André Santana

Bastaram poucos capítulos de Terra e Paixão no ar para Luigi (Rainer Cadete, na foto com Tatá Werneck) cair nas graças do público. O falso italiano entrou em cena para dar um golpe em Petra (Debora Ozório) e na família La Selva, mas seu carisma acabou por convertê-lo em um “bom bandido”.

Terra e Paixão - Rainer Cadete e Tatá Werneck
Rainer Cadete (Luigi) e Tatá Werneck (Anely) em Terra e Paixão (Manoella Mello / Globo)

Percebendo o sucesso do tipo junto ao público, o autor Walcyr Carrasco tratou de aumentar seu espaço na novela, tornando-o praticamente um dos protagonistas – o que teria até gerado ciumeira nos bastidores. Porém, o novelista acabou exagerando na dose e acabou por desgastar o personagem.

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Está em todas

Terra e Paixão - Rainer Cadete
Rainer Cadete como Luigi em Terra e Paixão (Reprodução / Globo)

Luigi conquistou o público de Terra e Paixão assim que entrou em cena. O jeito meio gaiato imprimiu certo charme e carisma ao personagem, que logo começou a divertir a plateia. Ou seja, ele virou uma grande atração em uma novela tomada por personagens pouco interessantes, sobretudo no início da obra.

Ao notar a popularidade do falso italiano, o autor Walcyr Carrasco tratou de abusar de sua presença. Tanto que Luigi passou a aparecer em várias situações e formou, meio que por acaso, uma dupla com Anely (Tatá Werneck). Ficou claro que o novelista alterou os rumos do personagem em razão de seu sucesso, imprimindo-lhe cores mais cômicas.

Afinal, no início da trama, havia uma insinuação de que Luigi e Irene (Gloria Pires) tinham algo a mais, o que acabou ficando pelo caminho. Além disso, Anely acabou terminando com Odilon (Jonathan Azevedo) para se tornar amante do italiano, outra trama que não estava prevista. E mais: Luigi também trocava mensagens com Gladys (Leona Cavalli), mas o lado “sapeca” da diretora também foi abandonado.

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Overdose

Rainer Cadete (Luigi) e Débora Ozório (Petra) em Terra e Paixão
Rainer Cadete (Luigi) e Débora Ozório (Petra) em Terra e Paixão (divulgação/Globo)

Mas, cinco meses depois da estreia, Luigi já perdeu muito da sua força inicial. Agora, o personagem começa a trilhar o caminho contrário: está despertando o ranço de parte do público. O que antes era divertido, se tornou cansativo e até inconveniente.

Isso porque toda a trama que envolve Luigi é absurda. Afinal, mesmo sabendo que o italiano é um farsante, Antônio La Selva (Tony Ramos) insiste em mantê-lo casado com sua filha. A troco de que? Além disso, todos sabiam do caso do golpista com Anely e, ainda assim, davam razão para ele quando Luigi se mostrava indignado por Petra ter se envolvido com Hélio (Rafael Vitti).

A impressão que passa é que Walcyr Carrasco aumentou tanto o espaço de Luigi que, agora, já não sabe mais o que fazer com ele. O tipo perdeu todo o sentido dentro do enredo e, atualmente, vive uma fase irritante.

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Perdida

Terra e Paixão - Debora Ozório, Rainer Cadete e Tony Ramos
Rainer Cadete (Luigi), Debora Ozório (Petra) e Tony Ramos (Antônio) em Terra e Paixão (João Miguel Júnior / Globo)

O caminho atravessado por Luigi, de queridinho a personagem mala de Terra e Paixão, é mais um indicativo do quanto a novela das nove da Globo se perdeu. Na ânsia por aumentar a audiência do folhetim, o autor jogou no lixo sua história original e vem buscando novas narrativas.

Porém, nenhuma das novas histórias decola, já que os remendos expõem uma quantidade inacreditável de furos. Atualmente, a trama está toda focada em Agatha (Eliane Giardini), uma personagem que nem deveria estar em cena. Ela estava morta e, claramente, só foi “ressuscitada” para provocar uma reviravolta e tentar chamar a atenção do público.

Com isso, o fio condutor original de Terra e Paixão foi abandonado. O duelo pela terra vermelha de Aline (Barbara Reis) perdeu força e a mocinha praticamente virou coadjuvante de sua própria história. Tamanha bagunça atingiu Luigi, que era um dos trunfos da história, mas, agora, poderia sumir que não faria a menor falta.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor