Na esteira do sucesso das reedições de Sai de Baixo, em 2013, e da Escolinha do Professor Raimundo, em 2015-16 (e com uma nova temporada prestes a estrear), o canal Viva e a Globo se uniram novamente, agora para uma nova versão de Os Trapalhões, com o intuito de comemorar os 40 anos da estreia do programa estrelado por Renato Aragão (Didi), Dedé Santana (Dedé) e os já falecidos Mussum e Zacarias. A julgar pela estreia, porém, o resultado foi bastante decepcionante.

Na releitura, que estreou nesta segunda-feira, os Trapalhões remanescentes (Didi e Dedé) dividirão espaço com quatro jovens que são sobrinhos dos originais, a julgar pelos nomes levemente adaptados: Didico (Lucas Veloso), Dedeco (Bruno Gissoni), Mussa (Mumuzinho) e Zaca (Guilherme Santana).

A missão deles é treinar o quarteto na arte de ser um autêntico trapalhão. Algumas esquetes clássicas são trazidas de volta em versões atualizadas e dividem espaço com números inéditos. Outros personagens recorrentes também estão na releitura, como Tião Macalé (vivido pelo ator homônimo), agora interpretado por Nego do Borel; e Sargento Pincel (originalmente com Roberto Guilherme, será vivido por Ernani Moraes).

Formado quase inteiramente por esquetes e paródias musicais, o humorístico conquistou o público nas décadas de 70, 80 e 90 com seu estilo altamente escrachado e politicamente incorreto, repleto de piadas fortes entre seus integrantes. 40 anos depois, vive-se uma realidade diferente, que dificulta que as galhofas mais pesadas sejam levadas ao ar em um produto com uma proposta mais familiar. Ainda assim, o roteiro da equipe comandada por Péricles Barros deixou muito a desejar, mesmo para um programa de humor leve.

As esquetes apresentadas por vezes lembravam o humor bobinho apresentado em A Turma do Didi, humorístico dominical exibido entre outubro de 1998 e fevereiro de 2013 (nos últimos anos, com o nome Aventuras do Didi) e não conseguiram provocar o riso de forma natural. Algumas, inclusive, eram remakes de números apresentados no programa clássico. Um quadro onde o elenco interpreta super-heróis remeteu imediatamente à Legião dos Super-Herois Brasileiros, do Casseta e Planeta, Urgente – inclusive com a presença de Letícia Lima interpretando uma Mulher-Silicone, vivida no C&P por Maria Paula.

Mumuzinho e Gui Santana foram os maiores destaques do primeiro episódio. As imitações dos dois foram bem fieis a Mussum e Zacarias, o que os ajudou a se sobressair. O cantor, com pouca experiência em atuação, surpreendeu pela naturalidade. Santana, por sua vez, usou a seu favor suas passagens pelo Pânico na Band e pelo Comédia MTV.

Lucas Veloso, embora um pouco abaixo, deu um tom interessante a seu Didico, bastante próximo de Didi. Apenas Bruno Gissoni destoou, mostrando não ter traquejo para a comicidade e ficando com o perfil menos atraente do quarteto. No resto do elenco, Nego do Borel foi o maior erro de escalação. Sua fraca interpretação é a mesma apresentada nas fracas temporadas Seu Lugar no Mundo e Pro Dia Nascer Feliz de Malhação.

Com nove episódios, a série ainda apresentará outros números inéditos e atualizações de esquetes clássicas, como o quadro de Sargento Pincel. Julgar apenas pelo primeiro episódio é difícil, pois há a chance de a releitura surpreender ao longo da trajetória. Porém, se o nível apresentado pela estreia se mantiver, a homenagem aos clássicos Trapalhões será fatalmente decepcionante. Ainda mais se considerarmos que é um programa onde a memória afetiva é muito forte.


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