Escrita por uma das maiores novelistas da televisão brasileira, Coração Alado causou polêmica quando foi ao ar, entre 11 de agosto de 1980 e 14 de março de 1981. Escrita por Janete Clair, a obra apresentou cenas controversas, que renderam um verdadeiro escândalo na época.

Carlos Augusto Strazzer, Vera Fischer e Tarcísio Meira em Coração Alado
Carlos Augusto Strazzer, Vera Fischer e Tarcísio Meira em Coração Alado (Divulgação)

O barulho foi tanto que a Globo chegou a eliminar um capítulo da novela de seus arquivos para sempre. Mas agora, mesmo incompleta, Coração Alado chega ao Globoplay, como parte do novo Projeto Fragmentos, que disponibilizará novelas clássicas que não estão na íntegra nos arquivos da emissora.

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Tabu

Janete Clair
Autora Janete Clair

Em Coração Alado, Janete Clair tratou de temas considerados tabus em plena fase final da Ditadura Militar no Brasil, período em que a televisão sofria nas mãos dos censores. A trama girava em torno de Juca Pitanga (Tarcísio Meira), um artista plástico nordestino que ia para o Rio de Janeiro em busca de reconhecimento profissional.

Ao longo da trama, ele se envolve com Catucha (Débora Duarte) e Vivian (Vera Fischer), personagens que protagonizaram duas cenas bastante polêmicas do folhetim. Vivian, por exemplo, foi estuprada pelo próprio cunhado, Leandro (Ney Latorraca). Ela acabou engravidando, o que gerava a dúvida sobre a paternidade do herdeiro.

A sequência deixou os espectadores chocados. Mas, ao jornal O Globo de 28 de setembro de 1980, Janete Clair disse que se inspirou num caso real e ressaltou a importância daquela cena para a história que contava.

“A partir desse fato, as emoções começam a se suceder. O que aconteceu com Vivian vai servir de fio condutor para o surgimento de muitas coisas novas”, explicou a novelista.

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Masturbação em Coração Alado

Tarcísio Meira e Débora Duarte - Coração Alado
Tarcísio Meira e Débora Duarte – Coração Alado (Divulgação / Globo)

Mas as polêmicas de Coração Alado não pararam por aí. A trama gerou um grande escândalo ao exibir uma cena em que a personagem Catucha se masturbava enquanto pensava no ex-marido Juca.

A cena, exibida em 24 de fevereiro de 1981, gerou polêmica não apenas pelo ato em si. Segundo o site Memória Globo, a sequência foi ao ar com um áudio vazado do diretor Roberto Talma orientando a atriz, o que causou o maior bafafá.

O escândalo foi tão grande que, no dia seguinte, a fita do capítulo 171 de Coração Alado foi apagada dos arquivos da emissora. Também sumiram todas as cópias do script do referido capítulo. Tudo para não haver qualquer registro da gravação.

 

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Projeto Fragmentos

Jardel Filho e Aracy Balabanian em Coração Alado
Jardel Filho e Aracy Balabanian em Coração Alado

Além de ter sumido com o capítulo 171, a Globo não dispõe de Coração Alado na íntegra. Por esse motivo, a trama, que nunca foi reprisada, também não constava nos planos do canal para um repeteco no Viva ou para integrar o Projeto Resgate.

No entanto, recentemente, o Globoplay anunciou o lançamento do Projeto Fragmentos, justamente com a intenção de lançar novelas que não estão na íntegra, mas que, por conta de seu valor histórico, terão o material preservado disponibilizado na plataforma.

Coração Alado será a primeira atração do Projeto e terá seus capítulos preservados lançados no Globoplay em janeiro de 2024. Além da trama de Janete Clair, também voltam no mesmo dia O Rebu (1974), Estúpido Cupido (1976) e Chega Mais (1980).

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor