No fim de setembro, após o encerramento da novela das 23h (ou supersérie) Os Dias Eram Assim, a Globo estreou sua nova linha de shows, às terças e quintas-feiras. Para marcar a nova fase, duas novas séries foram lançadas às terças: Cidade Proibida (ocupando o lugar da impecável Sob Pressão), suspense policial, e Filhos da Pátria, comédia de Bruno Mazzeo sobre os primórdios da corrupção do Brasil. A faixa das quintas passou a ser ocupada por uma nova temporada do The Voice Brasil e pelo Adnight Show, derivação do Adnight (2016).

Perto do fim do ano, dá pra dizer que praticamente todas estas apostas foram fracassadas. As duas séries não conquistaram o público, o reality musical mostra um evidente desgaste e o novo programa de Marcelo Adnet volta pior do que seu antecessor. Além disto, exibições descartadas e mudanças de dia vêm contribuindo para que os programas não tenham a regularidade necessária em termos de programação.

Baseada em O Corno que Sabia Demais, obra de Wander Antunes, Cidade Proibida se propõe a contar as histórias de Zózimo (Vladimir Brichta), um detetive particular que investiga casos de adultério e vez ou outra se envolve com suas clientes, muitas vezes belíssimas mulheres. Para tanto, conta com a ajuda de três amigos: Marli (Regiane Alves), uma prostituta apaixonada por ele, mas também uma mulher linda e segura de si; Paranhos (Ailton Graça), um chefe de polícia com ares de justiceiro; e Bonitão (José Loreto), um malandro metido a conquistador, mas de uma ingenuidade risível.

Apesar das boas atuações do grupo principal – com exceção de José Loreto e destaque especial para Regiane Alves – o enredo deixa a desejar. Nos episódios mais recentes, situações bobas e entrechos desinteressantes deixaram o saldo bem cansativo.

Uma honrosa exceção foi o capítulo que contou com a participação da talentosa Mariana Ximenes, na pele da golpista Suzana. Ainda assim, a série não empolga, tanto que derrubou os índices de audiência registrados pela primorosa produção médica que a antecedeu na faixa.

Filhos da Pátria, que vem logo depois, consegue apresentar um resultado melhor em termos de enredo. A comédia de Bruno Mazzeo e Alexandre Machado traz uma história sagaz e inteligente sobre as origens da corrupção no Brasil através de Geraldo Bulhosa (Alexandre Nero), um português que, com medo de perder o emprego após a Independência, aceita se render aos esquemas suspeitos de Pacheco (Matheus Nachtergaele) para melhorar a vida da família.

Integralmente lançada no GloboPlay, em agosto, a série se propõe a discutir sobre o jeitinho brasileiro, mostrando que as práticas ilícitas vêm de muito tempo. Ainda assim, mesmo sendo melhor produzida e mais atraente que Cidade Proibida, é prejudicada por vir depois desta, em um claro erro de estratégia. Seria mais justo que seus horários fossem invertidos, proporcionando um melhor resultado artístico para ambas. Em função disso, marca médias em torno de 11 pontos, muito abaixo das registradas pela novela das 23h nesta faixa.

O The Voice Brasil, como já mencionado aqui no TV História, não atrai o mesmo interesse de suas primeiras temporadas e nem mesmo a entrada de Ivete Sangalo no lugar de Cláudia Leitte melhora a situação – o que mostra que o problema da competição comandada por Tiago Leifert é muito mais do que uma simples troca de cantoras conhecidas pela intensa rivalidade de seus fã-clubes. Outro fato que causou estranheza foi a inversão de fases: o Tira-Teima foi exibido antes das Batalhas, tidas como a melhor etapa do programa.

Por fim, o Adnight Show se mostra uma tentativa de dar um novo fôlego ao programa de Marcelo Adnet, que apresentou uma primeira temporada bastante irregular (tendo entre seus bons momentos as participações de Tatá Werneck e da já citada Ivete). A nova temporada mistura a interação entre o humorista e seus convidados com esquetes inspiradas em programas como o Comédia MTV e o Tá no Ar.

Ainda assim, o programa peca por deixar muito evidente que as situações seguem um roteiro prévio, sem dar espaço para o improviso (habilidade exercida brilhantemente por Tatá em seu Lady Night no Multishow). Em virtude deste conjunto, o programa já perdeu algumas vezes para o clássico A Praça é Nossa, do SBT.

Outro fator que tem prejudicado alguns destes programas é a prioridade dada às transmissões de jogos de futebol. No dia 10 de Outubro, a Globo exibiu Brasil X Chile pelas Eliminatórias da Copa de 2018, o que obrigou o descarte de Cidade Proibida e Filhos da Pátria.

No dia 23 de Novembro (quinta passada), foi a vez de Flamengo X Junior Barranquilla da Colômbia, jogo de ida pela semifinal da Copa Sul-Americana, que fez a emissora antecipar o The Voice para terça-feira (21) e não exibir a série policial.

Nesta quinta, é o programa musical que ficará de fora, devido ao jogo de volta entre os mesmos times. Como compensação, o Voice terá dois episódios na primeira semana de dezembro: na terça (5/12) e quinta (7/12).

Prejudicada por mudanças de grade e roteiros/formatos inconsistentes, de pouco impacto ou desgastados, a atual linha de shows da Globo não consegue empolgar. Em um espaço que já teve programas clássicos como A Diarista, Toma Lá Dá Cá e A Grande Família, o último trimestre de 2017 vive um cenário semelhante à mesma época de 2016, que também apresentou séries fracassadas, como Supermax e Nada Será Como Antes, além da irregularidade do Adnight/Adnight Show e do The Voice Brasil.

Diante desse quadro, fica a torcida para que a nova temporada do elogiado Tá no Ar e a estreia de Brasil a Bordo (de Miguel Falabella), em janeiro, consigam atrair mais atenção para a faixa.


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