente. Em outras duas oportunidades, artistas que não eram descendentes de orientais viveram personagens do gênero.

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A primeira delas foi Yoná Magalhães em A Sombra de Rebecca, trama de Glória Magadan exibida entre fevereiro e junho de 1967, às oito da noite. Ela vivia Suzuki, protagonista da novela, que se envolvia com o aristocrata inglês Philip (Carlos Alberto). Se não fosse o bastante, no final da novela, a personagem praticou haraquiri, cometendo suicídio com uma espada.


Yoná Magalhães em A Sombra de Rebecca e Edney Giovenazzi em A Próxima Atração

A segunda vez foi em A Próxima Atração, do próprio Walther Negrão, autor de Sol Nascente. Na trama das sete, exibida entre 1970 e 1971, Edney Giovenazzi vivia o japonês Mário Yamashita.

A situação também é similar ao ocorrido no filme Bonequinha de Luxo, sucesso de 1961 estrelado por Audrey Hepburn. No longa, o ator norte-americano Mickey Rooney, que já era bastante famoso em Hollywood, usou uma pesada maquiagem para interpretar o oriental Mister Yunioshi.


Compare Mickey Rooney no filme e sem a maquiagem

Protesto

Na época, não foi só o público que estranhou a escalação de Luís Melo para viver um japonês. O coletivo Oriente-se, composto por brasileiros com ascendência oriental, divulgou, dias após a estreia da produção, um manifesto onde pediu mais igualdade étnica em produções de audiovisual.

Confira a íntegra do comunicado:

“Nós, artistas e profissionais das artes com ou sem ascendência oriental, seja japonesa, chinesa ou coreana, reivindicamos por igualdade no tratamento justo a todos os cidadãos, repugnando práticas de discriminação étnica que ocorre em algumas produções de audiovisual que retratam o oriental de forma estereotipada, preconceituosa e distorcida da realidade. Em especial para produções populares de rede aberta como novelas, seriados e comerciais que, atingem a maioria da parcela dos cidadãos brasileiros, influenciam diretamente a sociedade promovendo às vezes, o conceito deturpado e negativo, denegrindo a imagem dos orientais e educando as novas gerações com a visão preconceituosa contra a nossa comunidade.

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Somos parte integrante da sociedade brasileira, nascemos, vivemos e contribuímos com muito trabalho para o enriquecimento e desenvolvimento de nossa nação. Ter a presença de atores e artistas orientais em produções de audiovisual em papéis não estereotipados e de forma respeitosa, é o mínimo e o justo que a comunidade oriental brasileira merece em retribuição e gratidão por mais de um século de história em terras brasileiras. Somos brasileiros e exigimos respeito para com todos, independentemente de sua ascendência. A diversidade étnica, social e/ou de gênero é fundamental e necessária para o crescimento de qualquer cidadão.

Entendemos que, frente às desigualdades existentes, não basta rejeitar as práticas de discriminação, mas sim realizar ações que possam corrigir distorções e aproximar indivíduos. É responsabilidade de cada um de nós brasileiros, promover a igualdade no cotidiano, através de nossos atos, trabalhos e postura. É de extrema importância que os profissionais que atuam diretamente na concepção e produção de obras de audiovisual, tenham a consciência de que a sua criação pode influenciar positivamente a nossa sociedade e difundir a diversidade. Cabe também a nós, artistas orientais brasileiros, fomentar a imagem positiva de nossa comunidade, através de nosso trabalho artístico, para que as futuras gerações possam se olhar com a autoestima de um cidadão brasileiro pertencente a esta nação”.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor