Escrita por Rosane Svartman, que assinou os sucessos Totalmente Demais (2016) e Bom Sucesso (2019), Vai na Fé será a próxima novela das sete da Globo. A trama conta a história de Solange, uma jovem vendedora de marmitas que é evangélica, e encontrará o sucesso ao se tornar uma estrela da música.

América

Com a nova trama, a emissora quer abordar a religião cristã sem estereótipos, como Creusa, de América (foto acima), de olho justamente na audiência evangélica. Amauri Soares, diretor da TV Globo e Afiliadas, afirmou num evento de comunicação que o Brasil caminha para se tornar um país majoritariamente evangélico. Ou seja, a emissora está de olho nesta fatia do público.

Vai na Fé, neste contexto, representa uma mudança na representatividade evangélica dentro da dramaturgia da casa. Afinal, será a primeira vez que uma novela da emissora terá uma protagonista cristã sem uma conotação negativa ou caricata.

Decadência

Edson Celulari

A Globo já teve uma produção protagonizada por um evangélico antes de Vai na Fé. No entanto, em Decadência, o tom era bem diferente. A minissérie de Dias Gomes trazia uma trama de denúncia da exploração da fé.

O protagonista era Mariel (Edson Celulari), um órfão que se torna milionário após fundar sua própria igreja, o Templo da Divina Chama. Ele é movido por um sentimento de vingança, já que, no passado, ele era motorista da família Tavares Branco e foi expulso da casa ao ser acusado de estuprar a caçula do clã, Carla (Adriana Esteves).

Um dos principais conflitos da obra é justamente a paixão que une Mariel e Carla, já que ele pretende enriquecer cada vez mais através de sua igreja, enquanto ela não aceita a maneira como ele age.

Estereótipos

Duas Caras

A dramaturgia da Globo já foi acusada, em outras ocasiões, de abordar a religião evangélica de maneira caricata e estereotipada, o que rendeu muitas críticas deste público à emissora.

Um caso clássico é a da personagem Creuza (Juliana Paes). A jovem aparecia sempre com roupas comportadas e uma Bíblia a tiracolo, mas gostava de seduzir os homens que cruzavam o seu caminho.

Outra personagem que rendeu críticas foi Edivânia (Susana Ribeiro), de Duas Caras (2007). Também retratada de modo caricatural, a religiosa liderava uma frente de combate ao trisal formado por Dália (Leona Cavalli), Heraldo (Alexandre Slaviero) e Bernardinho (Thiago Mendonça).

Amor à Vida (2013) tentou trazer evangélicos sob um viés positivo, mas também não escapou da caricatura. Maristela (Vera Mancini) era evangélica e passou boa parte da trama entregando Bíblias aos demais personagens da trama de Walcyr Carrasco, como se ela não tivesse outros interesses ou motivações.

Mocinha evangélica

Babilônia

No entanto, uma novela da Globo já teve uma mocinha evangélica. Laís, vivida por Luísa Arraes em Babilônia (2015) não era a protagonista da novela, mas cumpria o papel de heroína romântica jovem do enredo de Gilberto Braga, João Ximenes Braga e Ricardo Linhares.

Laís era de uma família de evangélicos, mas seu pai Aderbal Pimenta (Marcos Palmeira) e sua avó, Consuelo(Arlete Salles) não eram lá muito religiosos de fato. Na verdade, Aderbal era um político mau-caráter que utilizava a religião para arrebatar votos e se tornar cada vez mais poderoso.

O grande conflito da jovem acontece quando ela se apaixona por Rafael (Chay Suede), um jovem criado por duas mulheres, Tereza (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg). Seu pai e sua avó eram contra o relacionamento, já que o rapaz não tinha religião e era criado como filho por um casal de mulheres.

Gilberto Braga

No entanto, justamente por conta do tom crítico do núcleo (e também por Babilônia ter sido um fiasco de audiência), o fato de Laís ser evangélica acabou sendo ofuscado no enredo. Mas Gilberto Braga (1945 – 2021) ressaltou isso ao analisar a trama para o jornal O Globo, em maio de 2015.

Ao ser perguntado sobre o que deu certo na novela, o autor respondeu:

“A família do Aderbal Pimenta (Marcos Palmeira), o casal jovem (Laís e Rafael), e a história das lésbicas. Não sei se estão notando, mas a Laís é a primeira heroína evangélica das novelas. Agora ela vai começar a se aproximar da Estela e gradualmente vai aceitar as lésbicas”, afirmou.

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André Santana é jornalista, escritor e produtor cultural. Cresceu acompanhado da “babá eletrônica” e transformou a paixão pela TV em profissão a partir de 2005, quando criou o blog Tele-Visão. Desde então, vem escrevendo sobre televisão em diversas publicações especializadas. É autor do livro “Tele-Visão: A Televisão Brasileira em 10 Anos”, publicado pela E. B. Ações Culturais e Clube de Autores. Leia todos os textos do autor