Há 35 anos, Globo lançava Bom Dia Brasil e jornais locais; confira a grade de programação

“Tempo Global”. Era assim que a Globo se referia à temporada de estreias de janeiro de 1983. Período marcado, especialmente, pelo lançamento de telejornais matutinos, reapresentações de duas grandes novelas, por edições locais de noticiários, férias na linha de shows e a retomada da exibição de minisséries, bem-sucedidas no ano anterior. Relembre aqui no TV História a grade da emissora há 35 anos atrás, 3 de janeiro de 1983.

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A programação tinha início às 6h30, com o Telecurso 2° Grau. O ‘1° Grau’ entrava em seguida, 6h45. Logo após, a grande estreia do dia: o Bom Dia Brasil (7h). O telejornal, hoje gerado no Rio de Janeiro, nasceu em Brasília. Carlos Monforte ancorava o noticiário, essencialmente político e econômico. O destaque ficava por conta do ‘café da manhã com entrevista’, quadro gravado às 6h, que contava sempre com a participação de moradores ou hóspedes ilustres da capital federal; na estreia, o então presidente da República, João Figueiredo. A prestação de serviço também marcava presença: Maurício Sampaio, diretor do Instituto Nacional de Meteorologia, trazia a previsão do tempo para todos os estados.

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Os jornais locais eram exibidos na sequência (7h30). Destaque para o Bom Dia Rio, que também estreava naquele dia, contando com Leda Nagle e Marcos Hummel na apresentação; ela, numa espécie de sala de estar, e ele, direto da redação. Na equipe de reportagem, novatos promissores como André Luiz Azevedo e Leilane Neubarth. E a já tarimbada Glória Maria, que “deixava de fazer a matéria para se colocar nela”, como citado pela crítica Maria Helena Dutra em artigo publicado na época no Jornal do Brasil. Na primeira edição, Glória se exercitou no calçadão da Vieira Souto, entrevistando populares enquanto corria do Leblon até Ipanema.

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Ainda naquele janeiro, Irede Cardoso, editora do TV Mulher (8h), representou o Brasil em um evento da ONU, em Nova Iorque, que promovia a troca de ideias entre mulheres produtoras de TV de treze países. Uma amostra do status da produção, de inegável repercussão em todo território brasileiro. O ‘TV’ iniciou sua temporada 1983 com a atriz Esther Góes – recém-saída de Elas Por Elas (1982) – substituindo a titular Marília Gabriela, em férias. Esther estreou em boa companhia: recebendo Abelardo Barbosa, o Chacrinha, no quadro ‘Ponto de Encontro’. O segmento ‘Moda’ já não era mais do polêmico Clodovil; foi Ney Galvão quem apresentou as tendências de maiôs e biquínis para o verão. Já em ‘Novela’, a estreia de Ciranda de Pedra. O folhetim, recente (encerrado, às 18h, em novembro de 1981), era centrado na luta de Laura (Eva Wilma) e Virgínia (Lucélia Santos), a filha que tivera fora do casamento, vilipendiadas pelo execrável Natércio Prado (Adriano Reys), ex-marido e suposto pai.

O Globo Cor Especial (11h) entrava em sua fase final – seria extinto em março de 1983, época de implantação do inesquecível Balão Mágico. Os destaques da faixa de desenhos, nestes primeiros anos da década de 1980, eram as animações dos estúdios Hanna-Barbera, Os Flintstones e Superamigos; este último, inspirado nos quadrinhos Liga da Justiça, da DC Comics, que reunia os heróis Super-Homem, Mulher Maravilha, Aquaman, Batman e Robin.

1983 foi o primeiro ano do Globo Esporte (12h45) aos sábados. A atração, prestes a completar cinco anos de existência, contava com Fernando Vannucci e Léo Batista no time de apresentadores – até o narrador Galvão Bueno passou por lá. Com Leda Nagle no Bom Dia Rio, o Jornal Hoje (13h) foi entregue a nomes como Carlos Campbell, Celene Araújo e Wellington Oliveira (foto).

Plumas e Paetês era quase tão recente quanto Ciranda de Pedra, a reprise das manhãs, quando reestreou em Vale a Pena Ver de Novo (13h40). A trama, escrita por Cassiano Gabus Mendes e Silvio de Abreu, chegou ao fim, às 19h, em abril de 1981. No centro da narrativa, Marcela (Elizabeth Savala), que, após um acidente de trânsito, assume a identidade da amiga morta Roseli – na verdade, Júlia (Cristina Aché) -, desfrutando do auxílio de uma poderosa família. Marcela, abandonada grávida pelo namorado Renato (José Wilker), encontra hostilidade apenas em Edgar (Cláudio Marzo), seu suposto cunhado (os dois, óbvio, se apaixonam). No elenco, Maria Cláudia, Eva Wilma, Paulo Goulart e Lúcia Alves.

A Sessão da Tarde (14h30) do primeiro dia útil de 1983 apostou na comédia A Farra dos Malandros (1954), estrelada por Jerry Lewis. Já na Sessão Aventura (16h30), um único cartaz ao longo de toda a semana: a série O Incrível Hulk, da CBS, estrelada por Bill Bixby (Dr. David Banner) e Lou Ferrigno (o cientista transmutado no gigante verde).

O Caso Verdade (17h35), que reproduzia histórias verídicas – algumas relatadas por telespectadores através de cartas – contou com Dom Paulo Evaristo Arns, então Cardeal Arcebispo de São Paulo, na apresentação do episódio ‘A Padroeira’. O programa, com roteiro de Daniel Más e Luciano Ramos, retratava o surgimento do culto a Nossa Senhora Aparecida. A produção buscou reconstituir, em todos os detalhes, a vida às margens do Paraíba do Sul no ano de 1717, época em que pescadores encontraram a imagem da Virgem Maria nas águas do rio. No elenco, Antônio Petrin, Isis Koschdoski, Odilon Wagner e Sebastião Vasconcelos.

Com Ciranda de Pedra às 10h e Plumas e Paetês às 13h40, Neuza Amaral brindava o telespectador com três tipos distintos. Além da retraída secretária Idalina e da elegante matriarca, Neuza, falecida em abril de 2017, também surgia no vídeo como a simplória Zefa, criada na casa de José Eleutério (Kadu Moliterno), protagonista de Paraíso (18h10). A novela de Benedito Ruy Barbosa girava em torno da paixão de Zeca, conhecido como “filho do diabo” – seu pai, Eleutério (Cláudio Corrêa e Castro), criava um “cramulhãozinho” numa garrafa -, e de Maria Santa (Cristina Mullins), uma menina criada para ser freira, a quem a mãe, a beata Mariana (Eloísa Mafalda), atribui milagres. Um dos grandes sucessos da faixa naquele tempo…

Ivani Ribeiro estreou na Globo com Final Feliz (18h55), sua única produção inédita no canal. O enredo partia do golpe financeiro aplicado por César (Roberto Maya), usineiro de açúcar em Pernambuco que simula a própria morte, levando o sócio Alaor (Milton Moraes) e a esposa Maria Luiza (Lilian Lemmertz) à falência. A situação atordoa Débora (Natália do Vale), a mimada filha de César e Maria Luiza, que não aceita a decadência financeira, da mesma forma que, mesmo estando noiva de Guto (Eduardo Lago), não admite perder o ex, Leandro (Adriano Reys), para a prima Mirtô (Priscila Camargo). Isso até pintar o primo Rodrigo (José Wilker), irmão de Mirtô, que a faz tremer de ódio e amor. Também a história de Suzy (Lídia Brondi), a caçula de Maria Luiza que, num equívoco da atrapalhada dona Sinhá (Elza Gomes), passa a acreditar que seu namorado, o veterinário Paulo (Buza Ferraz), está à beira da morte.

O jornalismo local ganhou reforço na faixa noturna (19h45). A Globo substituía o Jornal das Sete por noticiários gerados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Minas Gerais e Distrito Federal. Hoje repórter especial do Jornal Nacional, Tonico Ferreira comandou a primeira edição do SPTV; já Berto Filho (foto) respondia pelo RJTV. Maria Anunciada apresentava o NETV e Neimar Fernandes conduzia o MGTV; o DFTV era de responsabilidade de Carlos Magno. O Jornal Nacional (20h), na sequência, era conduzido por Cid Moreira e Sérgio Chapelin.

A segunda incursão de Manoel Carlos às 20h30 terminou de forma melancólica: o protagonista Jardel Filho, intérprete de Heitor, faleceu em 19 de fevereiro de 1983, vítima de um infarto. Impossibilitado, óbvio, de antever esta fatalidade, Maneco preparava a grande virada de Sol de Verão, aproximando, logo nos primeiros capítulos do ano, o surdo-mudo Abel (Tony Ramos) de seus irmãos biológicos, Romeu (Miguel Falabella) e Miguel (Mário Gomes), com quem disputava a liberal Olívia (Carla Camuratti). Abel era fruto da infidelidade de Sofia (Yara Amaral), que, mesmo casada com Hilário (Carlos Kroeber), se envolveu com Caetano (Gianfrancesco Guarnieri).

Durante as férias de Jô Soares e do Viva o Gordo, a Globo alocou a série Carro Comando (21h30) nas noites de segunda-feira. Produção da ABC e CBS, estrelada por William Shatner – o Capitão Kirk de Jornada nas Estrelas -, aqui como o policial T.J. Hooker, ferrenho combatente do crime. Séries também de terça-feira a quinta-feira: Duro na Queda, Operação Devlin e Caixa Alta. Na sexta-feira, reapresentação de especiais da faixa Sexta Super.

O destaque da noite, contudo, fica por conta de Moinhos de Vento (22h30). A microssérie de cinco capítulos, escrita por Daniel Más e Leilah Assunção, com direção de Walter Avancini, partia da sentença de morte de Valentina (Renée de Vielmond), psicóloga acometida por um câncer, a parte prática do relacionamento que mantém com o sonhador Leandro (Carlos Augusto Strazzer), poeta. Premiada em Barcelona, na categoria série, Moinhos de Vento não fez feio em sua estreia: abocanhou 25,3% de audiência no Rio de Janeiro, quarto lugar dentre os lançamentos do “Tempo Global” – atrás do RJTV (70,6%), Carro Comando (49,3%) e Caso Verdade (47,7%) e à frente das reprises de Plumas & Paetês (25%) e Ciranda de Pedra (6,5%, recorde do TV Mulher, com 3,8%).

Fechando a programação, o Jornal da Globo (23h25) com Belisa Ribeiro, Luciana Villas-Boas e Renato Machado – atuando não só na apresentação, como na apuração e redação de notícias. E o filme Os Pecados de Todos Nós (23h55), de 1967, estrelado por Elizabeth Taylor e Marlon Brando.


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