O fenômeno Vai na Fé deixou sua marca na teledramaturgia e dificilmente perderá o posto de melhor novela de 2023. Rosane Svartman fez um novelão que deixou o público saudoso desde o seu término. No entanto, a trama foi manchada pela cúpula da Globo, comandada por Amauri Soares, que censurou vários beijos de casais homoafetivos.
Ana Cecília Costa e Carmo Dalla Vecchia em Amor Perfeito (Reprodução / Globo)Já no caso da atual novela das seis, em plena reta final, fica a dúvida se houve interferência da emissora ou apenas um desenvolvimento bastante questionável envolvendo Érico (Carmo Dalla Vecchia).
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O personagem de Amor Perfeito sempre foi descrito como homossexual, inclusive no Gshow, site oficial da Globo. Na coletiva de imprensa, vale lembrar, o ator falou da questão que envolvia o seu personagem com alegria, já que se assumiu não tem muito tempo.
Casado há anos com o autor João Emanuel Carneiro e pais de um menino, Carmo não esconde mais o quão é bem resolvido e feliz. Tanto que perguntas sobre o seu relacionamento foram frequentes na festa de lançamento da trama por conta da identificação com o seu papel, que vivia um romance às escondidas.
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Medo de se assumir
A dificuldade de assumir uma relação gay em uma história de época era o maior conflito de Érico. O advogado tinha um romance secreto com o trompetista Romeu Telles (Domingos de Alcântara) e o caso acabou descoberto por Gilda (Mariana Ximenes) e Gaspar (Thiago Lacerda), o que causou a sua subserviência ao então casal de vilões.
A inimiga mortal de Marê (Camila Queiroz) chantageou o rapaz para que a ajudasse a prejudicar a mocinha, que foi acusada de ter matado o próprio pai. Assim foi feito, afinal, o personagem tinha pânico de ser apontado pela cidade toda como ‘invertido’. O conflito do papel era esse. Ponto.
Mudança de trama
No entanto, Érico se aproximou de Verônica (Ana Cecília Costa) e a amizade acabou se fortificando cada vez mais. Até que os personagens se apaixonaram e passaram a viver uma linda relação.
Houve uma breve cena em que o advogado confessou para a mãe de Júlio (Daniel Rangel) que teve um envolvimento com um homem no passado. A confissão foi motivada por um reencontro de Érico com Romeu em um restaurante, estando com a nova companheira do lado. O constrangimento fez a ex-amante do prefeito questionar a razão. E tudo acabou contado como se tivesse sido algo passageiro.
A sintonia entre Ana Cecília Costa e Carmo Dalla Vecchia é visível e o casal é bonito de se ver. É evidente que a bissexualidade não pode ser anulada, mas nunca foi a intenção dos autores abordá-la na trama. Foi uma clara mudança de percurso na trajetória do personagem.
Censura no Domingão
Ironicamente, no último domingo (10), Carmo se apresentou no Domingão do Huck na Batalha do Lip Sync, onde fez uma ótima performance como Madonna e recebeu a companhia de Amaury Lorenzo e Diego Martins no palco, gratas revelações de Terra e Paixão, que vêm roubando a cena como o casal Ramiro e Kelvin.
O selinho que o ator deu em Amaury durante sua apresentação foi cortado pela edição em uma censura evidente. Carmo, sem saber do corte porque o programa é gravado, fez questão de agradecer publicamente aos colegas e a Walcyr Carrasco por estar normalizando e naturalizando o amor entre dois homens no horário nobre. Seria uma crítica velada ao que aconteceu com seu personagem na novela das seis?
E por qual motivo houve a anulação da homossexualidade de Érico? Foi uma exigência da cúpula da Globo ou Duca Rachid, Júlio Fischer e Elísio Lopes Jr. tiveram autonomia para a condução da saga do advogado? A resposta dificilmente virá, mas é de se lamentar e muito o tamanho retrocesso diante dos romances homoafetivos na teledramaturgia em pleno 2023.