A fé em Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil – encontrada há 300 anos nas águas do rio Paraíba do Sul – já foi abordada em diversas produções televisivas. Da minissérie O Auto da Compadecida (1999), com Fernanda Montenegro vivendo Maria, até a novela América (2005), então interpretada por Taís Araújo. E, com mais destaque, em A Padroeira (2001) – que a TV Aparecida, num acordo inédito com a Globo, exibe de segunda-feira a sábado, às 19h e 22h30.

Em 1997, aparições da santa foram incluídas numa sinopse da autora Regina Braga, falecida em 1999. Regina estreou na TV colaborando com Doc Comparato e Aguinaldo Silva, respectivamente, nas minisséries O Tempo e o Vento e Tenda dos Milagres, ambas de 1985. No ano seguinte, atualizou em parceria com Eloy Araújo os capítulos de Selva de Pedra, de Janete Clair, para o horário das 20h. Em 1989, a primeira e única trama como titular na Globo: Pacto de Sangue, às 18h.

Na década de 1990, Regina passou por SBT e Manchete até chegar à Band. Então conhecida como “canal do esporte”, a emissora buscava reestabelecer sua ligação com o público feminino através das novelas. Acertou contrato com a produtora independente TV Plus, encarregada de entregar as tramas prontas para exibição. Após a terceira novela, surgiu a oportunidade de Regina Braga voltar a assinar uma produção. A autora apresentou quatro sinopses; dentre elas, Milagres de Amor.

Foi este “novelão mágico” – como Regina definiu em entrevista ao jornal O Globo, em janeiro de 1997 – que despertou o interesse da Band; os textos descartados eram relacionados a uma saga ambientada na região do Rio São Francisco (Carrancas), uma comédia sobre quatro casais e suas relações com os amigos solteiros (Jogos de Cama) e uma adaptação do clássico Fausto, de Johann Wolfgang von Goethe. Venceu o folhetim tradicional: uma história de amor entremeada por intrigas e misticismo.

Ambientada na (fictícia) cidade serrana de Rio das Pedras, Milagres de Amor narrava a obsessão de Sônia por João, noivo de Ana. Inconformada por ter sido preterida, Sônia recorre aos poderes de sua avó, praticante de magia negra, para causar a morte da Ana. O feitiço, contudo, recai sobre João, que deixa a amada grávida. O ódio da vilã atravessa gerações, sendo revivido por Felícia, sua filha adotiva, e Cristina, a herdeira de Ana e João.

Contudo, a sinopse que previa aparições tanto de Nossa Senhora como de seu contraponto – o diabo – disputava a vaga com outra história de paixões arrebatadores, já conhecida do público e com um tom mais ameno. No caso, o remake de Uma Rosa Com Amor, trama que Vicente Sesso escreveu para o horário das 19h da Globo entre 1972 e 1973. O projeto já estava nas gavetas da TV Plus há tempos, mais precisamente desde janeiro de 1995, quando o contrato com a Band foi firmado.

Na ocasião, a produtora havia acabado de contratar Jayme Monjardim, que vinha de dois anos dedicados à publicidade, após ter deixado o comando artístico da Manchete em 1992. Jayme, hoje responsável por Tempo de Amar (Globo, 18h), ficou encarregado dos cuidados com o núcleo de novelas criado pela TV Plus para atender a Band. Tão logo assumiu, já se deparou com o texto de ‘Uma Rosa’, que Sesso gostaria de ver interpretado por Denise Fraga (então no SBT), no papel que fora de Marília Pêra, e João Acaiabe ocupando o posto de Grande Otelo.

A investida, contudo, esbarrou no desejo do então diretor de programação da Band, Rubens Furtado, de inaugurar o horário de novelas da casa, com um texto inédito. Veio daí A Idade da Loba (em julho de 1995), protagonizada por Betty Faria e Ângela Vieira, que marcou o ingresso de Regina Braga na produtora; seguiram-se O Campeão (1996) e Perdidos de Amor, em exibição quando se deu a “batalha” entre a inédita Milagres de Amor e a regravação de Uma Rosa Com Amor.

Nenhum dos dois projetos saiu do papel. Em 1998, a Band ousou reativar seu departamento de teledramaturgia – inativo desde 1983 – sem o auxílio de um parceiro. Regina Braga, homônima da atriz de Por Amor (1997) e A Lei do Amor (2016), nos deixou em novembro de 1999, sem ter voltado aos roteiros. E Uma Rosa Com Amor ganhou remake no SBT, atualizado por Tiago Santiago, em 2010 – com João Acaiabe no papel que Vicente Sesso destinou a ele em 1995.


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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.