Ao longo da pandemia causada pelo novo coronavírus, todos os dias surgem notícias sobre cortes e demissões nas emissoras de televisão do Brasil – nem a Rede Globo, sempre sólida, escapou.

Uma situação complicada foi vivida pelos canais há 30 anos, em 1990, após o anúncio do Plano Collor, em 16 de março de 1990, que, entre outras medidas, determinou o confisco das poupanças. A Band foi uma das emissoras que mais sentiu as medidas do governo.

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A emissora demitiu 108 funcionários ligados às áreas técnica e de produção de shows e tirou do ar o humorístico semanal Bronco, com Ronald Golias. “Com essas medidas, a emissora pretende se adaptar à queda de 30% da receita publicitária acarretada pelo Plano Collor”, disse matéria de Sônia Apolinário na Folha de S. Paulo de 18 de abril de 1990.

“A Bandeirantes cortou a produção nas áreas que não eram prioritárias. Dificilmente faremos a linha de show daqui para a frente”, informou o então diretor-geral da rede, Rubens Furtado. “O mercado é que vai determinar novas medidas a serem adotadas”, completou.

A reportagem informou que a Band esperava fechar o mês de abril com uma queda de 20% no volume de anunciantes. “Por enquanto, nossa situação é administrável. Nosso objetivo é dar uma melhor opção de programas, tanto para o público, quanto para os anunciantes. Só dessa forma poderemos evitar a necessidade de mais demissões futuras”, disse o então superintendente comercial, Paulo Saad.

O SBT também fechou as torneiras para evitar prejuízos ainda maiores. Na época, a emissora de Silvio Santos foi a primeira a suspender as produções de programas por causa do Plano Collor. Mais de 200 funcionários foram demitidos e a verba do departamento de jornalismo foi cortada quase pela metade.

“As únicas pessoas que falam sobre o assunto, o superintendente comercial, Rubens Carvalho, e o diretor nacional de vendas, Walter Zagari, não foram encontrados. A programação está desfalcada e não são exibidas muitas atrações anunciadas”, disse reportagem da Folha de S. Paulo de 16 de abril de 1990.

Nem todas as emissoras sentiram a crise

A Rede Globo anunciava que estava se recuperando do baque inicial. O então superintendente comercial Antônio Athayde informou que a emissora reduziu para 10% o volume de queda de anúncios. “A principal estratégia adotada pela emissora foi a de negociar, separadamente, com cada anunciante. Athayde contou que os bancos são os responsáveis por essa luz no fim do túnel”, explicou a matéria.

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“Segundo ele, talvez não seja necessário a Globo implantar uma programação de emergência, com tempo total mais reduzido que o atual, que ainda está sendo planejada. A emissora não precisou alterar seu contrato de transmissão exclusiva de corridas de Fórmula 1, nem alterar o esquema para a cobertura da Copa”, disse o texto. “Nesses momentos de crise, o líder de audiência é sempre beneficiado. As empresas precisam anunciar para vender e não querem correr riscos”, explicou o dirigente.

Na Rede Manchete, o então diretor financeiro David Elkind informou que a emissora não sofreu nenhum reflexo negativo com o plano porque a programação já estava com cotas vendidas anteriormente. “Segundo ele, a novela Pantanal, que estreou com três das suas cinco cotas nacionais vendidas, conseguiu fechar o patrocínio, na semana retrasada”.

Elkind explicou que as revistas do Grupo Bloch, como Manchete, Amiga e Pais e Filhos, registraram uma queda de 30%. “Por enquanto, a estratégia da emissora de não fazer novos investimentos se mantém”, disse a matéria.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor