Em 2013, quando o telespectador via Amor à Vida, com certeza surgia um questionamento em sua cabeça: “o que tem a ver o título da trama com a história apresentada?”.

Afinal, a novela expõe preconceito, vingança, dramas pesados, além de apresentar muitos personagens com desvio de caráter. E o conjunto em questão não combina com o nome do folhetim. São peças que não se encaixam. Entretanto, esse tipo de problema é mais comum do que se imagina na teledramaturgia.

No caso da trama de Walcyr Carrasco, o nome mais apropriado seria Em Nome do Pai, que chegou a ser cogitado inicialmente, mas preterido pouco depois. O título tinha consistência, afinal, Félix (Mateus Solano) foi capaz de praticar inúmeras monstruosidades por causa da rejeição de sofria de César (Antônio Fagundes). Porém, optaram por Amor à Vida, que faz sentido apenas em relação ao momento em que Bruno (Malvino Salvador) acha Paulinha (Klara Castanho) na caçamba e salva sua vida.

E várias novelas têm optado por essa estratégia, onde o título da obra só serve para explicar uma rápida situação, ignorando todo o contexto da história. Entre alguns exemplos mais recentes, há o fenômeno Avenida Brasil, de João Emanuel Carneiro. O título nada tinha a ver com a história de vingança de Nina (Débora Falabella) e, muito menos, com o Divino Futebol Clube. O nome apenas fazia uma referência ao atropelamento de Genésio (Tony Ramos), que morreu quando Tufão (Murilo Benício) o atingiu com seu carro em uma das principais avenidas do Rio de Janeiro.

Flor do Caribe também pode ser incluída na lista. A história era sobre a obsessão de um psicopata (Alberto – Igor Rickli) por uma mulher (Ester – Grazzi Massafera), que amava um rapaz (Cassiano – Henri Castelli) e era correspondida.

Havia também todo um drama em cima do nazismo, que servia de pano de fundo. Os personagens viviam no Rio Grande do Norte e a única referência ao título foi exibida no início da produção, quando o mocinho caiu nas mãos da Máfia Caribenha —- inclusive, após se libertar e chegar ao Brasil, traz uma flor de lá para sua amada, fazendo jus, então, ao nome da obra. Porém, no contexto geral, o folhetim das seis nunca combinou com sua denominação.

Sangue Bom, excelente obra de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, é outro bom exemplo. A trama das sete abordava o mundo midiático e o conflito da protagonista (Amora – Sophie Charlotte) entre o “ser” e o “ter”. Essa situação servia para movimentar todos os núcleos e apresentava a temática de uma forma dramática e bem-humorada ao mesmo tempo.

O título pouco tinha a ver com a história, a não ser pela bondade excessiva de Bento (Marco Pigossi) ou então pela real identidade de Amora, que no fundo sempre teve um ‘sangue bom’. Entretanto, partindo dessa premissa, o nome serviria para qualquer novela, uma vez que personagens bons sempre fazem parte de uma história, assim como os maus. Mas em se tratando do conjunto da obra, o nome não combinou com a trama.

Além dos exemplos citados, há inúmeros outros, vide Salve Jorge (que nada tinha a ver com tráfico de pessoas ou com qualquer núcleo apresentado), Paraíso Tropical, Cobras & Lagartos, Pé na Jaca, A Lua me Disse, Fina Estampa, Haja Coração, entre tantas outras.

Até mesmo Malhação pode ser incluída, afinal, a novelinha adolescente deixou de ter uma academia como cenário principal há anos.

Antigamente, havia uma maior preocupação com o título das obras, para que o nome fizesse jus ao contexto da novela. Claro que exceções também estavam presentes nos anos 70/80/90, assim como há casos relativamente recentes, onde o nome ‘casou’ perfeitamente com o contexto geral. Celebridade, A Vida da Gente, A Favorita, Lado a Lado, Passione, Chocolate com Pimenta, Duas Caras, Alma Gêmea, Senhora do Destino, Laços de Família, Mulheres Apaixonadas, enfim, são vários exemplos onde título e história combinam.

Mas os casos recentes refletem bem o momento atual da teledramaturgia. Os autores estão deixando o título de suas produções de lado e se preocupando exclusivamente com o conteúdo. Claro que a história merece ser uma das principais preocupações para quem a escreve, entretanto, o nome da mesma não pode ser apenas ‘algo decorativo’.

Resta torcer para que os responsáveis reflitam um pouco mais na hora de nomear suas obras e optem por nomes que se encaixem com o que é mostrado ao telespectador. A ficção agradece.

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Sérgio Santos é apaixonado por TV e está sempre de olho nos detalhes. Escreve para o TV História desde 2017 Leia todos os textos do autor