Em virtude do claro esgotamento das tramas bíblicas, a Record resolveu apostar em uma trama contemporânea para substituir O Rico e Lázaro, folhetim de repercussão nula e baixa audiência da emissora. Vivian de Oliveira, autora de Os Dez Mandamentos (2015), o maior sucesso do canal, foi escolhida para assumir essa nova empreitada.

Assim, nesta terça-feira (21/11), estreou Apocalipse, trama que falará sobre o fim do mundo, explorando as vilanias de um ‘anticristo’ e tendo três fases (1980, 1996 e 2017), divididas em 170 capítulos, caso não haja um esticamento no percurso (o que costuma ocorrer em produções da emissora) .

Dirigida por Edson Spinello, a novela abusará dos efeitos especiais e vai misturar amor, fé, catástrofes e redenção. O clipe do folhetim deixou claro que o enredo é sombrio e bastante pesado, repleto de momentos de tensão, incluindo assassinatos macabros e tiroteios. Uma ousadia e tanto, levando em consideração parte das críticas em torno da história pesada de O Outro Lado do Paraíso, escrita por Walcyr Carrasco e exibida atualmente na Globo. Também ficou evidente o elenco numeroso. Há mais de cem atores escalados, ocorrendo algumas entradas e saídas a cada mudança de fase.

A trama se passa em quatro países: Brasil, Itália, Estados Unidos e Israel. Os sinais do fim dos tempos estarão presentes em todos os locais. A primeira fase narra a trajetória de quatro jovens – o americano Alan (Maurício Pitanga), a brasileira Susana (Carolina Oliveira), o italiano Adriano (Felipe Cunha) e a israelense Débora (Manuela do Monte) -, nos anos 80, que escolhem Nova York como destino universitário.

Alan e Susana vivem uma complicada história de amor, enquanto Adriano e Débora vivem um relacionamento infeliz. Os dois pares têm filhos na segunda fase e os meninos são Benjamin (Igor Rickli) e Ricardo (Sérgio Marone). O primeiro é o mocinho e o segundo é o anticristo, grande vilão do enredo. A mocinha será Zoe, jornalista vivida por Juliana Knust. Vale observar que Igor acabou de protagonizar O Rico e Lázaro, emendando uma produção na outra, sem respiro para o público – assim como os ótimos Lucinha Lins e Zécarlos Machado, outros nomes do elenco.

O primeiro capítulo exibiu o começo dessa relação do quarteto, com direito a fumaças negras em algumas cenas, simbolizando a presença do ‘demônio’, esperando para encarnar no feto de Débora. A situação, vale mencionar, beirou o grotesco, lembrando algumas cenas de Mutantes, novela de sucesso da Record, marcada pela bizarrice e efeitos ridículos. Porém, a produção visual no Tsunami exibido logo no início da história ficou bem realizada. Uma onda gigante devastou um resort luxuoso da Ásia, aterrorizando os presentes. Apesar das atuações deprimentes dos atores em questão, foi uma sequência boa – claramente copiada do filme O Impossível (2012), com tomadas idênticas.

Outro bom momento desse começo foi a perseguição policial a um assassino em série, que vem intrigando os policiais pela forma macabra de seus crimes. Como a primeira fase se passa na década de 80, veículos como Opala, Monza e Fusca foram utilizados e o momento do tiroteio, com carros a toda velocidade, ficou bastante crível e bem dirigido. Aliás, essas separações de contextos provocou uma sensação de estar assistindo a quatro novelas em uma. O Tsunami na Ásia, depois uma família de judeus enterrando parentes, o quarteto central em viagem por Nova York e o mistério envolvendo um serial killer no Brasil resultaram em um excesso de informações, confundindo um pouco. Pareceu até que haviam cortado a trama subitamente quando o capítulo chegou ao fim.

Já no segundo, exibido nesta quarta, houve a continuação do mistério envolvendo os assassinatos e mais foco na relação do quarteto em Nova York. O que chamou atenção foi a insinuação de um clima podre na Igreja Católica, através do diálogo de um senhor caracterizado como um padre e planejando que a religião deles precisaria dominar sempre. A igreja satânica da novela era nitidamente a católica.

A nova novela da Record merece um reconhecimento por finalmente abandonar o enredo bíblico de época, que já estava esgotado. O risco é a abordagem dos eventos do livro do Apocalipse soar ridícula em um enredo contemporâneo, vide o Arrebatamento – quando Deus tira da Terra todas as crianças com menos de 12 anos -, a Tribulação – marcando o início da Terceira Guerra Mundial, com desastres naturais e epidemias de fome e peste – e a chegada de Anticristo, tendo seu corpo tomado pelo diabo. Até profetas descerão dos céus para evangelizar pessoas… Porém, só observando o desenvolvimento do enredo para saber e ver como isso tudo será exposto.

Apocalipse teve uma estreia ousada e desafiadora para o público, exibindo uma trama arriscada e repleta de referências ao ‘demônio’. Se o público comprará essa história ou rejeitará o clima sombrio da mesma só o tempo vai dizer. Mas, o fato é que Vivian de Oliveira está disposta a investir em uma produção com toques sobrenaturais.

SÉRGIO SANTOS é apaixonado por televisão e está sempre de olho nos detalhes, como pode ser visto em seu blog. Contatos podem ser feitos pelo Twitter ou pelo Facebook. Ocupa este espaço às terças e quintas


Compartilhar.
Avatar photo

Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor