Reprisada atualmente no Vale a Pena Ver de Novo, O Rei do Gado (1996) se transformou num dos grandes sucessos da história da teledramaturgia da emissora. A trama, estrelada por Antônio Fagundes e Patrícia Pillar, marcou época, mas nem todos os artistas que estiveram no elenco gostaram da experiência.

Gloria Pires aceitou o convite para atuar na trama diante da promessa de um papel de grande destaque. No fim das contas, a personagem dela na novela de Benedito Ruy Barbosa acabou não acontecendo; a atriz manifestou sua frustração publicamente.

Na trama das 20h, Gloria respondeu por Marieta, figura misteriosa que chega à propriedade de Geremias Berdinazzi (Raul Cortez) alegando ser sua sobrinha – filha de Giácomo (Manoel Boucinhas), irmão do fazendeiro que morreu num acidente de caminhão de boias-frias.

Patricia Pillar

A intrusa desperta a desconfiança dos empregados, especialmente a de Judite (Walderez de Barros), que trabalha na casa há anos. No decorrer da narrativa, Rafaela envolve-se com Marcos (Fábio Assunção), filho de Bruno Mezenga (Antonio Fagundes), também parente – embora inimigo mortal – de Geremias.

Um capítulo após o outro…

Gloria Pires

Marieta, na verdade, atendia por Rafaela. Ela foi infiltrada na fazenda por conta de um plano arquitetado pelo advogado Fausto (Jairo Mattos), interessado em tomar a herança que Geremias reservou para a sobrinha desaparecida. Ao longo da narrativa, descobriu-se que a verdadeira Marieta era Luana (Patrícia Pillar), que perdeu a memória no acidente com o caminhão.

Após Olegário (Rogério Márcico), administrador dos negócios de Berdinazzi, descobrir a verdade, Fausto dá fim à vida dele. Só que Otávio (Guilherme Fontes), filho de Olegário, surge para concluir as investigações. Ele se apaixona pela falsária, que, no fim das contas, não era tão falsa assim: Rafaela possuía ligações com Bruno (Marcello Antony), irmão de Geremias que morreu durante a 2ª Guerra Mundial.

Falta de comunicação

O Rei do Gado

No primeiro momento, Gloria Pires demonstrou desconhecer as verdades intenções de Marieta / Rafaela. Ela preferiu não classificar a personagem como boa ou má, em entrevista ao jornal O Globo, em 28 de julho de 1996:

“Fui chamada para fazer a Luana, mas ela tinha um quê regional muito forte e meu último trabalho tinha sido na minissérie Memorial de Maria Moura (1994). Aí, surgiu a Marieta, que tem um lado bom e outro mal, como todo ser humano”.

Com o desenrolar de O Rei do Gado, a trama envolvendo Marieta / Rafaela perdeu força… A atriz afirmou, ao Estado de S. Paulo, em 18 de agosto de 1996, que O Rei do Gado era uma das novelas mais difíceis que já havia feito, indicando o descompasso entre seu trabalho, o do autor e a recepção do público:

“As pessoas pensam que é charme, que não quero falar, mas não sei mesmo. Acho que nem o Benedito sabe. Parece que a personagem sobre a qual o autor escreve é uma, a que estou fazendo é outra e a que o público está vendo é uma terceira. Muita gente diz que estou má na novela. Não vejo nada de malvado na Marieta”.

Desabafo em biografia

O Rei do Gado

Anos depois, Gloria voltou a falar sobre O Rei do Gado em sua biografia, 40 Anos de Gloria, escrita por Eduardo Nassife e Fábio Fabrício Fabretti.

“Eu aceitei confiando plenamente em Benedito, porque tínhamos trabalhado em Cabocla (1979). Houve algum problema, porque ele não desenvolveu a personagem como havia falado. É horrível quando você espera algo que não vem”, lamentou.

“Arregacei as mangas e levei a missão até o fim, dignamente. Foi o que me restou fazer”, completou.

No desfecho da trama, Marieta / Rafaela terminou seus dias numa propriedade doada por Geremias, em consideração à avó da moça, italiana que se uniu a Bruno durante a guerra. E também para manter a identidade do assassino de Fausto em sigilo. Foi o fazendeiro quem deu fim ao cúmplice da quase fase sobrinha, vingando a morte de Olegário.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor