Há 28 anos, no dia 26 de dezembro de 1992, a Manchete exibia o último Milk Shake. O programa catapultou a carreira da promissora Angélica, uma loirinha graciosa que despontou no vídeo apresentando programas infantis na emissora de Adolpho Bloch e que, em 1988 – no auge do sucesso de seu primeiro LP e do hit ‘Vou de Táxi’ -, ganhou o ‘Milk’, destinado aos jovens. O fim da atração marcou também a saída de Angélica do canal que a lançou. Vamos relembrar os bastidores do programa!

Jayme Monjardim era o diretor artístico da Manchete na época do lançamento do Milk Shake. Marcelo Zambelli respondia pela direção geral. Nas palavras de Jayme, o programa era feito “de uma porção de som, pitadas de humor e algumas doses de entrevistas“. Já Marcelo buscava levar os convidados a “coisas que eles não fazem nem em shows“, como Pepeu Gomes tocando Jimmy Hendrix e Rosanah – no auge de ‘O Amor e o Poder’, do refrão “como uma deusa” – imitando Janis Joplin.

O programa estreou no dia 6 de agosto de 1988, sábado, às 16h. O horário estava “órfão” do Cassino do Chacrinha, da Globo, devido ao falecimento do apresentador Abelardo Barbosa em 30 de junho. A emissora não escondeu a intenção de angariar a audiência que a concorrente havia perdido com a morte do Velho Guerreiro.

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De fato, o Milk Shake conseguiu avançar contra o “exército inimigo” na guerra dos números. Logo em suas primeiras semanas, se fixou na vice-liderança, com médias em torno de 11 pontos (no Rio de Janeiro), atrás apenas da novela Olho Por Olho (1988).

O cenário remetia à anarquia do ‘Cassino’: carros e motocicletas da década de 1960 dividiam espaço com elementos de histórias em quadrinhos e letreiros em neon.

Na estreia, Angélica recebeu o Kid Abelha (ainda no tempo de ‘e os Abóboras Selvagens’), Dominó, Egotrip, Kátia, Nico Rezende, Zero, Barão Vermelho (então na trilha de Vale Tudo, com ‘Pense Dance’), Eduardo Dussek e Paralamas do Sucesso (ambos na seleção de Bebê a Bordo, com ‘Amor e Bombas’ e ‘O Beco’).

Esta mistura de gêneros rendeu elogios de Caetano Veloso. Em entrevista à revista IstoÉ, o cantor elegeu o Milk Shake como seu programa musical preferido, porque tinha “de tudo”. A atração recebeu desde de Caê até duplas sertanejas, passando pelo BR Rock, indo ao Palhaço Carequinha.

Em 1989, Angélica chegou a oferecer espaço aos candidatos à Presidência da República – a primeira eleição direta após anos de regime militar. Não encontramos registros das participações de políticos na atração.

Além dos números musicais, havia também espaço para a dramaturgia. Angélica treinava seu lado atriz em esquetes relacionadas ao tema de cada episódio. Todos estes eram temáticos: Branca de Neve e os Sete Anões, cinema mudo, espaço intergaláctico e “material girl”.

Como assistente de palco, a anã Lurdinha Adelaide, de 1,39 metro de altura, atriz do Tablado (de Maria Clara Machado), musa inspiradora da música ‘Adelaide, minha anã paraguaia’, da banda Os Inimigos do Rei.

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Em 1992, o Grupo IBF assumiu as dívidas e boa parte das ações da Manchete. Em meio às reformulações propostas pelos então novos sócios dos Bloch, estava a transferência do núcleo de produção do Milk Shake para São Paulo. Os programas temáticos foram abortados; a ideia inicial era gravar tudo em uma casa noturna. O novo projeto incluía também a participação de radialistas de todo o país, comentando as músicas mais tocadas da semana.

Angélica, contudo, bateu o pé e manteve personagens já célebres da “porção” dramaturgia do ‘Milk’, como uma comentarista econômica e uma motorista de táxi, além de Sissi, “prima” invejosa da apresentadora.

Em dezembro de 1992, a loirinha resolveu deixar a Manchete / IBF. Modificaram então a proposta inicial: tanto o Milk Shake quanto o Clube da Criança seriam extintos. O primeiro, substituído por um dominical, Angélica Total; o segundo, pelo TV Angélica. Como o nome já diz, o ‘TV’ pretendia brincar com as atrações televisivas. Dirigido por Jorge Queiroz, recém-saído do também extinto Xou da Xuxa (1986), o programa contaria com sátiras dos apresentadores Clodovil e Otávio Mesquita, da jornalista Leila Richers e da atriz Jussara Freire.

Os dois projetos foram suspensos em razão da transferência de Angélica para o SBT. A apresentadora, que já havia recebido um convite de Silvio Santos em 1988, também estava em negociações com a Globo. A emissora-líder, contudo, pretendia mantê-la apenas em um musical e aproveitá-la nas novelas. Com diversos contratos publicitários que miravam o público infantil, Angélica não poderia abrir mão deste nicho. Por isto, aceitou a oferta do canal da Anhanguera.

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Apaixonado por novelas desde que Ruth (Gloria Pires) assumiu o lugar de Raquel (também Gloria) na segunda versão de Mulheres de Areia. E escrevendo sobre desde quando Thales (Armando Babaioff) assumiu o amor por Julinho (André Arteche) no remake de Tititi. Passei pelo blog Agora é Que São Eles, pelo site do Canal VIVA e pelo portal RD1. Agora, volto a colaborar com o TV História.