Há 10 anos, constantes mudanças do SBT deixaram caminho livre para Record se tornar vice-líder

Em 2004, a Record iniciou uma ousada campanha de reestruturação que foi divulgada como “a caminho da liderança”. A emissora fez grandes contratações, lançou programas como Show do Tom, Domingo Espetacular e Tudo a Ver, e investiu em novelas, tirando vários nomes do elenco da Globo.

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SILVIO SANTOS E EDIR MACEDO (DIVULGAÇÃO SBT/RECORD)

Na época, de acordo com dados do Ibope, a média diária da Globo (das 7h à meia-noite) era de 21,7 pontos; o SBT vinha em segundo com 8,4 pontos e a Record tinha a terceira colocação, com 4,2 pontos – lembrando que cada ponto equivalia a 65 mil domicílios na Grande São Paulo.

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Portanto, antes de chegar na Globo, a Record tinha que passar o SBT. E a tarefa não seria fácil.

O SBT começou a sentir a Record no encalço principalmente em 2006. Em abril desse ano, Silvio Santos resolveu mudar toda a grade de programação no horário nobre e “causou pânico na emissora”, de acordo com o jornalista Ricardo Feltrin, do UOL.

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Entre as novidades, que foram amplamente divulgadas pela imprensa na época, o SBT Brasil, com Ana Paula Padrão, seria adiantado para às 18h30, Carlos Nascimento apresentaria o Jornal do SBT às 22h, o Programa do Ratinho sairia do ar e Hermano Henning também teria um jornal. “Menos de 72 horas depois de decidir mudar toda a grade de programação do SBT, Silvio Santos teria voltado atrás. Mais uma vez”, informou Feltrin. “Ninguém sabe o que motivou a nova reviravolta. Aparentemente as mudanças, se é que haverá mudanças, só ocorrerão no final do mês”, completou.

Em agosto de 2006, o mesmo jornalista informava que Silvio Santos estaria preparando a grade de programação do SBT para 2007, com investimento superior a R$ 100 milhões, para evitar perder o segundo lugar para a Record, que estava cada vez mais perto.

A principal ideia era investir em filmes de sucesso que gerariam grande audiência, como a trilogia O Senhor dos Anéis, A Noiva Cadáver, as sequências de Harry Potter, A Fantástica Fábrica de Chocolate, Poseidon e Firewall. Novos reality shows seriam comprados e o investimento em jornalismo, ativado após a contratação de Ana Paula Padrão em 2005, diminuiria, já que o patrão “estaria desiludido novamente com o Ibope e o faturamento dos novos telejornais”.

ANA PAULA PADRÃO NO SBT BRASIL (DIVULGAÇÃO/SBT)

Na época, a participação da audiência na Grande São Paulo era a seguinte: a Globo tinha 52,5%, o SBT tinha 19,8%, a Record tinha 14% e a Band tinha 5,2%.

Em dezembro de 2006, Silvio Santos simplesmente fechou a assessoria de imprensa do SBT, demitindo os jornalistas, pois estaria irritado com notas e críticas que a mídia publicou sobre a emissora e a instável programação. Durante vários meses, em 2007, o SBT não divulgou sua grade de programação na imprensa, não respondia as matérias dos veículos e tinha em seu site oficial o Jornal do SBT, que era uma página intitulada órgão oficial, onde eram publicadas as notícias da casa.

A situação de crise do SBT em 2007 foi retratada por outra matéria da Folha, desta vez no dia 2 de fevereiro daquele ano, quando anunciou que Silvio Santos comandou pessoalmente uma “tensa reunião” para anunciar um novo sistema de vendas de cotas de publicidade para os programas do canal.

“Durante o anúncio, Silvio Santos não admitiu ser interrompido e chegou a repreender diretamente quem tentava falar. O empresário afirmou, por fim, que, caso o novo sistema não funcione, ele se virá obrigado a mudar “toda a equipe”, segundo apurou a Folha Online”, informou o texto. “Nos últimos meses, o SBT tem passado por um período turbulento. Seu proprietário também. Mudanças inesperadas de horário, programas que aparecem e desaparecem da grade, demissões repentinas e broncas pelos corredores viraram rotina”. Daniela Beyruti, filha mais velha de Silvio Santos com Iris Abravanel, foi nomeada diretora artística da emissora. O cargo estava vago desde setembro de 2006 com a saída do jornalista Ricardo Valladares.

A Record se torna vice-líder

Em fevereiro de 2007, pela primeira vez a Record se tornou vice-líder na TV aberta na Grande São Paulo. O fato era inédito desde que o Ibope começou a medir a audiência em tempo real.

“No mês de janeiro já havia acontecido um empate entre Record e SBT no segundo lugar, ambas com sete pontos de média. Já no mês de fevereiro, o SBT ficou com seis pontos e a Record manteve sete pontos”, informou, com exclusividade, matéria da Folha de S.Paulo de 1º de março de 2007. No Jornal da Record desse mesmo dia, Celso Freitas anunciou a novidade, classificada como “momento histórico”, além de repercutir a opinião da imprensa.

CELSO FREITAS NO JORNAL DA RECORD (DIVULGAÇÃO RECORD)

Na época, a novela Vidas Opostas fazia sucesso e chegou a ultrapassar a Globo em duas ocasiões, inclusive. “O SBT não comentou o caso com a reportagem da Folha Online, já que sua assessoria de imprensa foi desativada no ano passado. A ultrapassagem foi festejada na Record”, completou o texto.

Em março em 2007, a Record repetiu a dose e se manteve como vice-líder na audiência da Grande São Paulo. “Na comparação do primeiro trimestre deste ano com igual período de 2006, a Record cresceu 18% em audiência, enquanto o SBT caiu 17%”, destacou a Folha no dia 2 de abril daquele ano. “Na média das dez capitais do país, a Record continua em 3º lugar”, ressaltava a matéria.

Ainda em março de 2007, o SBT anunciou a “arrancada da vitória”, que prometia fazer a concorrência “tremer de medo”. Muitas alterações foram feitas na grade da emissora. A principal delas foi a volta de Silvio Santos para os domingos, após três anos, com os programas Tentação, 1º Campeonato Brasileiro de Dança, Topa ou Não Topa e Rei Majestade.

Também estrearam as novelas Maria Esperança, com Bárbara Paz, Mundo de Feras e Destilando Amor, o jornalístico SBT Realidade, com Ana Paula Padrão, os programas Você é o Jurado, com Ratinho, e Curtindo com Reais, com Celso Portiolli, e o novo formato do Charme, no início da madrugada. O SBT também reviveu o Viva a Noite aos sábados, com apresentação da cantora Gilmelândia. A atração não obteve sucesso e ficou no ar até agosto do mesmo ano.

BÁRBARA PAZ EM MARIA ESPERANÇA (DIVULGAÇÃO SBT)

Em dezembro de 2008, Ricardo Feltrin divulgou em sua coluna no UOL um estudo exclusivo sobre a audiência daquela época, mostrando que “entre 7h e meia-noite, no Brasil, um em cada três telespectadores deixou de assistir à emissora de Silvio Santos desde 2001”. “No horário nobre, o mais importante para o caixa de todas as emissoras, o ibope do SBT no Brasil caiu quase que pela metade desde 2001, de 13,3 pontos de média para 7,4 (queda de 44%). E olhem que, apesar disso, 2008 ainda foi um ano melhorzinho do que 2007, quando o SBT teve 6,9 pontos de média”, informou. Já a Record subiu de 4,7 pontos de média em 2001 para 10,5 pontos em 2008, um crescimento de 123%.

Desde então, ocorreram várias reviravoltas – e a guerra continua. O SBT voltou à vice-liderança em alguns períodos, como em junho de 2012, quando obteve 5,5 na média das 24 horas, contra 5 da Record, em agosto de 2015 e em julho de 2016. A Record, há algum tempo, deixou o foco da liderança de lado e sua disputa direta é com o canal de Silvio Santos.

No mês passado, a Record conquistou o segundo lugar isolado na média 24 horas no Painel Nacional de Televisão, segundo pesquisa do Kantar Ibope Media. A emissora marcou 5,6 pontos de média, 8% a mais que o SBT, que caiu para 5,2 pontos. Com o tradicional arredondamento dos índices, a Record garantiu vantagem de 1 ponto em relação à concorrente: 6 a 5.

De qualquer forma, o que aconteceu em 2007, pela competitividade das emissoras, entrou para a história da televisão brasileira.


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