O dia 28 de outubro de 2001 foi um dos mais surpreendentes e movimentados da história da televisão brasileira. Silvio Santos pegou a Rede Globo (e todo o Brasil) de surpresa e colocou no ar a Casa dos Artistas, primeiro reality show do gênero do Big Brother no País.
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Tudo foi preparado com muito sigilo. A equipe, que começou a trabalhar 30 dias antes da estreia, era liderada pelo diretor Rodrigo Carelli, ex-MTV, e não atuava nas dependências da emissora. O SBT, ao custo de R$ 5 milhões, adaptou uma mansão, no bairro do Morumbi, em São Paulo (SP), colocando 33 câmeras, 35 microfones e montando toda a estrutura para receber os participantes, que foram contratados apenas uma semana antes do programa entrar no ar, com cachês que chegavam a R$ 80 mil.
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No domingo da estreia, desde cedo, o SBT começou a veicular uma chamada misteriosa, onde o locutor anunciava que naquela noite o público iria conhecer a Casa dos Artistas, olhando pelo buraco da fechadura o que os participantes faziam na intimidade do dia a dia. “Não perca o programa mais audacioso da televisão”, dizia.
Após o Domingo Legal, surge Silvio Santos, que chama, um por vez, os participantes Alexandre Frota, Núbia Ólive, Mari Alexandre, Taiguara Nazaré, Bárbara Paz, Leandro Lehart, Alessandra Iscattena, Marcelo Mastronelli, Mateus Carrieri, Patrícia Coelho, Supla e Nana Gouvea.
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Exibida em duas partes, a estreia provocou a primeira derrota do Fantástico desde o início da trajetória do jornalístico, em agosto de 1973. De acordo com matéria de Daniel Castro na Folha de S. Paulo de 30 de outubro de 2001, a ideia de Silvio Santos era vencer outra novidade, o No Limite 3, apresentado por Zeca Camargo, que também começava naquele dia.
“A primeira parte do programa, contra o Fantástico e com os famosos em palco no SBT, venceu no Ibope por 32 a 25 pontos. A segunda parte, já com os artistas na casa, perdeu para o No Limite por 32 a 27. Na média geral de cada programa, o Fantástico perdeu por 31 a 28. E o No Limite ganhou na média de 33 a 22”, destacou a reportagem.
Nas exibições de segunda a sábado, o SBT chegava a alcançar 20 pontos de média.
Guerra entre Globo e SBT
O que se viu nos dias seguintes foi uma verdadeira guerra entre a Globo e o SBT, com vários capítulos. A Globo acusou a emissora de Silvio Santos de fazer um plágio sensacionalista do Big Brother, formato por ela adquirido e que fora criado pela holandesa Endemol em 1999. A mídia divulgou que Silvio Santos chegou a negociar a compra do Big Brother e, segundo a Globo, obteve documentos que mostravam como produzir a atração.
Em comunicado irônico, o SBT disse que era contra o monopólio da Globo. “A indústria brasileira do entretenimento só pode crescer se a TV Globo deixar. Não satisfeito em derrotar o índice de audiência da TV Globo durante todo o domingo, o SBT cometeu a leviandade de, pela primeira vez, derrotar o Fantástico, sem pedir desculpas devidas a esse pilar de moralidade e correção que é a TV Globo”. A emissora também chegou a acusar as Organizações Globo de vender jornais à custa da desgraça de pais e de filhas sequestradas, em uma referência ao fato de a emissora e os jornais do grupo terem noticiado o sequestro da filha de Silvio Santos.
A Globo, em nova resposta, declarou que faltava seriedade no comunicado: “O triste é vermos uma empresa demonstrar publicamente o orgulho de ‘ser esperta’ e de usurpar o direito de terceiros. Resta-nos a esperança de que a nota distribuída em nome da diretoria do SBT, não represente, de fato, como esses diretores pensam e agem”.
Em entrevista na mesma reportagem, Marco Antonio Campos, advogado especializado em radiodifusão, falou sobre o processo, incluindo a acusação de plágio. “Provar que Casa dos Artistas é uma cópia de Big Brother é muito complicado. Existe um limite entre o plágio e a inspiração, mas, no caso de um programa de TV, ele não é matemático e a discussão é muito ampla e polêmica”, declarou.
A Globo e a Endemol entraram na Justiça contra o SBT, chegando a retirar a atração do ar através de uma liminar, logo derrubada. Em 2010, quase dez anos depois da exibição da primeira edição, a Justiça considerou a Casa dos Artistas plágio do Big Brother Brasil.
Febre nacional
A primeira edição da Casa dos Artistas se tornou uma febre nacional, principalmente aos domingos, dia de eliminação. Bárbara Paz foi a vencedora, ganhando o prêmio de R$ 300 mil e proporcionando na final, exibida dia 16 de dezembro de 2001, a maior audiência da história do SBT – média de 47 pontos, com picos de 55, contra 18 da Globo, na Grande São Paulo.
O SBT ainda realizou mais três edições da Casa dos Artistas: a segunda, ainda com certo sucesso, e a terceira, sem grande repercussão, em 2002. Em 2004, foi feita uma versão com anônimos, que concorriam a uma vaga no elenco de uma novela da emissora. Sem sucesso, o SBT aposentou o reality show.
Já a Globo estreou o Big Brother Brasil no dia 29 de janeiro de 2002, pouco mais de um mês após a final da primeira Casa dos Artistas. O programa, apresentado inicialmente por Pedro Bial e Marisa Orth, logo caiu nas graças do público e segue no ar até hoje.