André Santana

Walcyr Carrasco não é conhecido apenas por seus inúmeros sucessos na teledramaturgia, mas também pelo seu estilo extremamente didático. As histórias e os diálogos de suas novelas são sempre muito bem explicados, para que o espectador não tenha a menor dúvida sobre o que está acontecendo. Com Terra e Paixão, não é diferente.

Terra e Paixão - Barbara Reis e Johnny Massaro
Johnny Massaro (Daniel) e Barbara Reis (Aline) em Terra e Paixão (Reprodução / Globo)

Para deixar claro que a novela das nove da Globo gira em torno da sucessão familiar numa empresa de agronegócio, os personagens repetem a palavra “sucessão” de maneira indiscriminada. Irene (Gloria Pires), por exemplo, não dispara uma frase sem que a palavrinha apareça. Tamanha insistência já está aborrecendo o público.

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Tatibitate

Terra e Paixão - Gloria Pires e Tony Ramos
Tony Ramos (Antônio) e Gloria Pires (Irene) em Terra e Paixão (Reprodução / Globo)

A repetição nos diálogos das novelas de Walcyr Carrasco sempre provocaram ruídos em suas narrativas. Em todos os folhetins assinados pelo autor há uma espécie de obsessão em deixar tudo muito explicado, num tom quase tatibitate.

Em Amor à Vida (2013), por exemplo, virou piada na internet a quantidade de vezes que Félix (Mateus Solano) repetiu a palavra “caçamba” quando confessou que jogou sua própria sobrinha numa… caçamba! Já em Verdades Secretas, a expressão “book rosa” não saía da boca dos protagonistas.

Desta vez, a obsessão atende por “sucessão” ou “sucessor”. Antônio La Selva (Tony Ramos) vive a repetir que precisa escolher seu sucessor, à frente dos negócios da família. E Irene, que faz de tudo para emplacar Daniel (Johnny Massaro) no cargo, repete a expressão em todos os seus diálogos. Chega a ser insuportável a quantidade de vezes em que os personagens da trama repetem a palavra.

Reclamação

Terra e Paixão - Cauã Reymond
Cauã Reymond como Caio em Terra e Paixão (Reprodução / Globo)

Nas redes sociais, são inúmeros os comentários de espectadores incomodados com a insistência dos personagens de Terra e Paixão nas palavras “sucessão” e “sucessor”. Ninguém aguenta mais o assunto na trama.

“Walcyr Carrasco, eu te imploro, tire as palavras sucessor e sucessão do roteiro dessa novela em nome de Jesus”, suplicou uma usuária do Twitter identificada como Babi.

“A novela devia chamar Terra e Sucessão”, rebateu outro espectador, chamado Ryan Araújo.

“A Globo parece que não aprende! Uma das maiores críticas a Terra e Paixão é a irritante reiteração do texto, principalmente da palavra sucessor. E na chamada, a palavra é repetida mais de uma vez! Francamente!”, observou o pesquisador Nilson Xavier, responsável pelo site Teledramaturgia.

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Succession

Walcyr Carrasco
Walcyr Carrasco no Conversa com Bial (Reprodução / Globo)

A impressão que passa é que Walcyr Carrasco é mais um dentre tantos espectadores que ficaram fascinados com a série Succession, hit da HBO, que foi encerrada recentemente. A trama gira em torno de Logan Roy (Brian Cox), dono de um verdadeiro império midiático.

Patriarca de uma das famílias mais poderosas dos EUA, Roy sempre foi mais dedicado aos negócios que aos filhos. No entanto, quando o empresário tem um sério problema de saúde, os filhos começam a disputar o comando das empresas. Ou seja, em Terra e Paixão, os La Selva são uma espécie de Roy tupiniquins.

É sabido que Carrasco se inspira em outras obras para construir seus enredos, mas a obsessão pela sucessão de Antônio La Selva já passou dos limites do aceitável. Numa novela que ainda não emplacou e enfrenta problemas de audiência, essa rejeição só piora a situação.

Sendo assim, seria de bom tom que o autor desse um tempo desta história de sucessão, que anda em círculos, e partisse para outras tramas. Afinal, ninguém aguenta mais ouvir falar desse assunto.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor