Em 1971, logo depois do sucesso de Irmãos Coragem, a mesma autora (Janete Clair), os mesmos diretores (Daniel Filho e Milton Gonçalves) e metade do elenco da trama, incluindo Tarcísio Meira e Glória Menezes, seguiram na faixa das oito da Globo. Essa prática era comum na época, vide também, por exemplo, O Bem-Amado e Os Ossos do Barão (1973), mas seria impensável nos dias de hoje. A nova produção deveria sugerir a vida de Jesus Cristo, mas foi vetada pela Censura – no final das contas, o protagonista acabou virando um extraterrestre.

Só que, ao contrário de Irmãos Coragem, o resultado não foi um sucesso arrebatador, apesar de ter audiência satisfatória: O Homem que Deve Morrer, que estreou em 14 de junho de 1971, no Rio de Janeiro, e em 16 de julho, em São Paulo, terminava em 8 de abril de 1972, na capital fluminense (dia 11, foi a vez da capital paulista, já que a emissora ainda não transmitia totalmente em rede).

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Em texto sobre as novelas mais elogiadas e mais criticadas de Janete, nosso colunista Nilson Xavier falou sobre os principais problemas de O Homem que Deve Morrer:

Novela retalhada pela Censura Federal. Segundo a autora, o protagonista Ciro Valdez (Tarcísio Meira), deveria sugerir a alegoria da vida de Cristo em sua passagem pela Terra. O tema foi considerado impróprio e acabou totalmente censurado. Os scripts dos 10 primeiros capítulos foram vetados.

Janete Clair decidiu então fazer uma adaptação do livro “Eram os Deuses Astronautas?”, de Erich Von Daniken, para relacionar os poderes mediúnicos de Ciro aos extraterrestres. A autora completou a novela com Ciro Valdez incorporando um médico comum.

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Daniel Filho destacou em seu livro “Antes que me Esqueçam”: “Em O Homem que Deve Morrer, uma mulher virgem tinha um filho que era educado fora (…) Falava-se muito na história do nascimento dele, sendo a mãe uma donzela. Dizia-se que ela tinha tido um romance com um camarada. Depois, era discutido o hímen complacente. Resultado: a novela foi proibida. Esse tema foi cortado quando faltavam dois dias para a estreia. E Tarcísio Meira acabou sendo um extraterrestre mesmo”.

O pesquisador Cláudio Ferreira narrou no livro “Beijo Amordaçado – A Censura às Telenovelas Durante a Ditadura Militar”: “No parecer dos dez primeiros capítulos, (…) a lista de restrições era enorme, de adultério a misticismo, passando por desmoralização da Justiça, ridicularização aos símbolos religiosos e telepatia. Em letras maiúsculas, a sentença final: NOVELA NÃO PODERÁ SER APROVADA – FERE CONSTITUIÇÃO – LEI DE SEGURANÇA NACIONAL. (…) um ofício do diretor geral da Polícia Federal, general Nilo Caneppa Silva, mostra que houve negociações para liberar a novela“.

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Infelizmente, isso tudo nunca mais poderá ser revisto: as fitas da novela se perderam nos incêndios sofridos pela Globo nos anos 1970 e não existem mais imagens dessa novela.

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