Há cinco anos, a portadora de nanismo Juliana Caldas foi escalada para a novela O Outro Lado do Paraíso, de Walcyr Carrasco. A atriz viveu Estela, filha da vilã Sophia (Marieta Severo), que a maltratava o tempo todo, usando de apelidos jocosos.
A personagem, lamentavelmente, não foi além disso e do desejo de se unir a Amaro (Pedro Carvalho, enquanto dispensava a atenção e o cuidado de Juvenal (Anderson di Rizzi). Em breve, porém, o horário nobre terá outra atriz com nanismo em destaque.
Estrela da Viradouro, escola de samba do Rio de Janeiro, a passista Viviane de Assis, que é portadora de nanismo, participará de Travessia, próxima novela das nove da Globo. Conhecida como a “pequena notável do samba”, Viviane foi convidada pela própria autora Gloria Perez para a produção.
A escalação foi celebrada por Viviane, que deve integrar o núcleo que se passa em Vila Isabel, através de seu perfil no Instagram:
“Amores, a felicidade me consome. Acabei de receber o convite da Gloria para fazer uma participação na novela”.
Estela
Ao escalar Juliana Caldas para viver Estela, o autor Walcyr Carrasco e o diretor Mauro Mendonça Filho tinham a intenção de desmistificar o nanismo para o público da novela. A ideia era colocar luz sobre o assunto, retratando as dificuldades e os preconceitos sofridos pelos portadores do transtorno.
No entanto, a trajetória de Estela dividiu opiniões. A personagem despertou a comoção do público por ser constantemente maltratada por Sophia, que rejeitava a filha justamente por ser portadora de nanismo. No início de O Outro Lado do Paraíso, Estela vivia na Europa, onde estudava, e Sophia tinha horror à ideia de que ela retornasse ao Brasil.
Quando Estela retorna, mãe e filha vivem embates terríveis. Sophia faz de tudo para esconder a filha, enquanto os irmãos Gael (Sergio Guizé) e Lívia (Grazi Massafera) buscavam apoiá-la. Além disso, a trama explorava algumas dificuldades comuns aos portadores de nanismo, como a importância de uma casa adaptada.
A participação de Juliana Caldas em O Outro Lado do Paraíso gerou boas expectativas, já que é raro ver um portador de nanismo na TV fora de programas humorísticos ou retratado de maneira caricatural. A ideia de falar de forma natural sobre o assunto era boa.
Decepção
No entanto, o desenrolar da trama de Estela foi problemático. A personagem, que chegou ao Brasil após muito estudar e cheia de projetos, foi reduzida a uma mocinha chorosa, dividida entre dois amores, Juvenal (Anderson di Rizzi) e Amaro (Pedro Carvalho). Isso gerou várias críticas à novela.
“A dramaturgia de Estela foi um desperdício. Sua personagem boba, ingênua, tinha uma única amiga, a empregada doméstica que só pensa em arrumar um boy pra pobre coitada. Olhava aquilo e pensava: por quê? Como uma garota que passou tantos anos estudando fora continua tão frágil, apática? É sério que o drama da vida dela é arrumar um homem?”, questionou o jornalista Pedro Henrique França, portador de nanismo.
“Tanta coisa ali a se explorar. Tantos contornos de uma vida que invariavelmente te joga na cara a sua condição fora dos padrões. Uma pena. Walcyr Carrasco poderia, no mínimo, ter aprendido com sua antecessora, Gloria Perez, que costuma tratar com razoável sensibilidade e profundidade os temas delicados. Me causa estranheza visto que a própria atriz que a interpreta poderia servir de fonte para seus escritores. Não consigo entender”, apontou o jornalista, em texto publicado no site Socialista Morena.
Quando estreia Travessia?
Escrita por Gloria Perez e dirigida por Mauro Mendonça Filho, Travessia estreia em 17 de outubro, substituindo Pantanal na Globo. Lucy Alves, Romulo Estrela, Chay Suede e Giovanna Antonelli vivem os personagens principais.