Após assassinato da filha, Glória Perez tomou atitude para não enlouquecer

Daniella Perez e Gloria Perez

Como é amplamente conhecido, a novela De Corpo e Alma entrou para a história da Globo ao ficar marcada por um crime trágico.

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Na noite do dia 28 de dezembro de 1992, Daniella Perez, então com 22 anos, filha da autora Glória Perez, foi assassinada por Guilherme de Pádua e pela mulher dele, Paula Thomaz.

Atriz promissora, Daniella vivia a personagem Yasmin na história, que se envolvia com Bira, interpretado por Págua. Os dois atraíram a jovem para uma emboscada e ela foi assassinada com 18 punhaladas.

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O caso comoveu o Brasil e gerou uma campanha liderada pela autora que alterou a legislação penal.

Autora continuou seu trabalho

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Após uma breve paralisação para se recuperar do choque inicial, Glória Perez continuou escrevendo De Corpo e Alma até o final, causando, inclusive, surpresa no público, que achava que ela se afastaria do trabalho.

Em depoimento ao livro A Seguir, Cenas do Próximo Capítulo, Glória disse que fez isso para não enlouquecer.

“Nessa época, lembrei muito de um professor de história da faculdade, chamado Manuel Maurício de Albuquerque. De uma história que ele contou um dia para nós, dizendo que, se em algum momento de vida estivéssemos em situação semelhante, nos lembrássemos dela”, relatou.

“Ele foi preso e torturado pela ditadura. Ficou trancado numa cela mínima, sem janelas. Ele não sabia sequer se era dia ou noite. Então, ele tinha uma caixa de fósforos. E sabe o que ele fazia com ela? Contava os palitos para fora e, em seguida, para dentro. E assim por diante. Essa foi a forma que ele encontrou para não enlouquecer”, continuou.

“Eu me lembrei do conselho quando me senti como ele, prisioneira de uma dor insuportável. E fiz da novela a minha caixa de fósforos. Cada capítulo que tinha de entregar era um palito. É como se eu contasse os palitos para dentro e para fora da caixa. Se eu não tivesse mantido esse vínculo com o real, teria enlouquecido, e talvez o casal de criminosos que trucidou minha filha estivesse solto”, concluiu.

“Foi muito difícil”

Apesar da coragem, no entanto, a autora declarou, em outro trecho do depoimento, que não foi fácil.

“Esse é o momento mais difícil e doloroso da minha vida. (…) Foi muito difícil continuar o trabalho. Fiz isso mecanicamente, sem emprestar mais nenhuma emoção ao que estava fazendo. E fiz porque compreendi, de imediato, que não teria o direito de viver de luto, de mergulhar na dor. (…) Mãe de filho assassinado, no Brasil, não tem direito a luto. Ou ela se mexe ou acaba ficando por isso mesmo”, concluiu.

Para dar continuidade à trama, exibida até 5 de março de 1993, Glória inventou uma viagem de estudos para Yasmin. Já o personagem Bira simplesmente deixou de existir.

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