Nilson Xavier

Semana #06

– Jove e Juma, depois de muita desconfiança e resistência da parte dela, finalmente se entendem. Os capítulos de quarta a sexta-feira foram particularmente especiais, tanto pelo clima de romance, quanto pela ida do casal para o Rio de Janeiro, repleta de possibilidades que rendem boas situações.

Pantanal

É muito bom acompanhar o amor bem construído, nascido, capítulo a capítulo, da curiosidade e encantamento, longe do batidíssimo clichê do “amor à primeira vista”.

Lindas as cenas de quarta-feira em que Jove ensina Juma a ler e depois tira fotos dela no rio! Se alguém tinha alguma dúvida do talento de Jesuíta Barbosa e Alanis Guillen para os papeis, acredito que não mais, certo? Eu, particularmente, me rendi.

O casal esbanja química, o texto é bonito, as cenas são bem dirigidas. Tudo é tão envolvente que é praticamente impossível não torcer (ou shipar, como se fala hoje em dia).

Pena de Tenório?

Pantanal

– O capítulo de segunda-feira exibiu um ótimo diálogo entre Guta, Tenório e Maria. Guta vai tirar satisfações com o pai após ouvir que ele enriqueceu explorando gente humilde no passado. Tenório lhe conta a sua história.

Aqui, o texto quase faz o público sentir pena do vilão.

Tenório adolescente, quando sua família era boia-fria no interior do Paraná, viu os pais morrerem quando o caminhão que os transportava virou. É exatamente a mesma história de Luana (Patrícia Pillar) em O Rei do Gado.

No beneditoverso, Tenório e Luana estavam no mesmo caminhão e cada um seguiu uma história, em uma novela diferente.

O Rei do Gado

Logo depois, Maria entra em cena e Tenório explica o momento em que trabalhava para o pai dela, na venda de café, de quando se casaram, dando detalhes de como funcionavam o plantio e a venda de café, usando termos desse universo, explicados de maneira didática e natural.

A conversa fluiu com os atores tão bem em cena que pareceu uma roda de conversa de família. Murilo Benício e Isabel Teixeira sempre têm cenas ótimas e estão fantásticos nos personagens.

Li comentários de que Benício não segurou o sotaque que seu personagem tinha no início, ou de que ele não falava como um paranaense. O personagem Tenório não é do Paraná. Isso já foi especificado na novela.

Milita Guta, milita!

Pantanal

– No capítulo de quinta-feira, choveram reclamações do quanto Guta anda “milituda“. Qualquer fala de Tenório, Maria ou Alcides vira uma grande questão, um discurso, um “textão”.

Sabemos que diálogos assim são necessários, que, às vezes, é preciso algum didatismo, que as críticas são pertinentes e devem ser feitas por meio dos personagens. Mas é recomendável a dose certa, para não cansar o público.

Há ainda diálogos que não descem bem, que ficam pouco naturais, que parecem extraídos de “posts de lacração” das redes sociais. Volto ao exemplo de semanas atrás em que Guta vomitou as letras do LGBTQIA+ para a mãe e a deixou sozinha de boca aberta sem entender patavina.

Textos para conscientização de questões sociais são importantes, mas acho que precisam ser usados com parcimônia. Também o personagem porta-voz precisa entregar um contraponto: ser, no mínimo, carismático. Guta corre o risco de se tornar apenas uma personagem chata, quando não deveria ser.

O mordomo gay

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Silvero Pereira chegou à novela metendo o pé na porta.

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O mordomo afeminado, que beira a caricatura, de tiradas espirituosas, chaveirinho de madame… nos lembra outro mordomo famoso, não? Acertou quem pensou em Crodoaldo Valério, o Crô (de Fina Estampa).

Assim também era Zaqueu, vivido pela falecido ator João Alberto Pinheiro na Pantanal da TV Manchete.

Em entrevistas, tanto Silvero quanto o roteirista Bruno Luperi esclareceram que Zaqueu não servirá meramente de alivio cômico, de gay capacho de madame ou vítima de piadas de mau gosto.

Em uma de suas cenas, Zaqueu filosofou sutilmente: “Qual o papel que o mordomo gay poderia almejar na vida senão o mordomo gay engraçado?

Estou ansioso pela Zaqueu in Pantanal Tour.

“Muda de quê?”

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Outro novo personagem é Xeréu Trindade (vivido por Gabriel Sater), que salvou a vida do Velho do Rio e que diz ter um pacto com o “gramulhão”. A novela ganha mais uma trama.

Aliás, excelente todo o início do capítulo de sábado, quando a onça ataca a tapera apavorando Muda e ela acerta uma bala no Velho do Rio, até ele ser salvo por Trindade.

Muda falando não deixa de ser engraçado:

– Qual o seu nome?
– Muda.
– Muda de quê?

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Desde criança, Nilson Xavier é um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: no ano de 2000, lançou o site Teledramaturgia, cuja repercussão o levou a publicar, em 2007, o Almanaque da Telenovela Brasileira. Leia todos os textos do autor