Há 10 anos, em junho de 2011, José Luiz Datena deixava a Band e assinava um contrato de cinco anos com a Record. Mas a nova passagem do jornalista pelo canal de Edir Macedo duraria muito pouco e acarretaria prejuízos milionários.

Após passar pela Record entre 1996 e 2003, Datena se fixou na Band, onde comandava os programas SP Acontece e Brasil Urgente. O novo contrato foi assinado em 16 de junho de 2011 e a estreia ocorreu logo em seguida, no dia 20.

A estratégia deu certo. No primeiro dia do novo Cidade Alerta, Datena dobrou a audiência da Record no horário, marcando 11 pontos, contra 21 da Globo, seis do SBT e apenas dois da Band, que colocou Luciano Faccioli no Brasil Urgente.

No entanto, a alegria durou pouco. No início de junho, a mídia começou que Datena estava insatisfeito e com saudades da Band. “Na rede de Edir Macedo, o apresentador é apenas mais um, ao passo que Band era tratado como rei”, destacou Cristina Padiglione na Folha de S.Paulo de 16 de julho daquele ano.

A bomba estourou de vez no dia 29 de julho, quando Datena comandou o Cidade Alerta pela última vez. “Até um dia”, se despediu ao final da atração que comandou por apenas 43 dias.

Para oficializar a saída do jornalista, a Record divulgou um comunicado para a imprensa:

“A Rede Record de Televisão vem a público informar que, diante das acusações que vem recebendo do apresentador José Luiz Datena, é preciso esclarecer:

1 – Durante o período em que o jornalista cumpriu seu contrato com a Record, Datena apresentava um programa, ao vivo, de pelo menos duas horas de duração, de segunda a sexta, em rede nacional. Em nenhum momento, ele ou o seu programa sofreram qualquer tipo de censura;

2 – Como é de conhecimento público, e está documentado nos arquivos da Record e de dezenas de veículos de comunicação, Datena concedeu várias entrevistas nos 43 dias em que esteve aqui. Em algumas, descumpriu as normas de comunicação previstas em seu contrato e comuns a qualquer colaborador da Rede Record. Em uma delas, concedida ao jornal Folha de São Paulo, no dia 23 de julho, chegou a dizer que poderia voltar para outra emissora;

3 – O vice-presidente de Jornalismo do Grupo Record, Douglas Tavolaro, superior imediato de Datena, conta como foi surpreendido pela decisão do apresentador: ‘No dia em que abandonou a prestação de serviço, em 29 de julho, um portal de internet publicou, minutos antes de o telejornal ir ao ar, que Datena deixaria a Record. Mesmo assim, nossa emissora permitiu que ele apresentasse o programa, ao vivo, por mais de duas horas, sem nenhum tipo de interferência. Prática comum de um grupo que respeita a liberdade de expressão e produz jornalismo independente’;

4 – José Luiz Datena fez vários apelos para dirigentes da Record para que permitissem o seu retorno. ‘Foram várias reuniões até que decidimos o melhor acordo para as duas partes”, recorda Douglas Tavolaro. Depois de meses de negociação, o apresentador assinou espontaneamente o contrato para deixar a Rede Bandeirantes e retornar à Record. Junto com o contrato de cinco anos, Datena assinou um documento em que confessava ter uma dívida pelo rompimento de um contrato anterior com a Record, em 2003. Tal débito somente seria quitado com o cumprimento do novo acordo’;

5 – É inadmissível que o apresentador use estratégias de difamação contra a Record para justificar manobras que pretendem protelar ou influenciar decisões jurídicas sobre o caso. A Record deposita confiança absoluta no judiciário, que vai analisar o zigue-zague profissional do jornalista à luz dos documentos assinados por ambas as partes”.

Datena agiu rapidamente e acertou seu retorno para a Band. Em 8 de agosto de 2011, já estava apresentando novamente o Brasil Urgente, onde está até os dias de hoje.

O jornalista acabou tendo que pagar R$ 20 milhões para a Record por quebrar o contrato. “Paguei tudo que ganhei na vida para essa multa lá na Record. Foi bom que ajudei a construir o Templo de Salomão”, disparou Datena neste ano no Melhor da Tarde, de Cátia Fonseca.

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Thell de Castro

Apaixonado por televisão desde a infância, Thell de Castro é jornalista, criador e diretor do TV História, que entrou no ar em 2012. Especialista em história da TV, já prestou consultoria para diversas emissoras e escreveu o livro Dicionário da Televisão Brasileira, lançado em 2015 Leia todos os textos do autor