André Santana

Atual novela infantil do SBT, A Infância de Romeu e Julieta nem de longe repete o sucesso de tramas como Carrossel (2012) ou Chiquititas (2013). Até aqui, a trama registra média de 4,6 pontos no Kantar Ibope Media, desempenho considerado fraco para o horário nobre da TV de Silvio Santos.

A Infância de Romeu e Julieta - Miguel Ângelo e Vittória Seixas
Vittória Seixas e Miguel Ângelo, protagonistas de A Infância de Romeu e Julieta (Divulgação / SBT)

Muitos atribuem o fraco desempenho à parceria com a Amazon Prime Video, plataforma de streaming que disponibiliza os capítulos da trama antes de irem ao ar pelo SBT. Até dentro da emissora tem quem aponte o dedo para a parceira, concluindo que o acordo entre as empresas beneficia mais a Prime do que o SBT.

Mas será que é isso mesmo?

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Em busca de um sucesso

A Infância de Romeu e Julieta - Bianca Rinaldi
Bianca Rinaldi como Vera em A Infância de Romeu e Julieta (Reprodução / SBT)

De olho no sucesso que as novelas infantis do SBT fazem na Netflix, a Prime Video firmou uma parceria com a emissora e entrou como co-produtora em A Infância de Romeu e Julieta. Com o acordo, os capítulos do folhetim de Íris Abravanel são disponibilizados primeiro no streaming e, depois, exibidos na televisão.

Mas a trama vem amargando baixos índices de audiência. Com isso, de acordo com Flavio Ricco, colunista do R7, a parceria entre as duas empresas devem parar por aí. O jornalista informou que o atual acordo seguirá até o fim, mas não deve ser renovado para produções futuras.

Ainda segundo Ricco, a parceria com a Amazon sempre dividiu opiniões dentro do SBT. Muita gente lá dentro não estava de acordo com vários aspectos da parceria. Esta ala da direção da emissora acredita que a TV ficou com a “pior parte” do acordo.

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Controvérsia

João Baldasserini como Daniel em A Infância de Romeu e Julieta
João Baldasserini como Daniel em A Infância de Romeu e Julieta (reprodução/SBT)

Ou seja, ao que tudo indica, parte da direção do SBT entende que o fato de A Infância de Romeu e Julieta ir ao ar primeiro no streaming prejudica sua exibição na televisão. Entende-se que a exibição antecipada na Prime Video poderia “esvaziar” a plateia da TV aberta.

No entanto, trata-se de uma tese controversa. Claro, é preciso um estudo mais aprofundado acerca do comportamento do público, mas, a princípio, o streaming (ainda) não teria força para derrubar a audiência de um canal aberto. Sim, de acordo com dados do Ibope, o streaming somado já alcançou o segundo lugar no ranking da audiência. No entanto, nestes dados estão incluídos o público do YouTube, que é gratuito. Com plataformas pagas, a realidade é diferente.

Uma pesquisa recente da Comscore apontou que a Amazon Prime Video tem cerca de 14,6 milhões de usuários no Brasil. No entanto, as últimas estimativas mostram que o Brasil tem cerca de 123,8 milhões de residências com TV. Ou seja, o alcance da TV aberta ainda é maior.

 

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Fora do Top 10

As Aventuras de Poliana - Sophia Valverde
Sophia Valverde em As Aventuras de Poliana (Reprodução / SBT)

Outro fato também derruba a tese dos diretores do SBT: nem na Prime Video, A Infância de Romeu e Julieta alcança um público expressivo. Sinal disso é que a trama não figura entre as dez atrações mais vistas da plataforma.

Sendo assim, culpar a Prime pelo fiasco de Romeu e Julieta parece, no mínimo, precipitado. É preciso, também, analisar o atual cenário do SBT e até mesmo a produção em si, já que a novela tem defeitos que ajudam a explicar a fuga do público.

O SBT vive uma crise histórica de audiência. E isso afeta toda a programação, inclusive a novela. Tanto que Poliana Moça, a trama anterior, também alcançou baixos índices. Não tão baixos quanto a atual, mas já havia uma tendência de queda acontecendo.

Infantil?

A Infância de Romeu e Julieta - Vittória Seixas
Reprodução / SBT

Além disso, A Infância de Romeu e Julieta é uma das mais fracas novelas infantis já exibidas pelo SBT. A trama é frouxa, os conflitos são rasos e existe uma confusão quanto ao público-alvo. Afinal, a novela tem cenários e situações que remetem ao lúdico, mas tem protagonistas adolescentes. Assim, não fica claro se a novela é voltada para crianças ou ao público teen.

Essa indefinição afugenta a audiência. Os pequenos não se interessam pelas histórias mais juvenis, enquanto o público teen torce o nariz para uma produção com jeito de programa de criança. Desde Poliana Moça, o SBT demonstra que perdeu a noção do verdadeiro público de seus folhetins.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor