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A Band já colheu bons frutos com dramaturgia. Há mais ou menos 40 anos, aproveitando o fim da TV Tupi – momento sem mais concorrentes para a Globo -, a emissora do Morumbi (na época TV Bandeirantes) resolveu investir pesado em novelas, obtendo ótimos resultados, com títulos como Meu Pé de Laranja Lima, Cavalo Amarelo e Os Imigrantes.
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Há exatos 40 anos, a emissora lançava a novela Ninho da Serpente, de Jorge Andrade, que chegou a registrar um bom pico de audiência, ameaçando os índices da líder Globo.
Lembro bem da novela, de seu clima soturno, principalmente por causa do cenário principal, a imponente mansão da família, e da protagonista Guilhermina – Cleyde Yáconis vivendo uma mulher aristocrática e arrogante, com direito a mecha de vilã no cabelo impecavelmente penteado, quase um protótipo de Odete Roitman.
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Relaciono 10 curiosidades sobre a produção, que ficou marcada em minha memória afetiva.
Aristocracia falida
Jorge Andrade, voltava a abordar a decadência da aristocracia paulistana, como fizera nas novelas Os Ossos do Barão (1973-1974), O Grito (1975-1976) e Gaivotas (1979).
Em Ninho da Serpente, o autor, fora da Globo, pôde fazer um retrato mais cruel da alta sociedade na luta pelo poder e pela riqueza. Os personagens também seguiam essa linha, retratando a pose e hábitos de paulistas aristocratas falidos, dando oportunidade para os atores criarem tipos marcantes.
Clima policial
A novela propunha um clima de literatura policial, com o suspense envolvendo o testamento e a morte do principal membro do clã, Cândido Taques (que apenas era citado ou aparecia de costas), o assassinato de uma empregada da mansão, Marinalda (Mayara Magri), e um mistério sobre o conteúdo do quadro pintado pela copeira Oriana (Denise Stoklos).
A mansão
A ação quase que se restringia exclusivamente à mansão dos Taques Penteado – o “ninho da serpente” do título. O principal cenário da novela era um casarão alugado para as gravações pela emissora, um palacete situado na Rua Guatemala 193, no elegante bairro do Jardim América, em São Paulo.
Na abertura da novela, a câmera passeava pelo lado de fora e pelo interior da mansão. Uma das tomadas principais, usada na abertura e chamadas, era a vista do alto da escadaria em formato de caracol, cuja imagem remetia a uma serpente.
O título
Em entrevista à revista Romântica, antes da estreia, o autor Jorge Andrade explicou o título de seu folhetim:
“A razão da escolha deste título é porque, para mim, a serpente é o símbolo da intolerância, do preconceito, da ambição, da ganância, e simboliza, enfim, o jogo de interesses familiares e toda força poderosa e econômica de uma classe social”.
Atriz trocada
A atriz inicialmente escolhida para o papel da protagonista Guilhermina foi Norma Bengell, então egressa da novela anterior, Os Adolescentes. Norma chegou a experimentar figurinos e fazer testes de maquiagem. Porém, o resultado final não foi satisfatório: os traços marcantes da fisionomia da atriz impediam que ela aparentasse uma senhora de 70 anos, como exigia a personagem.
Guilhermina ficou a cargo de Cleyde Yáconis – uma de suas melhores interpretações na televisão. Por seu trabalho, a atriz foi eleita pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) a melhor de 1982.
Atriz falecida
Márcia de Windsor faleceu em 4 de agosto de 1982, faltando dois meses para completar 49 anos de idade e três semanas para o término de Ninho da Serpente. Vítima de infarto agudo do miocárdio, Márcia foi encontrada morta no quarto do hotel onde estava morando em São Paulo por conta das gravações da novela.
A atriz já havia gravado toda sua participação na trama. Sem substituição nem desaparecimento súbito, sua personagem, Jerusa, continuou presente nas falas de outros personagens.
Curiosidade: Márcia de Windsor era mãe do ator Arlindo Barreto, o mais polêmico dos palhaços Bozo do SBT, que rendeu o filme Bingo, o Rei das Manhãs (2017), baseado em sua trajetória, no qual a atriz foi representada por Ana Lúcia Torre.
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Mudança de horário
A novela estreou às 21h15, porém, logo depois, em uma reformulação da grade da emissora – que percebeu seu potencial de audiência – teve seu horário de exibição alterado para as 20h15, chegando a bater de frente com a novela das oito da Globo, Sétimo Sentido, de Janete Clair.
Novela espichada
Inicialmente, Ninho da Serpente teria 80 capítulos, ficando no ar de abril a junho de 1982. Porém, em maio, com a mudança de seu horário de exibição e o sensível aumento na audiência, a emissora solicitou a Jorge Andrade que a esticasse até o capítulo 120, o que daria cerca de um mês a mais.
Para sustentar a trama sem deixar o interesse do público cair, Andrade incluiu novos personagens na história, como o psiquiatra Mário (Valdir Fernandes), que cuidou do trauma sofrido por Rogério (Flávio Guarnieri), e a bela americana Pietra (Kate Lyra), que passou a disputar Mateus (Kito Junqueira) com Lídia (Eliane Giardini).
Também teve peso no terço final da trama o delegado Romeu (Edgard Franco), que surge para investigar a misteriosa morte da empregada Marinalda (Mayara Magri).
Estreias na televisão
Foi o primeiro trabalho na TV da atriz Eliane Giardini e do ator Paulo César Grande. Também pode-se considerar a estreia de Mayara Magri, já que, anteriormente, ela havia feito apenas uma pequena aparição em Os Adolescentes.
Um dos pontos curiosos do elenco foi a presença da atriz, coreógrafa e dançarina Denise Stoklos, que raramente trocou o teatro pela televisão.
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Remake
Em 1997, a trama central de Ninho da Serpente, com seus principais personagens, foi incorporada à nova versão da novela Os Ossos do Barão, também de Jorge Andrade, produzida pelo SBT.
Coube a Imara Reis o papel de Guilhermina, vivido por Cleyde Yáconis em 1982. Curiosamente, Imara havia atuado em Ninho da Serpente, como Norma, uma das filhas de Guilhermina.
AQUI tudo sobre Ninho da Serpente: a trama, elenco completo, personagens, trilha sonora e mais curiosidades.