Você certamente já ouviu falar em Viver a Vida (2009), trama que Manoel Carlos escreveu para o horário mais nobre da Globo – marcada pela morosidade da narrativa e pelo protagonismo insosso de Taís Araújo, a Helena da vez. O que talvez você não saiba é que Viver a Vida também é o título de uma minissérie do autor, escrita em 1984 para a faixa de teledramaturgia da então “novinha” Manchete.

Veterano da nossa televisão – em 1951, estreou como ator na Tupi paulista – Maneco passou por praticamente todos os canais, exercendo as mais diferentes funções, até chegar à Globo, no início do anos 1970. Com a experiência de quem realizou mais de 150 adaptações para teleteatros e afins, o então diretor-geral do Fantástico (1973) se lançou como novelista com Maria-Maria (1978), às 18h.

Quatro anos depois, já às 20h, o autor viu frustrados seus planos de dar um final feliz ao casal Raquel (Irene Ravache) e Heitor (Jardel Filho), dois dos personagens centrais de Sol de Verão. A morte do ator, vítima de um infarto fulminante, precipitou o capítulo final e entristeceu o responsável pelo folhetim, que preferiu se desligar da emissora – deixando, na gaveta, a sinopse de Por Amor , realizada em 1997.

A volta de Manoel Carlos aos roteiros se deu na Manchete, que estreou seu núcleo de teledramaturgia em agosto de 1984 – um ano e dois meses após o lançamento da rede – com Marquesa de Santos. Os relatos do romance clandestino de Dom Pedro I (Gracindo Jr) com Domitila (Maitê Proença), a tal marquesa, deram lugar a Viver a Vida em outubro.

Para a produção, a Manchete foi buscar atores em ascensão na Globo. Cláudia Magno e Louise Cardoso haviam conquistado a audiência de Champagne, encerrada em maio, como Mariah e Anita; já Paulo Castelli saía do protagonista de Voltei Pra Você, finalizada em março, Pedro das Antas. Ainda, a consagrada Yara Amaral, a Nieta de Guerra dos Sexos, concluída em janeiro.

Cláudia Magno, escalada para uma personagem menor, ganhou a protagonista após a saída de Fernanda Torres do elenco. Fernanda também era egressa de uma produção global: Eu Prometo, novela das 22h que Janete Clair lançou no ano anterior e que chegou ao fim em fevereiro, pelas mãos de Glória Perez – após a morte da titular, em novembro de 1983.

Viver a Vida, aliás, bebeu na mesma fonte de Selva de Pedra (1972), uma das obras mais cultuadas de Janete. No caso, o livro Uma Tragédia Americana, de Theodore Dreiser, que inspirou também o longa-metragem Um Lugar ao Sol (1951), de George Stevens, com Elizabeth Taylor e Montgomery Clift; em 2001, Maria Adelaide Amaral se serviu da obra pra desenvolver A Dança da Vida, nunca produzida .

A trama é relativamente simples (e irresistível): Marcelo (Castelli) deixa o interior de Minas Gerais para “fazer a vida” no Rio de Janeiro. Às vésperas de se unir a Maria Eduarda (Magno), concretizando seus planos de escalada social, o rapaz descobre que engravidou a namorada suburbana Marli (Louise).

Enquanto busca uma forma de resolver a situação, Marcelo é pressionado por Germana (Yara) e Marília Saboya (Márcia Rodrigues) – esposa do empresário Fernando (Odilon Wagner), chefe do protagonista – a desposar Eduarda. Eis que Marli morre, no leito de um hospital público, e seu namorado passa a ser perseguido por Geraldo (Diogo Vilela), que deseja puni-lo pela partida da pobretona.

Também no elenco Agnes Fontoura, Antônio Petrin, César Pezzuoli, Élcio Romar, Osmar Prado, Rubens de Falco e Sandra Barsotti. Viver a Vida, que manteve os índices da antecessora Marquesa de Santos, foi reapresentada às 14h15, dentro da série Romance da Tarde, entre setembro e outubro de 1986. Antes, fez carreira internacional: em julho, também de 1986, foi vendida para um canal de Portugal.

Na Manchete, Manoel Carlos ainda escreveu Novo Amor, novela de curta duração que sucedeu outro texto de Wilson Aguiar Filho, estrelado por Gracindo Jr e Maitê Proença: Dona Beija (1986). O autor ainda passou pela Band, antes de voltar à Globo, em 1991, com a bem-sucedida Felicidade, às 18h.


Compartilhar.
Avatar photo

Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.