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Hoje aclamada como uma das mais inovadoras telenovelas de nossa TV, O Casarão – de Lauro César Muniz, com direção geral de Daniel Filho – completa 46 anos de sua estréia neste 7 de junho.
Tanta inovação teve um preço. Explico por meio de 10 curiosidades sobre a produção.
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Confira:
Ousadia
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Com ares de revolucionária, O Casarão trazia uma novidade ousada à telenovela: a trama se desenrolava em três épocas distintas (1900, 1926 e a atualidade da novela, 1976), mas não havia linearidade dos acontecimentos.
Explicando: o capítulo iniciava com uma cena da primeira fase, a seguinte podia ser da terceira, para depois voltar à primeira e na sequência pular para a segunda, e assim por diante, desordenadamente.
Lembrava a estrutura de O Rebu (1974-1975), em que a história também ia e voltava em três tempos, porém esta era era sempre na contemporaneidade.
Atores diferentes para os mesmos personagens
Outro recurso, hoje corriqueiro, mas de certa forma novo na época, foi a escalação de atores diferentes para os mesmos personagens nas diferentes fases da novela.
Assim, o triângulo amoroso João Maciel-Carolina-Atílio foi vivido por Gracindo Jr., Sandra Barsotti e Denis Carvalho quando os personagens eram jovens, e por Paulo Gracindo, Yara Côrtes e Mário Lago, quando eram velhos.
O público não entendeu
O Casarão pagou por essa ousadia toda e da pior forma: na repercussão. Apesar de elogiada pela crítica especializada, a novela não era popular e o público reclamava que não entendia a trama.
O primeiro capítulo foi reprisado às 23 horas do mesmo dia porque a Globo recebeu muitos telefonemas de telespectadores que não haviam entendido a novela, já que a estrutura e linguagem eram novas na televisão.
Aos poucos o público foi se inteirando de como funcionava a novela e se acostumando à sua estrutura. Daniel Filho narrou em seu livro “Antes que me Esqueçam”:
“’O Casarão’ me agradou muito como trabalho de roteiro e de narrativa, de comportamento de época, mas parece que confundiu demais o público. Depois que a novela acabou, volta e meia alguém dizia: ‘O que eu queria mesmo saber é se o Mário Lago é tio ou pai do Denis Carvalho’. Foi uma novela de prestígio, mas não uma novela popular. Era realmente complicada”.
Censura
Lauro César Muniz sofreu com a ação da Censura Federal, ainda em tempos de Ditadura Militar.
A novela era visada por tratar em seu entrecho de política e adultério – nas primeiras fases, a efervescência política nas campanhas eleitorais, e, na última fase, o caso extraconjugal de Lina (Renata Sorrah): com o casamento em crise com Estevão (Armando Bógus), ela se envolve com Jarbas (Paulo José).
Para unir-se ao seu novo amor, a Censura impôs que Lina primeiro pedisse o divórcio. Era uma trama importante na novela, em que o autor fazia um contraponto da personagem, uma mulher libertária, com as mulheres ancestrais de sua família, que abdicaram do amor para se casarem por imposição.
O casarão do título
Com essa novela, Lauro César Muniz encerrava sua trilogia sobre a história do estado de São Paulo, iniciada com Os Deuses Estão Mortos, na TV Record, em 1971, e Escalada, na própria TV Globo, em 1975.
O casarão do título era uma alusão à decadência econômica e moral de uma família ao longo de mais de setenta anos.
A edificação foi levantada em 1900, na região rural do município de Tangará, em nome do progresso, já que, ali perto, seria construída uma rodovia para escoar a produção de um barão do café, representando o poderio econômico e político de sua família.
O casarão é então palco de várias crises, até chegar na atualidade em total decadência, na iminência de ser demolido – ironicamente em nome do progresso, para a construção de uma nova rodovia.
A cenografia
Como o fio condutor da história era o casarão, que sofria a ação do tempo nas três épocas exibidas, o cenógrafo Mário Monteiro desenvolveu várias fachadas para retratá-lo.
Assim era possível gravar em um mesmo dia cenas passadas em tempos diferentes – embora a construção só pudesse ser enquadrada de frente, pois cada face representava uma época. Os interiores eram gravados em estúdio.
Disputa entre diretores
Para o protagonista João Maciel, o diretor Daniel Filho teve que disputar o ator Paulo Gracindo com Wálter Avancini, que o queria para viver um dos coronéis de Saramandaia, a novela das dez da noite que ele dirigia na época.
As cidades cenográficas de Saramandaia e de O Casarão ficavam próximas. Quando Avancini foi gravar a sequência da explosão da personagem Dona Redonda (Wilza Carla), as gravações de O Casarão tiveram que ser interrompidas várias vezes, porque o diretor, em busca de um melhor resultado, passou 15 dias tentando gravar a cena, até chegar ao esperado.
A sequência final
A cena final foi uma das mais belas de nossa Teledramaturgia, das mais icônicas da história de nossa televisão.
Após a morte de Atílio (Mário Lago), Carolina (Yara Côrtes), depois de quarenta anos de espera, chega ao encontro marcado na Confeitaria Colombo (no Rio de Janeiro), para rever João Maciel (Paulo Gracindo), o seu amor da juventude.
Ela pergunta se o fez esperar muito e ele responde: “40 anos!”, referindo-se ao passado, quando combinaram de fugir juntos e ela não apareceu.
A música de fundo é “Fascinação”, em uma gravação de Elis Regina, um grande sucesso da época impulsionado pela novela.
A trilha sonora
Além de “Fascinação”, a trilha sonora nacional trouxe outras pérolas de nossa música: a gravação de Gal Costa para “Só Louco”, de Dorival Caymmi, que embalou a abertura da novela, “Latin Lover”, com João Bosco, “Menina do Mato”, com Márcio Lott, “Coisas da Vida”, com Rita Lee, a instrumental “Tangará”, com o Coral Som Livre, que sonorizava as vinhetas de “estamos apresentando”.
Mas o grande sucesso popular dessa trilha é a música “Nuvem Passageira”, gravada por Hermes Aquino, que tocou incessantemente nas rádios em 1976: “Eu sou nuvem passageira que com o vento se vai. / Eu sou como um cristal bonito que se quebra quando cai…”.
Da trilha internacional, vale destacar as baladas românticas “I Need to Be in Love” (Carpenters), “When You´re Gone” (Maggie McNeall), “I´m Easy” (Keith Carradine), “My Life” (gravada pelo brasileiro Michael Sullivan), a dançante “Honey Honey” (Abba) e a curiosa presença do tema do seriado S.W.A.T., que a Globo exibia na época.
As reprises
O público reviu O Casarão em duas oportunidades. Em janeiro de 1980, em um compacto de uma hora e meia de duração, como atração do Festival 15 Anos.
E entre março e abril de 1983, de forma reduzida, como tapa-buraco para cobrir o encurtamento da novela Sol de Verão – que teve seu fim antecipado por causa da morte do ator Jardel Filho –, já que a trama substituta, ”Louco Amor”, ainda não estava pronta para estrear.
Por conta desta última reprise, em uma campanha publicitária ousada, a Band anunciou sua nova novela concorrente no horário, Sabor de Mel, com um slogan criativo: “Quem não sabe que a Carolina não vai casar com João Maciel? Dia 4, mude de atitude. A Bandeirantes não reprisa emoção, cria!”.
AQUI tem tudo sobre O Casarão: a trama, elenco completo, personagens, trilhas sonora e mais curiosidades.