– A Padroeira estreou em 18 de junho de 2001, apenas três meses após a conclusão do trabalho de estreia de Walcyr Carrasco (em novelas) na Globo, O Cravo e a Rosa. O êxito desta produção, após anos de folhetins cambaleantes em audiência, determinou a escalação do autor neste curtíssimo espaço de tempo. Carrasco tomou como base o romance As Minas de Prata, de José de Alencar, que já havia rendido uma produção de mesmo título, escrita por Ivani Ribeiro para Excelsior, em 1966. Após muitos percalços, a novela terminava há exatamente 19 anos, em 22 de fevereiro de 2002.

– Curioso constatar que Paulo Goulart interpretou o “mesmo personagem” nas duas tramas: o pai tirano da mocinha (Regina Duarte / Deborah Secco). Curioso (e triste) constatar também que Walter Avancini dirigiu as duas produções. E se afastou de ambas por motivos de saúde; o diretor faleceu em setembro de 2001, três meses após a estreia de A Padroeira.

– Todos os milagres atribuídos à Nossa Senhora Aparecida, segundo registros da Igreja Católica, foram apresentados na novela; para encaixá-los à trama, Walcyr Carrasco modificou os perfis dos personagens “reais” e datas. Os grilhões do escravo Zacarias (na ficção, Norton Nascimento) estão expostos até hoje na cidade de Aparecida, onde está o Santuário Nacional de Aparecida. Para o dia da Padroeira, 12 de outubro, o autor preparou um capítulo especial, no qual a menina Marcelina (Renata Nascimento) voltava a enxergar, por intervenção da santa.

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– A Igreja Católica, contudo, recebeu a novela com ressalvas. O então reitor do Santuário Nacional de Aparecida, José Ulysses da Silva, disse em nota oficial estar apreensivo com possíveis “distorções da história real e deformações religiosas“, já que a Globo não havia buscado respaldo histórico junto à Basílica. Após a estreia, no entanto, Darci José Nicioli, então administrador do Santuário, declarou à “Folha de S.Paulo” (24/06/01): “Estávamos ansiosos para ver como a Globo iria retratar a história, mas, até agora, a novela superou as nossas expectativas. Pelo menos no que diz respeito ao conteúdo teológico, a novela está muito bem“.

– O autor Walcyr Carrasco comentou, à época, um fax que recebeu do Santuário Nacional de Aparecida, com elogios ao folhetim. Cenas do último capítulo foram gravadas na Basílica, com direito a uma apresentação de Joanna, intérprete de um dos temas de abertura, ‘A Padroeira’ – foram 4 ao todo.

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– Para contextualizar o enredo, a produção contou com o auxílio da historiadora Carla Mucci, encarregada até de substituir eventuais expressões do roteiro que não condiziam com a época retratada; também do mexicano Javier Lambert, que assessorou as cenas de ação. E até uma bruxa, Márcia Frazão, que auxiliou Yoná Magalhães na composição da feiticeira Úrsula.

– A cidade cenográfica, de 12 mil metros quadrados, contava com duas vilas: a de Guaratinguetá e a dos pescadores – com um rio cenográfico de 30 metros. 47 ambientes foram construídos em estúdio, como salas, cozinhas e senzalas. O figurino contava com cerca de 700 peças, confeccionadas em um mês por uma equipe de dez costureiras, bordadeiras e alfaiates; as mulheres dos núcleos mais abastados vestiam cerca de sete vestes (calçola, camisolão, três anáguas, saia e corselete).

– 13 réplicas da imagem de Nossa Senhora Aparecida, da forma como ela foi encontrada nas águas do Rio Paraíba, compunham a cenografia de A Padroeira; dez delas em gesso e três em resina. Todas confeccionadas a partir de uma imagem adquirida em Aparecida, onde encontra-se a estátua original.

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– Tanto apuro, infelizmente, não se converteu em audiência. Apesar do início promissor, acima da meta de 30 pontos, A Padroeira logo caiu para um patamar de cerca de 24 pontos, o mais baixo índice das últimas sete tramas do horário: Estrela-Guia (32), O Cravo e a Rosa (30), Esplendor (30), Força de um Desejo (25), Pecado Capital (28) e Era Uma Vez. (28).

– No mês seguinte à estreia, diante da saída de Walter Avancini e dos índices alarmantes, Roberto Talma assumiu a direção geral de A Padroeira. A trama passou por reformulações, que levantaram os números. Ainda assim, a novela das seis se manteve abaixo de Malhação, que a antecedia. Nos primeiros dias de agosto, o placar apontava 27 para a novela teen a 26.

– Os índices subiram na reta final, em janeiro de 2002 – curiosamente, o período de “esticamento” do folhetim, que ganhou mais capítulos em razão do cancelamento de A Dança da Vida, de Maria Adelaide Amaral, e da demora na produção de Coração de Estudante, a substituta.

– Sob a batuta de Roberto Talma, A Padroeira ganhou mais cor – sim, cenários foram pintados e o figurino repaginado. E também novos personagens, com destaque para a artista mambembe Dorotéia (Susana Vieira) e seu companheiro Faustino (Rodrigo Faro). Também o juiz Honorato (Taumaturgo Ferreira) e sua filha Zoé (Cecília Dassi), padre Gregório (Daniel de Oliveira), Frei Tomé (Felipe Camargo) e o capitão do mato Inocêncio (Jandir Ferrari); mais adiante, Antonieta (Giulia Gam).

– Personagens históricos, como os pescadores que encontraram a imagem de Nossa Senhora Aparecida, deixaram o folhetim – Filipe (Isaac Bardavid) e Domingos (Carlos Gregório). Todo o núcleo da hospedaria de Guaratinguetá foi dispensado (Denise Milfont, Jackson Antunes e Maria Ribeiro, entre outros). Também Zuleika (Ida Gomes), cúmplice da vilã Blanca (Patrícia França).

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– A Padroeira também ganhou cenas de comédia pastelão; algumas estreladas pela antes amarga Imaculada (Elizabeth Savala). Também um forte apelo erótico: o galã Valentim (Luigi Baricelli) abriu os primeiros botões da camisa; Diogo (Murilo Rosa) ficou de “bumbum de fora” para seduzir Izabel (Mariana Ximenes); o pretenso padre Luiz (Gustavo Haddad) foi consumido pela tentação simbolizada por Dorotéia.

– Antes do início das gravações, o elenco sofreu sua primeira baixa: Ney Latorraca saiu do projeto, deixando seu personagem (o poeta Manuel) para Otávio Augusto. Dom Antônio, interpretado por Stênio Garcia, morreu num duelo, permitindo a entrada do ator no elenco de O Clone. De acordo com a sinopse original, Dom Antônio terminaria a trama ao lado de Imaculada, seu grande amor do passado. A sinopse sofreu uma nova alteração com a saída de Yoná Magalhães, deslocada para As Filhas da Mãe. Sua personagem, Úrsula, era a mãe desaparecida de Valentim, que acabou filho de Dorotéia.

– Pela primeira vez em sua história, a Globo cedeu uma novela “sua” para a concorrência. No caso, a TV Aparecida, comemorando os 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida nas águas do Rio Paraíba com a exibição da trama, em dois horários (19h e 22h30), de 17 de abril a 22 de dezembro de 2017. A estação católica respondeu apenas pelo pagamento dos direitos de imagem do elenco e autorais da trilha sonora.

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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.