Em 1992, Silvio de Abreu retornava ao horário das sete com a novela Deus Nos Acuda. Protagonizada por Edson Celulari, Claudia Raia, Francisco Cuoco, Glória Menezes e contando com a inusitada presença da comediante Dercy Gonçalves, o folhetim marcou o retorno de personagens de outra trama de grande sucesso do escritor: Dona Armênia e seus filhos Gerson, Geraldo e Gino, de Rainha da Sucata (1990).

Aracy Balabanian

Para quem não se recorda, no folhetim do horário nobre, Dona Armênia (Aracy Balabanian) era proprietária de uma escola de paraquedismo e também tinha um terreno na Avenida Paulista, onde foi construído um prédio comercial. Nele, ficava o escritório e uma casa de show de Maria do Carmo, a sucateira vivida por Regina Duarte.

Armênia vivia ameaçando Maria do Carmo, dizendo que iria implodir e jogar o prédio “na chon”, bordão de sucesso e que caiu na boca do povo. Mais divertida ainda era a relação com seus filhos Geraldo (Marcello Novaes), Gerson (Gerson Brenner) e Gino (Jandir Ferrari), aos quais chamava de “minhas filhinhas”.

Rainha da Sucata

No decorrer da história, os três rapazes se interessam pela francesinha Ingrid (Andreia Beltrão) e, no fim, ela consegue ficar com todos eles, formando um quadrisal polêmico para a época e partindo para a Europa, deixando Dona Armênia com saudades do trio. A matriarca, após vender suas ações, vai morar com o quitandeiro Moreiras (Flávio Migliaccio).

Dona Armênia falida e filho travestido

Claudio Raia e Jorge Dória em Deus nos Acuda

Na trama das sete, Dona Armênia é uma viúva, dona de uma pensão localizada no porto, onde moram Maria Escandalosa (Claudia Raia) e seu pai, Tomás Euclides (Jorge Dória). Contudo, seus filhos não estão presentes nos primeiros capítulos.

Aos poucos, eles reaparecem. O primeiro é Gerson, que chega da África, ostentando um enorme rastafári. Geraldo estava em Amsterdã, onde acabou aderindo à onda punk.

Por último, Gino ressurge com um visual feminino e agora se chama Gina, deixando Armênia e seus irmãos espantados.

Deus nos Acuda

A intenção de Silvio de Abreu, a princípio, foi confundir o público, como ele disse em entrevista à Folha de S.Paulo, em fevereiro de 1993.

“Ele passou uma temporada em Londres e acabou adotando um guarda-roupa feminino”, enfatizou. “Sempre baseei a relação entre dona Armênia e os filhos na ambiguidade sexual. Em Rainha da Sucata, os rapazes falavam grosso, arrumavam confusão na rua, mas bastava a mãe ordenar que baixavam a cabeça e iam cuidar de tarefas femininas, como lavar a louça, tirar o pó. Agora, resolvi explicitar de vez a tal ambiguidade. E esse foi o jeito que encontrei para questionar valores morais sem ofender ninguém”, completou o autor.

Entretanto, o retorno de Gino travestido de mulher criou situações inusitadas, pois o malandro Wagner, interpretado por Paulo César Grande, se apaixona pelo personagem, sem imaginar que, na realidade, se trata de um homem.

“O destino de Gino, revelado ser homossexual de uma novela para outra, foi modificado pela direção da emissora, que impediu que ele assumisse seu romance com Wagner”, explicou nosso colunista Nilson Xavier em seu site Teledramaturgia.

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Final inusitado

Paulo Cesar Grande

Perto do fim da trama, é revelado o motivo de Gino estar sob a identidade de Gina. Ele e seus irmãos estavam sendo ameaçados pelos bandidos do misterioso Leão (Marieta Severo).

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No final, os três conseguem escapar com vida e salvar os dólares que estavam escondidos nos buracos dos tijolos da parede do prédio de Dona Armênia.

Mesmo com a intervenção da direção da Globo, Gino e Walter tiveram um final feliz, mas não mostrado diretamente na telinha. Ao mostrar sua verdadeira identidade para o rapaz, este diz que já sabia que Gino era homem e resolve levá-lo para uma viagem para a Grécia.

Aliás, foi este o mesmo final do filme Quanto Mais Quente Melhor (1959), dirigido por Billy Wilder e protagonizado por Marilyn Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon.

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Sebastião Uellington Pereira é apaixonado por novelas, trilhas sonoras e livros. Criador do Mofista, pesquisa sobre assuntos ligados à TV, musicas e comportamento do passado, numa busca incessante de deixar viva a memória cultural do nosso país. Escreve para o TV História desde 2020 Leia todos os textos do autor