Uma das melhores produções dos últimos tempos da Rede Globo estreava há sete anos, em 6 de janeiro de 2014. “Amores Roubados” —– adaptação do romance “A Emparedada da Rua Nova”, de Carneiro Vilela” —- terminou no dia 17 de janeiro daquele ano honrando todas as qualidades apresentadas ao longo de seus dez capítulos e deixando o público com saudades dessa minissérie tão bem realizada.

O último capítulo primou pela tensão extrema e pelas grandes atuações do elenco, que desde o início foi um dos muitos pontos altos dessa produção. Entre as muitas cenas fortes e bem interpretadas (incluindo o momento que Isabel é internada após apontar uma arma para Jaime e o choro de Carolina ao lembrar de Leandro), sem dúvida a mais impressionante foi protagonizada por Isis Valverde e Murilo Benício.

E foi justamente a sequência que surpreendeu o telespectador com um desfecho totalmente inesperado. Antônia confronta o pai e conta que está grávida de Leandro, o homem que ele assassinou. Jaime fica atordoado, acaba se desequilibrando e cai de um precipício. A filha se desespera, desce até o local onde está o pai, mas só tem tempo de vê-lo agonizar e morrer. Foi uma cena arrepiante e magnificamente interpretada pelos atores. Impactante e digna de aplausos de pé.

Esse final acabou causando um choque porque, ao contrário do que foi feito em “O Canto da Sereia”, George Moura optou por mudar o desfecho da obra original. Na história de Carneiro Vilela (ambientada no tempo dos coronéis, por volta de 1800), o pai, ao saber da gravidez da filha, resolve emparedá-la viva para se livrar da vergonha. Sem dúvida um fim trágico e muito forte. Aliás, vale lembrar que na maravilhosa série “A Cura”, de João Emanuel Carneiro, o grande vilão (Carmo Dalla Vecchia) emparedava seus inimigos vivos e as cenas impressionavam.

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Destino de Leandro não foi alterado

Apesar de ter mudado esse final, George manteve o destino de Leandro (Cauã Reymond): o rapaz realmente foi assassinado por Jaime Favais. E a última cena, protagonizada por Isis Valverde e Patrícia Pillar, foi muito emocionante. Antônia levava seu filho Leandro e dava um forte abraço em sua mãe, Isabel, que já havia deixado o manicômio. Um raro momento de ternura e aparente alegria em meio a situações que refletiam desgraça desde o primeiro capítulo.

A minissérie foi muito bem desenvolvida em dez dias. A primeira semana foi praticamente voltada para um clima de sensualidade e erotismo, maquiando uma tensão que estava prestes a explodir. E foi o que aconteceu na segunda semana, quando no sexto capítulo Leandro foi assassinado, surpreendendo o telespectador que imaginava sua morte apenas no final da história. Com o crime, a produção chegou ao clímax e virou um thriller dos bons. Sem dúvida, as duas semanas foram suficientes para contar a trama, desenvolver os personagens, equilibrar drama com suspense, e ainda deixar um gostinho de ‘quero mais’.

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Nem tudo foi perfeito

Claro que nem tudo foi perfeito. O áudio deixou muito a desejar, já que várias vezes era difícil entender o que alguns personagens falavam. Foi um erro deixar Carolina (Cássia Kiss) sem saber que seu filho morreu, assim como não deu para perdoar o ‘esquecimento’ da existência de João (Irandhir Santos). O obscuro e doentio personagem, vivido brilhantemente pelo ator, não teve um desfecho e o telespectador não soube o que aconteceu com ele depois de ter assassinado Bigode de Arame (Cesar Ferrario), seu comparsa.

Uma produção com poucos personagens não pode se dar ao luxo de ignorar o final de um deles, ainda mais tendo a importância que tinha. E outro ponto negativo foi a ausência de uma cena mostrando o que foi feito, afinal, com Leandro, após a queda do carro. Jaime mandou seu capanga se livrar do problema, mas a ação nunca foi exibida. Falhas não compatíveis com a qualidade da produção.

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Minissérie grandiosa

Entretanto, esses furos do último capítulo ficaram pequenos diante da grandiosidade da minissérie. George Moura soube adaptar uma instigante trama, José Luiz Villamarim mais uma vez mostrou competência como diretor, Walter Carvalho foi o responsável por uma admirável fotografia, a trilha sonora esbanjou bom gosto e o elenco deu um show de interpretação —– Murilo Benício, Cássia Kiss, Patrícia Pillar, Irandhir Santos, Isis Valverde, Dira Paes, Magdall Alves, Cesar Ferrario, Osmar Prado, Germano Haiut, Walter Breda, Cláudio Jaborandy e Jesuíta Barbosa (grata revelação) impecáveis.

“Amores Roubados” marcou pelo capricho, entrou para a lista das grandiosas produções da Rede Globo e o sucesso que fez (obtendo uma média geral de 28 pontos) foi mais do que merecido. Além de mostrar um lado do sertão nordestino pouco explorado na ficção —- a riqueza e a industrialização do lugar —-, a minissérie de George Moura conseguiu prender o público com uma atraente e bem construída história, que transbordou tristeza, tragédia e sexualidade.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor