Por essa os brothers não esperavam! O diretor Boninho acabou por instituir a “lei antitabaco” dentro do BBB23. Na tarde de quinta-feira (19/01), a voz do “big boss” invadiu a casa e deu uma tremenda bronca nos fumantes da mansão.

Bruna Griphao, BBB23

“Está proibida a entrada de cigarros dentro da casa”, disparou.

Caso a decisão do diretor seja definitiva, o cigarro, elemento sempre constante no reality show, pode estar com os dias contados na atração. Com isso, o BBB segue a mesma trilha das novelas, que há tempos reduziram drasticamente a presença do cigarro em cena.

Sem fumaça

Cauã Reymond em O Caçador

A proibição dos cigarros em novelas, aliás, causou um verdadeiro rebuliço em 1995, quando o Governo Federal tentava restringir a propaganda do fumo no país. Henrique Santillo, ex-ministro da Saúde do governo de Fernando Henrique Cardoso, assinou uma portaria que proibia os programas de entretenimento e lazer de fazer qualquer referência ao produto antes das 23h.

Pode parecer estranho nos dias de hoje, mas, naquela época, fumantes na TV eram comuns nas mais variadas situações. Além das propagandas de cigarro veiculadas nos intervalos comerciais, também não era nada estranho aparecer apresentador ou jornalista fumando (procure vídeos antigos do Roda Viva…). Nas novelas, isso também era uma realidade.

A medida, que também movia os filmes com fumantes para as madrugadas, foi recebida como drástica na época. Tanto que Adib Jatene, ministro que substituiu Santillo na pasta da saúde, suspendeu a portaria por 15 dias para que uma comissão interministerial avaliasse sua legalidade.

Autores chiaram

De acordo com uma matéria de O Globo, publicada em 12 de janeiro de 1995, os autores de novelas não gostaram muito da possível proibição do cigarro na dramaturgia.

Carlos Lombardi, por exemplo, reclamou da medida. Na época, ele escrevia Quatro por Quatro, novela em que Abigail (Betty Lago) acendia um cigarro nos momentos mais absurdos.

“Novela é conflito, não é aula (…). Se todas as novelas virarem politicamente corretas, o gênero acaba. Morro de medo desse tipo de proibição. Amanhã proíbem o gordo de aparecer também”, reclamou Lombardi.

Marcílio Moraes, à frente do remake de Irmãos Coragem, também não gostou da novidade.

“Acho uma bobagem. Normalmente a gente não põe rubrica nos textos para ninguém fumar. Mas, eventualmente, pode ser imprescindível na caracterização de um personagem”, analisou.

Sergio Marques, que integrava a equipe de Gilberto Braga em Pátria Minha (foto acima), também se manifestou.

“É uma medida exagerada que atende mais a um desejo de regulamentar a vida de todo mundo”, cravou.

Menos cigarro

Belíssima
Divulgação

De lá para cá, o assunto avançou bastante. As propagandas de cigarro desapareceram da TV e os personagens fumantes se tornaram mais raros. Não é proibido um personagem aparecer fumando na TV, mas, normalmente, isso só acontece quando o ato é imprescindível para a obra.

Um exemplo curioso dessa ausência de cigarro da dramaturgia aconteceu na novela Belíssima (2005). Uma das pistas jogadas por Silvio de Abreu sobre o vilão oculto que manipulava André (Marcello Antony) era que ele fumava. Sempre apareciam cinzeiros e guimbas em ambientes onde o tal vilão havia estado. No entanto, nenhum personagem apareceu fumando em cena durante a maior parte da novela.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor