Há 14 anos, RedeTV! estreava A Casa é Sua com Clodovil; relembre o programa e suas polêmicas

Dentre as muitas atrações já exibidas nas tardes da TV brasileira, uma, que “reestreou” há exatos 14 anos, merece destaque: A Casa é Sua, com Clodovil Hernandes, da RedeTV!. Cercado de polêmicas, o programa praticamente encerrou, de forma melancólica, a trajetória do apresentador e costureiro nos estúdios das grandes emissoras do país.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O título já era conhecido quando Clodovil o assumiu: a princípio, gerado numa pomposa casa cenográfica, sob o comando de Valéria Monteiro; depois, com Sônia Abrão (de início, acompanhada por Castrinho e Meire Nogueira) e Leonor Corrêa, que consagraram a linha “leitura de jornais e revistas”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Nas mãos de Clô – que fez fama no TV Mulher (Globo, 1980) e passou por Manchete, CNT, Band e Gazeta – o ‘Casa’ ganhou charme e sofisticação. No ar das 12h40 às 15h40, o vespertino tinha início com o quadro ‘De frente com o espelho’, no qual o apresentador tecia comentários sobre sua vida e a de conhecidos, propondo sempre uma reflexão sobre o tema apresentado.

Com o auxílio do chef Luiz, o âncora preparava ou supervisionava a execução do almoço servido aos convidados do dia; na estreia, a atriz Luciana Vendramini e o estilista Alexandre Herchcovitch. Havia espaço também para dicas de moda, com o desenho de croquis, e para a confecção de arranjos florais, oferecidos sempre a uma personalidade. É óbvio que as notícias de celebridades, consagradas pelo programa e então debatidas em toda a concorrência, seguiram no “espelho” do A Casa é Sua.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

LEIA TAMBÉM!

Clodovil pretendia levar uma copeira que havia trabalhado em sua casa para comentar os fuxicos com ele; como o apresentador não foi bem-sucedido na empreitada, a produção recrutou a atriz Vida Vlatt, que vivia uma divertida doméstica no teatro, Luzinete – rebatizada como Ofrásia, por Clô. Era ela quem se encarregava de chamar a novela venezuelana Gata Selvagem, que sucedia o ‘Casa’, aposta da RedeTV! para tomar a audiência que mudava de canal após o término de Anjo Mau (1997), no Vale a Pena Ver de Novo (Globo).

Desafetos e desavenças

Com médias em torno de 3 pontos, o A Casa é Sua caminhou muito bem até março de 2004, quando Agnaldo Timóteo foi ao palco do programa questionar uma ação de fiscais da prefeitura, que o proibiram de vender CDs nas ruas do centro de São Paulo. “Tem que vender disco na rua (…) Ele vai fazer o quê? Ele vai fazer o que todo crioulo faz no Brasil? Vai virar ladrão, bandido ou o quê?”, disse Clodovil na ocasião.

O comentário rendeu uma representação da vereadora Claudete Alves por crime de racismo. Questionado a respeito deste ofício, em entrevista à Folha de São Paulo, Clô se referiu a Claudete como “macaca de tailleur”. A vereadora chegou a liderar uma manifestação contra ele, na porta da RedeTV!, por conta do comentário.

O apresentador, contudo, acabou saindo ileso com a rejeição da queixa-crime apresentada por Claudete; o juiz considerou que ele não a conhecia, sequer imaginava a cor de sua pele, quando desferiu tal impropério.

Na mesma tarde em que tratou Agnaldo Timóteo por “crioulo”, Clodovil ofendeu a então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. “Botar um cantor na rua, passar por um vexame, enquanto ela (Marta) está sentada numa sala refrigerada, a inútil, a desocupada. Esta senhora tem know-how para ser prefeita daqui?”, afirmou, criticando ainda o fato de Marta manter o sobrenome do ex-marido, Eduardo Suplicy, então senador.

Em seu pedido de perdão, dias depois, repetiu todas as ofensas. E ainda rememorou a confecção de um vestido para a irmã de Marta, Tetê Smith de Vasconcellos, pela qual não cobrou um centavo, utilizado por esta no Oscar 1981, em que concorreu na categoria “melhor documentário”.

Quanto mais ferina a língua de Clodovil, mais a RedeTV! faturava com o programa. Em maio de 2004, a emissora precisou deixar anunciantes em uma espécie de “lista de espera”, pois não havia mais espaço para merchandisings na atração. Clô se expunha cada vez mais: chegou a ancorar o programa direto do hospital, após se submeter a uma cirurgia plástica; discutia com convidados e distribuía alfinetadas – chegou a tachar o presente de aniversário que recebeu do canal de “breguinha”. O A Casa é Sua então passou a ser gravado.

Na mesma época, o Pânico, então na RedeTV!, se pôs a perseguir Clodovil; Rodrigo Scarpa (Vesgo) e Wellington Muniz, o Ceará (Silvio Santos), queriam fazê-lo calçar as “sandálias da humildade”. Inconvenientes, chegaram a barrar o estilista nas dependências da emissora. O quadro garantia audiência nos domingos e aborrecimentos ao longo de toda a semana. Irritado, Clodovil desabafou a respeito das abordagens no ‘De frente para o espelho’.

O ápice da crise com o canal – que não barrou o achincalhe do Pânico, então seu programa mais bem-sucedido – se deu em janeiro de 2005. Durante a gravação de um programa, Clodovil chamou Luisa Mell, colega de casa e então namorada de um dos sócios da emissora, Amilcare Dallevo Jr, de “Rita Cadillac do futuro”. Terminou demitido por fax.

Vida Vlatt assumiu o A Casa é Sua, ao lado de Joana Matushita – que lia e-mails e atualizava Clô a respeito das notícias do momento. Em poucos meses, passaram pelo comando do vespertino Ronaldo Ésper, Liliane Ventura, Monique Evans e Marisa Carnicelli. Isto até o retorno de Sônia Abrão ao canal e a substituição do ‘A Casa’ pelo A Tarde é Sua.

A Casa é Sua foi o penúltimo projeto de Clodovil Hernandes na TV – ele ainda apresentou o Por Excelência, na TV JB, em 2007. Em 2006, já lutando contra um câncer de próstata, elegeu-se deputado federal com a então terceira maior votação do estado de São Paulo. Foi o primeiro homossexual assumido a ser eleito para tal posto. Apresentou, durante sua legislatura, 55 propostas.

Foi ele quem propôs o projeto 580/07, para regulamentar a união civil de pessoas do mesmo sexo. Entre outras ações, sugeriu trabalhos ligados a infraestrutura, como o funcionamento de portos; uma lei que obrigaria o Estado a dar tratamento médico e psicológico imediato às vítimas de violência sexual; e a inclusão entre os exames que devem ser oferecidos ao trabalhador pelo empregador o exame de próstata para homens a partir de 40 anos.

Clodovil também indicou uma emenda constitucional para diminuir o número de deputados federais de 513 para 250, que previa inclusive a realização de um plebiscito para que os brasileiros se manifestassem sobre a adoção da medida.


Autor(a):

Sair da versão mobile