Para levantar audiência, Globo volta a apostar em gêmeos separados
06/10/2021 às 10h29
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Um Lugar ao Sol, próxima novela inédita da Globo, servirá um prato requentado: gêmeos separados que não se conhecem, um rico, outro pobre. A trama é assinada por Lícia Manzo, com direção artística de Maurício Farias, protagonizada por Cauã Reymond, com estreia para o dia 8 de novembro.
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A história, já vimos: os irmãos gêmeos Christofer e Christian foram separados na tenra infância e criados longe um do outro em condições sociais diferentes. Christofer foi adotado por uma família rica e rebatizado de Renato. Christian foi deixado em um abrigo para crianças carentes. O destino os une quando, já adultos, se conhecem por acaso.
Christian, ao presenciar a morte de Renato (que estava se passando por ele com a sua conivência), decide assumir o seu lugar. Enquanto os amigos de Christian choram por acharem que ele morreu, o falso Renato é recebido na família rica do irmão.
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Só neste plot dá para lembrar das tramas de umas 10 novelas!
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As referências de gêmeos que não se conhecem, ou de sósias, em que um vive a vida do outro, ou toma o lugar do outro, vêm da literatura, como o romance O Duplo, de Dostoievski, e o clássico infantojuvenil O Príncipe e o Mendigo, de Mark Twain – que, por sua vez, virou novela na TV Record, na década de 1970, com Kadu Moliterno nos papeis centrais.
O cinema também se cansou de beber dessa fonte, em filmes como Uma Vida Roubada, de Curtis Bernhardt (1946), O Terceiro Homem, de Carol Reed (1949), O Segundo Rosto, de John Frankenheimer (1966), Kagemusha, de Akira Kurosawa (1980), A Outra Face, de John Woo (1997) e muitos outros. Em novelas, Janete Clair e Ivani Ribeiro foram as que mais usaram o recurso do duplo, da falsa identidade, dos sósias ou gêmeos.
Já em sua primeira novela diária, O Acusador (TV Tupi do Rio, 1964), Janete usou o gêmeo que toma a vida do irmão, personagens de Jardel Filho. Em Selva de Pedra (1972), Simone (Regina Duarte), que todos pensam que morreu, assume a identidade de uma falecida irmã, Rosana. Em O Semideus, Hugo Leonardo (Tarcísio Meira) é dado como morto e, em seu lugar, seus inimigos colocam um sósia, Raul, que toma seus negócios e sua família.
Um dos primeiros sucessos de Ivani Ribeiro, Alma Cigana (TV Tupi, 1964), apresentava a trama das gêmeas que não se conheciam, vividas por Ana Rosa: a esfuziante cigana Esmeralda e o seu oposto, a retraída freira Estela. A novela ganhou um remake em 1971, intitulado A Selvagem, com a mesma atriz revivendo as gêmeas. Em Vidas Cruzadas (Tupi, 1965) o marginal Henrique (Carlos Zara) assume a identidade de Bruno, seu sósia, morto em um acidente, e vai viver na família dele.
Mulheres de Areia, um dos maiores sucessos de Ivani, é baseada no filme Uma Vida Roubada (de 1946). As gêmeas Ruth e Raquel (Eva Wilma e Gloria Pires, no remake) sofrem um acidente em alto mar. Enquanto Raquel desaparece, Ruth é confundida com a irmã, mas não desfaz a confusão e passa-se por Raquel perante todos. Porém, Raquel não morreu e planeja seu retorno e uma vingança contra a irmã que lhe “roubou” a vida. No cinema, as gêmeas foram vividas por Bette Davis.
Um dos títulos estrangeiros de maior sucesso no Brasil, e que explora o filão do sósias que trocam de lugar, é A Usurpadora, produzida em 1998 pela Televisa, do México, exibida no Brasil, pela primeira vez, em 1999, no SBT, estrelada por Gabriela Spanic, como Paola Bracho e Paulina. A trama é um remake da novela venezuelana La Usurpadora, de 1972. Na Globo, a novela Cara e Coroa, de Antônio Calmon (1995-1996), com Christiane Torloni, tem a trama que mais se assemelha à história de A Usurpadora.
Manoel Carlos também usou tramas de gêmeos que não se conheciam, de temperamentos e condições sociais opostas: Nívea Maria, como a sofisticada Maria Dusá e a simplória Mariazinha, na novela Maria Maria (1978); e Tony Ramos, como o expansivo e pobre Quinzinho e o tímido e rico João Vitor, em Baila Comigo (1981). Atualmente, acompanhamos no Viva Paraíso Tropical (de 2007), novela de Gilberto Braga em que Alessandra Negrini é a boazinha Paula e a malvada Taís.
Em 1987, Aguinaldo Silva apresentou a novela O Outro, em que o rico Paulo Della Santa (Francisco Cuoco) conhece seu sósia, Denizard, um sujeito do subúrbio, e acontece uma explosão. Paulo desaparece enquanto Denizard, desmemoriado, é confundido com ele e levado para sua família. Em 2004, na novela Da Cor do Pecado, de João Emanuel Carneiro, os sósias Paco e Apolo (Reynaldo Gianecchini) não se conheciam. Um desaparece e o outro assume o seu lugar. Mais tarde descobrem-se gêmeos.
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Às vezes, não precisa nem serem gêmeos ou sósias. A novela A Intrusa (Tupi, 1967) apresentava a trama de Helen (Dina Sfat), que se infiltra em uma família milionária usando identidade de outra mulher, Patrícia, trama replicada em Plumas e Paetês (Globo, 1980-1981), com Elizabeth Savalla; Vida Roubada (SBT, 1984), com Suzy Camacho; Pérola Negra (SBT, 1998-1999), com Patricia de Sabrit; Esplendor (Globo, 2000), com Letícia Spiller; e outras.
Também a novela Hospital (Tupi, 1971) em que, após um acidente de carro, o Dr. Maurício (Stênio Garcia) assume a identidade do Dr. Fernando (Jacques Lagoa); e a novela Metamorphoses (Record, 2004), na qual Circe (Lígia Cortez) faz uma cirurgia para mudar de rosto e assume a identidade da irmã falecida, Lia (Vanessa Lóes).
Outros gêmeos: Hélio Souto como Luciano e Mário em Os Irmãos Corsos (Tupi, 1966), novela baseada no romance de Alexandre Dumas; José Lewgoy como Ambrósio e Ambrásio em Feijão Maravilha (Globo, 1979); Ítala Nandi como as trigêmeas Joana, Bárbara e Nanette em Direito de Amar (Globo, 1987); Pedro Malta como Eduardo e Joãozinho, e Ricardo Pereira como Marco Antônio e Marco Aurélio em Prova de Amor (Record, 2005); e Mateus Solano como Miguel e Jorge em Viver a Vida (2009-2010).
Citei acima novelas das décadas de 1960 a 2000 nas mais variadas combinações de tramas envolvendo trocas de identidades entre gêmeos, sósias ou pessoas diferentes, ou apenas gêmeos de personalidades opostas que não se conheciam.
Um Lugar Sol traz um clichê irresistível do folhetim, como pede toda boa novela, fazendo valer a máxima “a história é a mesma, mas a forma de contar é diferente”. Aguardemos boas catarses na trama de Lícia Manzo. A qualidade do texto, pelo menos, já está garantida.