Contando com um dos elencos mais estelares de todos os tempos – O Outro Lado do Paraíso vai de Fernanda Montenegro a Glória Pires -, Walcyr Carrasco já pode considerar sua nova empreitada às 21h como bem-sucedida. Afinal, um time de nomes tarimbados influi na aceitação do público e, consequentemente, na audiência. E Walcyr anda contando com prestígio suficiente para reunir, numa mesma trama, Juca de Oliveira e Lima Duarte.

Mas nem sempre foi assim… Cortina do Vidro, a primeira novela do autor – que, curiosamente, também estreou num 23 de outubro – enfrentou rejeição de talentos pretendidos pela produtora Miksom (de propriedade de Guga de Oliveira, irmão de Boni) e pelo SBT. Exibida entre outubro de 1989 e maio de 1990, a novela era apontada como marco de um novo tempo na teledramaturgia do canal de Silvio Santos; o insucesso, contudo, frustrou todos os planos do “patrão” de manter um núcleo de novelas. Projetos de Bráulio Pedroso – uma continuação de Beto Rockfeller (1969) e A Arca do Espaço, folhetim sobre extraterrestres -, acabaram ficando pelo caminho.

Para esta primeira e única parceria, Miksom e SBT esperavam contar com Francisco Cuoco, recém-saído de O Salvador da Pátria, ou Tarcísio Meira como Frederico Stuart (entregue a Herson Capri). Para Branca (papel de Betty Gofman), foram sondadas Bruna Lombardi e Luma de Oliveira. Lucélia Santos e Cássia Kis chegaram a ser oficializadas como Ângela, que acabou nas mãos de Sandra Annenberg, hoje apresentadora do Jornal Hoje. Também Nívea Maria, que chegou a assinar contrato e mudar-se para São Paulo, mas, habituada ao Rio de Janeiro, acabou por pedir dispensa, deixando a bandida Glória para Esther Góes.

Também disseram “não” ao convite dos responsáveis pela escalação Irene Ravache, Lúcia Veríssimo e Lucinha Lins; ainda Maria Zilda Bethlem e Nuno Leal Maia (arregimentados pela Globo para Top Model, às 19h) e Paulo Betti (convocado para Tieta, no ar às 20h).

Sobre a trama

O edifício Dacon, em São Paulo, era o grande “personagem” de Cortina de Vidro. Pelos andares – onde estavam instaladas lojas de automóveis, restaurantes e imobiliárias – circulava o milionário Frederico Stuart, que se fazia de pobretão para seduzir a humilde bailarina Branca. Isso até a vilã Glória descobrir o passado de atriz pornô da moça. Eis que durante uma exibição pública, orquestrada pela malvada, de uma fita VHS para adultos na qual Branca é protagonista, o edifício começa a pegar fogo. As chamas e a fumaça acabam por liquidar boa parte dos personagens – até mesmo a mocinha, “substituída” por Ângela, nova pretendente de Stuart.

O enredo de Cortina de Vidro trazia ainda uma série de referências cinematográficas: de Adorável Pecadora (1960), estrelado por Marilyn Monroe, veio a trama de Frederico e Branca; já Rede de Intrigas (1976) influiu na criação de William (Adriano Reys) e Giovanna (Débora Duarte). O personagem de Sally Field em Norma Rae (1979) deu origem a Ângela; os de Jack Lemmon e Walter Matthaw em Um Estranho Casal (1968) inspiraram Felipe (John Herbert) e Artur (Gianfrancesco Guarnieri). All That Jazz (1979), Atração Fatal (1987), Chá e Simpatia (1956) e Fama (1980) também foram reverenciados. E por fim, óbvio, Inferno na Torre (1974).


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.