André Santana

Desde a estreia, Cara e Coragem anda em círculos sobre os mistérios que cercam Clarice (Taís Araújo). A empresária foi dada como morta logo depois de pagar dublês para resgatarem uma fórmula importante e, até agora, não ficou bem explicado o que aconteceu com ela.

Assim, a grande virada da trama de Claudia Souto, protagonizada por Paolla Oliveira e Marcelo Serrado (foto acima), deveria ser a volta triunfal de Clarice, que mexeria com toda a história. Porém, isso não vai acontecer.

O retorno da personagem deveria ser o principal ponto de virada de Cara e Coragem. Seria o grande clímax do enredo, já que a volta da empresária abalaria as estruturas da novela. Afinal, com sua falsa morte, os vilões vinham agindo livremente. Danilo (Ricardo Pereira), Regina (Mel Lisboa) e Leonardo (Ícaro Silva) se surpreenderiam com a novidade e teriam que mudar a rota de seus planos maléficos.

Catarse

Um acontecimento desta importância deveria ter sido desenvolvido de modo a causar uma grande catarse no público. Este retorno poderia ser trabalhado aos poucos, para culminar com a grande cena da revelação. Porém, a maneira como Cara e Coragem andou para chegar até este ponto fez com que a volta de Clarice se transformasse num “anti-clímax”.

São vários os erros da trama que explicam este fracasso. Primeiro, ela foi muito ineficaz no sentido de criar uma conexão entre a personagem e o público. A empresária sumiu cedo demais, quando pouco se sabia sobre ela. Com isso, Clarice era uma pessoa desconhecida do telespectador, ou seja, o que aconteceu com ela pouco importava para a audiência.

Buscando reparar este erro, a autora Claudia Souto se viu obrigada a antecipar a revelação de que a personagem está viva. O público descobriu, já há algum tempo, que ela tentou forjar a própria morte, mas algo deu errado e ela se deu mal. Desde então, Clarice estava em coma.

Não funcionou

Cara e Coragem - Taís Araujo

Apesar da boa intenção desta revelação, na prática a coisa não funcionou. A aparição da empresária viva, em coma, não serviu para envolver o público com sua história. Pior, não houve uma nova reviravolta a partir daí. O mistério em torno de sua falsa morte continuava andando em círculos.

Tudo isso fez com que o retorno de Clarice diante dos demais personagens da novela parecesse profundamente desinteressante para o público. Faltou a emoção, o fator surpresa, algo que realmente provocasse uma catarse.

Claudia Souto se perdeu em sua tentativa de fazer uma novela das sete baseada em mistérios. Faltou convidar o público para participar da brincadeira.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor