Um dos grandes destaques do humorístico Sai de Baixo (1996) foi Claudia Jimenez (na foto abaixo com Tom Cavalcante). Ela fez o Brasil interior rir ao viver a desbocada Edileusa, empregada “faz tudo” de Vavá (Luis Gustavo) e dos familiares que moravam com ele no apartamento do Largo do Arouche.

Escolinha do Professor Raimundo - Claudia Jimenez e Tom Cavalcante
Divulgação / Globo

O perfil grosseiro e resmungão da personagem, contudo, se confundiu com a personalidade da atriz. A imprensa da época apontava inúmeros transtornos nos bastidores, sempre ligados à Claudia, o que implicou na saída dela da atração após o fim da primeira temporada.

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Tumulto na coxia

Sai de Baixo - Claudia Jimenez
Reprodução / Globo

O jornal O Globo de 13 de julho de 1996 noticiou os atritos de Claudia Jimenez com técnicos, diretores e autores do Sai de Baixo. A direção da Globo chegou a cogitar a suspensão da atriz, seguindo a medida adotada com Miguel Falabella, intérprete de Caco Antibes, afastado das gravações por três semanas. No entanto, os executivos voltaram atrás, evitando decisões precipitadas.

Uma fonte da emissora contou que a atriz reclamava constantemente das piadas do texto, chegando a recusar interpretá-las. Jimenez teria, inclusive, exigido alterações no título e no texto do episódio ‘Vou embora. Fui!’, do autor Flávio de Souza.

“Ela está deslumbrada com um sucesso que nunca tinha feito e se sente no direito de se queixar de tudo. É uma estrela, a dona do programa”, disparou um integrante da equipe que preferiu não se identificar.

“Dia desses, teve um ataque de estrelismo e disse que o trabalho do Dennis (Carvalho, diretor) e dos câmeras era uma merda. Como se não bastasse, durante a gravação da participação do elenco no ‘Criança Esperança’ não quis atuar, alegando que não ganha para fazer aquilo”, completou.

“Roupa suja se lava em casa”, respondeu Dennis, quando consultado pelo jornal sobre os problemas com Claudia nos bastidores.

O outro lado da história

Sai de Baixo - Claudia Jimenez e Miguel Falabella
Divulgação / Globo

Em meio aos relatos sobre a insegurança da atriz e ataques de estrelismo – como os atrasos na escolha do figurino e a exigência de um cabeleireiro de Curitiba –, o outro lado veio à tona. Claudia Jimenez estava insatisfeita com os apelidos jocosos que recebia no texto.

Adjetivos como “rolha de poço” e “supositório de baleia” teriam levado a atriz a indicar uma autora para solucionar falhas no roteiro, desenvolvido por cerca de 10 profissionais.

Nani, um dos roteiristas, afirmou que tais apelidos não faziam parte do script e que o responsável pelos improvisos era Miguel Falabella (foto acima).

Isso fez com que Jimenez expusesse publicamente o seu descontentamento com o trabalho. Ela fez sérias críticas ao programa, o que levou à dispensa de Edileusa do Arouche no final de 1996.

Ponto final

Claudia Jimenez
Reprodução / Instagram

O diretor Daniel Filho foi quem pediu o desligamento de Claudia Jimenez ao então vice-presidente de operações da Globo, Boni. Após ser dispensada, ela falou sobre sua saída do seriado ao Jornal do Brasil, em 26 de janeiro de 1997.

“Eu acho que o meu grande erro foi tentar modificar as coisas com as quais eu não concordava. Eu realmente fui insubordinada algumas vezes, mas só porque eu queria melhorar as coisas. Eu acho que eles têm todo o direito de me demitir. A sacanagem não foi a demissão, mas a maneira como as coisas foram feitas”, enfatizou a atriz.

“Eu fui comunicada que saí do programa. Era mais fácil se livrar de mim do que reformular o programa. […] Mesmo que eles queiram que eu volte, eu não volto jamais. Comigo, o Eduardo Figueira, produtor do programa, me disse para ficar tranquila porque essa decisão não é definitiva. Mas para mim é. Eu jamais vou pisar de novo neste programa, pra mim acabou”, decretou.

Cláudia Jimenez faleceu no dia 20 de agosto de 2022, aos 63 anos, vítima de insuficiência cardíaca.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor