Antes de uma novela ir ao ar, há um grande trabalho de pré-produção por trás. Nessa etapa, é possível que muita coisa mude até que se chegue ao resultado final, que é o que vemos na televisão.

Por isso, hoje iremos conhecer um pouco do projeto inicial de Fina Estampa, que estreava há exatamente 10 anos, em 22 de agosto de 2011.

Título provisório

Em meados de 2010, antes de se chamar Fina Estampa, o autor Aguinaldo Silva já anunciava aos quatro ventos sua próxima novela das 21h: Marido de Aluguel. A trama era um resultado da primeira Master Class que o autor promoveu, um curso gratuito de roteiristas de TV.

A história da heroína iria reter ao título provisório. A ideia era contar a saga de uma mulher que “se vestia de homem” para executar alguns trabalhos mais pesados, que, na visão da equipe, caberiam apenas aos homens. Trocar pneus, fiação, encanação e o conserto de eletrodomésticos estariam entre essas funções. “Por conta do seu ofício, ela ganha o apelido de Pereirão”, contou o autor.

Curiosamente, o título “Marido de Aluguel” foi emprestado ao remake hispânico da novela brasileira. Na Telemundo, Fina Estampa virou “Marido en Alquiler” (Marido de Aluguel) em 2013. A adaptação contou com as atrizes Sonya Smith e Maritza Rodríguez nos papeis de Griselda e Tereza Cristina, além de Juan Soler como René (conhecido no Brasil pelas novelas A Outra e A Feia mais Bela).

Elenco inicial

Para viver a protagonista da trama, Aguinaldo Silva nunca escondeu que queria que Griselda fosse vivida por outra atriz. “Se os deuses me ajudarem, será vivida por uma deusa chamada Glória Pires”, escreveu ele em seu blog na época. Acontece que os deuses não quiseram e, Glória Pires preferiu atuar em Insensato Coração, de Gilberto Braga. Extra-oficialmente, comentou-se que Glória, ao ler a sinopse de Fina Estampa, teria avaliado a personagem maniqueísta e pouco desafiadora para seu currículo.

Para a vilã da trama, a escalação também foi mudada. Inicialmente, Aguinaldo havia revelado que queria Letícia Spiller como Tereza Cristina. Na época, Letícia acabou engravidando e não pôde participar da trama. É aí que surge Lilia Cabral. Cotada para assumir a vaga deixada por Letícia Spiller como a vilã, Lília acabou sendo movida ao posto de mocinha da história. Posteriormente, Christiane Torloni virou a malvada da novela.

A história central

A saga de Griselda e sua rival Tereza Cristina também sofreu muitas alterações. Em uma das primeiras sinopses, Griselda iria dirigir uma kombi e conheceria Tereza Cristina logo no primeiro capítulo ao colidir com o carro novo da megera. A vilã iria humilhar Griselda naquele momento.

O mais interessante ainda estaria por vir. Comenta-se que, inicialmente, Tereza Cristina iria perder tudo para sua inimiga: fortuna, marido, filha e a sua mansão. A vilã iria falir financeiramente, enquanto Griselda ficaria rica. A essa altura, as duas trocariam de lugar. Tereza Cristina até passaria a morar na casa de Griselda.

A história inicial abordaria essa dubiedade, e a própria abertura da novela sugere isso. Griselda, já rica, iria se tornar uma madame em busca de infernizar a vida de Tereza Cristina. Ou seja, a meta seria sugerir um questionamento ao público: “Você seria capaz de se tornar aquilo que mais odeia?”.

É claro que essa versão não foi ao ar, e o que vimos e estamos vendo, é uma novela bem definida: vilã é vilã, mocinha é mocinha. É dessa forma que o público gosta, e a produção não correria o risco do público odiar Griselda. Pelo contrário, ela foi tão amada que fez de sua novela, a maior audiência da década das 21h da televisão.

E aí, o que acharam dessa versão inicial?

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Alexandre Pequeno é jornalista e apaixonado pelas novelas brasileiras desde a infância. A paixão foi tanta que seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi sobre a novela Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos. Em 2018, lançou o canal Novelando, onde aborda, de forma bem humorada, sobre as tramas que marcaram a história da TV. Já publicou contos e crônicas em antologias nacionais Leia todos os textos do autor