Diretor de novelas históricas como Selva de Pedra, Gabriela, Xica da Silva e O Cravo e a Rosa, Walter Avancini precisou se afastar da direção de A Padroeira, pois já se encontrava bastante debilitado. Ele teve que ficar internado para tratar um câncer de próstata, que o vitimou em setembro de 2001.

O Cravo e a Rosa

Um dos pioneiros da televisão brasileira, Walter Avancini iniciou na carreira artística aos 8 anos de idade. Ele já era considerado veterano do rádio dos Diários Associados, quando a TV chegou ao Brasil, em 1950.

Começou na Rede Tupi, onde exerceu as funções de ator, sonoplasta e roteirista. Na década de 1960, transferiu-se para a TV Excelsior e se tornou diretor. Nesta função, Avancini ficou conhecido por ser bastante duro, cruel e perfeccionista, chegando a discutir com os atores com quem trabalhava e até a reescrever cenas ou capítulos de novelas que julgasse frágeis.

Mais tarde, contratado pela Globo, ele dirigiu grandes clássicos da teledramaturgia do canal, como Selva de Pedra (1972), Gabriela (1975), Saramandaia (1976), Morte e Vida Severina (1981), Grande Sertão Veredas (1985), entre outros.

Brida

Durante o período em que ficou fora da emissora carioca, Avancini trabalhou novamente na Rede Tupi, depois Bandeirantes, SBT e por fim na Manchete, onde foi responsável pelo sucesso de Xica da Silva (1996), trama que revelou o talentoso novelista Walcyr Carrasco, que assinou a obra sob o pseudônimo de Adamo Angel.

Retorno à Globo

Walter Avancini

O diretor retornou à emissora carioca em 2000, trazendo consigo o autor Walcyr Carrasco, que em sua estreia como roteirista na nova casa escreveu a novela O Cravo e a Rosa, um notável sucesso de audiência.

Avancini dirigiu a trama e se mostrou empolgado por voltar ao canal onde se consagrou.

“O trabalho da Marluce (diretora geral da Globo, Marluce Dias da Silva) no momento é manter o padrão de qualidade que herdou do Boni, ao mesmo tempo em que enfrenta uma competição num nível mais popular com outras emissoras”, disse ele ao Jornal do Brasil, em 23 de junho de 2000.

O diretor tratou logo de desfazer a imagem de controlador e rígido pela qual ficou marcado durante décadas.

“Exerço agora um perfeccionismo sem angústia. Mas não é apenas algo pessoal. Estamos em um momento universal em que todos procuram mudar o espírito para resistir ao caos. Temos que deixar de ser autoritários para sermos solidários”, pregou Avancini.

Projeto inacabado

Pedro Paulo Rangel, Eduardo Moscovis e Walter Avancini em O Cravo e a Rosa

Em 2001, exatos 4 meses após o fim de O Cravo e a Rosa, Avancini e Carrasco retornavam ao horário das seis, desta vez com a trama A Padroeira. A obra, inspirada no romance As Minas de Prata, de José de Alencar, foi adaptado para a TV por Ivani Ribeiro e dirigida pelo próprio Avancini em 1966, na TV Excelsior.

Ele chegou a implantar a trama, mas acabou precisando ser afastado por problemas de saúde e por estar bastante debilitado.

O diretor, que havia sido diagnosticado com um câncer na próstata, foi internado no CTI da Clínica São Vicente, no bairro da Gávea, zona sul do Rio, no dia 6 de julho daquele ano, após apresentar alterações na coagulação do sangue e hemorragia no intestino.

Na tarde do dia 27 de setembro, Walter Avancini faleceu, aos 68 anos de idade, em decorrência de uma insuficiência respiratória provocada por um quadro de patologia prostática.

“Um pedaço de mim que se vai”

Walcyr carrasco e Walter Avancini

O novelista Walcyr Carrasco, que considera que sua carreira se divide entre antes e depois da parceria com Avancini, fez a seguinte declaração à Folha de São Paulo, em 27 de setembro de 2001.

“Suspeitava que estivesse doente, mas nunca comentava. Era como se a enfermidade fosse algo que o diminuísse. (…) Já estava doente, mas adorava trabalhar. Tinha disposição invejável. A ideia original de A Padroeira é dele. Mas, para nossa tristeza, não pôde levar o projeto à frente. Continuamos a nos falar com alguma frequência. Falamos, é claro, sobre novos projetos. Eu sofria, pois não acreditava que fossem acontecer. Mas lá dentro eu torcia para que houvesse uma reviravolta e fizéssemos pelo menos mais um trabalho juntos”, lamentou o novelista.

“Espero que, seja onde for, exista uma máquina caça-níquel para ele brincar de vez em quando. De fato, um pedaço de mim que se vai”, finalizou.

Walter Avancini foi casado duas vezes e teve quatro filhos: a atriz Andréa Avancini, o diretor Alexandre Avancini, o artista plástico Otávio Avancini e Antônia.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor