“Faremos uma pequena pausa em nossa programação, apenas o tempo necessário para você despertar para um novo dia, uma nova vida”.

Antes dessa frase ecoar pela madrugada e entrar o colorbar, a televisão fazia companhia para os insones com uma programação bem variada (e até repetitiva). Antigamente, as emissoras não ficavam 24 horas no ar e encerravam sua programação no meio da madrugada, apenas voltando nas primeiras horas da manhã.

A programação basicamente era feita de filmes antigos ou do chiado e nada mais. O carro-chefe era a Coruja Colorida da Rede Globo, hoje Corujão, a sessão de filmes mais antiga da TV.

Porém, um jornalista em especial modificou essa história: o genial Goulart de Andrade.

Ele foi o pioneiro, levando o Plantão da Madrugada nos intervalos dos filmes da Globo e fazendo grande sucesso na época. Além disso, mostrava as curiosidades da cidade em plena madrugada, dando vida a um horário que ninguém notava na televisão. Seu jeito único fez escola e ele levou o Comando da Madrugada para outras emissoras, mantendo o espírito desbravador e bem mais ousado que em sua época global.

As emissoras começaram a explorar a madrugada, a Record no Rio trouxe o Noites Cariocas, com Scarlet Moon e Nelson Motta, e a Bandeirantes colocava Ferreira Netto para debater sobre política. Nomes conhecidos começaram a surgir nesse horário alternativo: Amaury Jr. conduzia com charme e elegância o Flash, mostrando a elite em festas e eventos, enquanto Otavio Mesquita levava no Perfil sua visão cômica e espalhafatosa da noite paulista. Além de Celso Russomano, que fazia uma mistura de Flash com Perfil no Circuito Night and Day, na Gazeta.

Mas nem tudo era charme e elegância, a eterna garota de Ipanema, Helô Pinheiro, apresentava um programa chamado Bate Papo no Banheiro, exibido pela TV Gazeta. Ela, vestida de maiô, entrevistava seus convidados dentro de uma banheira. Isso mesmo, dentro de uma banheira.

O horário, antes renegado, começou a dar lucro para as emissoras, que começaram a alugar seus horários para empresas e religiosos. Igreja Universal, Igreja Internacional da Graça de Deus e LBV, entre outras, disputavam espaços com a Polishop, Diet Shake, Walter Mercado, etc. De sessão de descarrego à venda de facas: a madrugada virou um shopping de todos os gostos.

O público adulto não foi esquecido: a Record tinha a Sala Especial, que fez a alegria dos adolescentes nos anos 1980; a Band exibia o famoso Cine Privé, filho do antigo Sexta Sexy; já a Gazeta tinha o Butmann TV e o Madrugada Sexy.

Esse último programa causou certa polemica na época: exibia cenas amadoras de sexo explícito, além de striptease e entrevistas com garotas de programa. Os religiosos protestaram, alegando que a Gazeta não deveria exibir um programa desse nível, pois é gerida pela Fundação Casper Líbero.

O programa saiu do ar em outubro de 1997 e nunca retornou às telinhas, mesmo chegando aos 4 pontos no Ibope, um sucesso para o horário. Entendeu a bronca dos religiosos?

Em abril de 1998, as emissoras passaram a ter sua programação 24 horas no ar, alugando cada vez mais os horários para igrejas e passando enlatados de ponta a ponta. A madrugada hoje não mudou muito, porém o jornalismo tem mais espaço que antes.

Não importa o horário, a televisão sempre estará lá, te fazendo companhia, seja com enlatados ou sessões de descarrego.

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Fábio Marckezini é jornalista e apaixonado por televisão desde criança. Mantém o canal Arquivo Marckezini, no YouTube, em prol da preservação da memória do veículo. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor